Palco de seguidos acidentes, roubos e tempo perdido em congestionamentos durante muitos anos, o antes criticado trecho da Serra do Cafezal, na BR-116, em SP, hoje oferece fluidez no tráfego, tranquilidade e segurança para os motoristas de caminhão

Por Daniela Giopato

A duplicação de um dos trechos mais perigosos da rodovia Régis Bittencourt, conhecido como Serra do Cafezal (BR-116), entre os municípios de Juquitiba e Miracatu/SP, entregue aos usuários no final de 2017, tem se destacado como uma das obras rodoviárias de grande impacto na vida dos motoristas, sobretudo os que dirigem caminhão e passam pelo trecho com maior frequência.

Parte do principal eixo logístico entre os Estados de São Paulo e Paraná, e também rota de entrada e saída de mercadorias para o Brasil e o Mercosul, essa estrada já foi palco de muitos acidentes graves e fatais, congestionamentos de longa duração e assaltos a motoristas, sem contar o tempo que se perdia antes, na pista simples de mão dupla, para subir ou descer o trecho de serra.

Antes de duplicar dsc 6207

Para se ter ideia do quanto a estrada era perigosa, dados da Polícia Rodoviária Federal mostram que entre 2010 e 2017aconteceram 3.994 acidentes (quase 50 por mês), somente entre os kms 336 e 366 (último trecho duplicado). Pelos registros, em 2010 aconteceu o maior número ocorrências, com 502 registros no total. Já em 2018, um ano após a conclusão da obra, houve redução acima de 40% dos acidentes e de 50% no número de vítimas.

Trata-se de um trecho com grande movimento, por onde diariamente passam em média de 127 mil veículos dos quais 60% são caminhões. Carreteiros que utilizam a estrada garantem que a entrega da obra trouxe mais agilidade, segurança e economia para o transporte. A descida da serra, por exemplo, que antes era realizada em cerca de três horas, passou a ser feita em até 25 minutos, com o tráfego em condições normais.

O carreteiro Valdecir Batista Real, 52 anos de idade e 25 de profissão, de São Paulo/SP, que está habituado a fazer a rota Sudeste e Sul do País, reforça que antes das obras, era uma grande dificuldade descer a serra. Lembrou que a pista estava em péssimas condições, com muitos buracos. “O tráfego era lento por conta de diversos imprevistos; esse trecho era palco de muitos acidentes que atrasavam a viagem, sem contar o risco, principalmente quando chovia”, comentou.

Valdecir P
Valdecir Real lembrou que não havia pontos de parada ou de serviços no trecho de Serra

Batista Real recorda ainda da ausência de pontos de paradas e de serviços e que hoje a situação é bem diferente. “A estrada é de boa qualidade, desde a saída de São Paulo até o final da Serra, na região de Miracatu e depois até Curitiba”, elogiou. O carreteiro destacou também que hoje se sente mais seguro, pois conta com apoio ao longo de toda rodovia, como guinchos, Polícia Rodoviária e SAUs. “Todas essas mudanças reduziram em 50% o tempo de viagem nesse trecho, concluiu.

Para o autônomo Moisés Tiago Zorzin, de São Marcos/RS, a rodovia melhorou “1000%” depois das obras de duplicação. Ele afirmou que agora o tráfego na Serra do Cafezal flui normalmente, tanto na subida quanto na descida, e não atrasa mais as viagens. “Quantas vezes puxei cinco horas de fila e hoje demoro no máximo 30 minutos para percorrer a serra em condições normais. O ganho de tempo nas viagens foi muito positivo”, afirmou. Porém, Zorzin faz uma ressalva e diz que nos trechos localizados antes e depois da Serra “haja coluna para aguentar os pulos do caminhão. A condição do asfalto provoca muita trepidação do caminhão e isso precisa melhorar”, sugeriu.

Moisés Tiago Zorzin Carreteiro
Moisés Tiago disse que por várias vezes demorou até cinco horas para cruzar o trecho de serra

Há 11 anos na estrada, Everton Pereira de Barros, 32 de idade, de Santo André/SP, também reconhece as melhorias na Serra depois da duplicação. Garante que acabou o trânsito que se formava sempre quando acontecia um acidente. Ele disse que já chegou a ficar parado por cinco horas por causa de acidente, mas reconhece que em condições normais não levava menos de duas horas para percorrer o trecho. Lembra que quando a pista no trecho era simples de mão dupla o afunilamento provocava muita fila. Avalia que houve melhora de 80% e observa que ainda existem problema em alguns pontos na pavimentação da pista de subida da serra.

Veterano com mais de 30 anos de estradas, Pedro Muller também fala de dificuldades e inseguranças enfrentadas na Serra do Cafezal antes das obras, quando praticamente não havia sinalização e a pista era estreita e com muitos buracos, conforme disse. “Era muito demorado descer ou subir a serra, pois não tinha muitas opções de ultrapassagem e qualquer acidente deixava tudo travado”, recorda.

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Everton Pereira de Barros
Everton Pereira de Barros comentou que quando o trecho tinha pista simples com duas mãos de direção, era comum o afunilamento de veículos e filas longas

Müller acrescentou que além do perigo, perda de tempo e das dificuldades de vencer o trecho, outro problema era o desgaste do caminhão, pois tinha de ficar o tempo todo com pé no freio. “Depois da reforma melhorou muito e facilitou o dia a dia de quem utiliza a rodovia, porque agora duplicada a pista é ampla, bem sinalizada e sem buracos. Não perdemos mais tempo em viagem e facilita nosso trabalho”, comemorou.

O carreteiro Marco Antônio, ainda não utilizou o trecho após a duplicação. Mas, lembra que entre 2001 e 2014 era normal levar até quatro horas para subir o trecho. “Na época que eu utilizava a estrada estavam começando a fazer a terceira pista. Era uma tragédia. Eu rezava para não passar por ali, principalmente de madrugada pois parava tudo”, comentou acrescentando que havia muitos caminhões parados. Lembrou que de um acidente em que uma ambulância parou na pista e foi atropelada por um bitrem. “O acidente foi grave. Morreram mais de dez pessoas e eu fiquei 13 horas parado”, lembrou.

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A estrada era perigosa, sem opções de pontos de ultrapassagens e também desgastava muito o freio do caminhão, lembrou Pedro Müller

Diz que durante os 13 anos que passou pela Serra do Cafezal, vivenciou várias situações de risco. Recorda que a comunicação com sua esposa e empresa era uma dificuldade, pois havia falta de sinal em vários pontos da rodovia e essa situação facilitava a ação dos ladrões de carga. “Neste período, a insegurança era muito grande e o jeito era rezar para não acontecer nada de grave”, finalizou.

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INVESTIMENTO DE 1,3 BILHÃO DE REAIS

A duplicação do trecho incluiu a entrega de quatro túneis, 39 pontes e viadutos com sistema de automação e segurança, totalizando investimento de R$ 1,3 bilhão. A partir de julho de 2018 foram liberados os novos retornos: para São Paulo, no km 351 e para Curitiba no km 352 em Miracatu/SP.

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A concessionária responsável pelo trecho, a Arteris Régis Bittencourt – também realizou obras de recuperação na pista antiga – trecho de 10 quilômetros que ficaram em mão única – de pavimentação do trecho entre o km 349 ao km 354 (pista sul – descida) e entre o km 363 ao km 357 (pista norte – subida) e implementou Área de Escape, no km 353 da pista sul (sentido Curitiba) da BR-116/SP.