Até o início de abril, a única certeza entre cientistas e pessoas pensantes é que quanto maior for o índice de isolamento social (leia-se quarentena) mais rapidamente será possível voltar às atividades cotidianas. No Brasil, infelizmente, este índice está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (pede-se 70%, mas a média nacional de isolamento raramente excede 50%).

Foton Luiz Carlos Mendonça de Barros

“Não há motivos para pânico, pois nem o mundo e nem o capitalismo vão acabar agora”. Essa é a visão do economista ao resumir pelo lado da economia o momento atual. Mendonça acredita que deverão acontecer mudanças importantes como resultado desta crise causada pelo Coronavírus.

“Mendonção”, como é tratado entre amigos, com 78 anos de idade, conhece bem crises, China, além de pandemias, altos e baixos da economia, meandros políticos e, nos últimos dez anos, o setor de caminhões. Já foi presidente do BNDES, diretor do Banco Central e Ministro das Comunicações. Em 2010 ele trouxe a marca Foton para o Brasil, na mesma época que chegaram Sinotruk e Schacman (ambas já bateram em retirada, a Foton segue ativa).

FOTONFamília Minitruck e CitytruckDe acordo com o economista, a ação pronta dos Bancos Centrais, em todo o mundo, conseguiu acomodar a primeira onda de pânico vinda do mercado financeiro. “Nos últimos dias, inclusive, vem ocorrendo uma recuperação importante dos preços das ações em Wall Street – mais de 20% em relação ao piso de março – e uma postura mais racional no dia a dia das negociações”, acrescentou.

Ele alerta que a maior preocupação agora é como será a reação da economia real diante de um quadro de recessão com as características da crise atual: corte brusco da receita das empresas pela ausência de seus funcionários e a queda brutal da renda pessoal dos trabalhadores, criando um vazio por dois ou três meses sem que ocorra uma destruição física da infraestrutura econômica dos países.

Mesmo diante destes fatores alarmantes e da incerteza de quando isso tudo vai acabar, a grande maioria dos executivos e empresários acreditam que o País vai sentir mais uma onda recessiva (que não será dramática), em função da paralisação compulsória por conta da doença, mas vai se recuperar de maneira rápida e ainda neste ano.

Scania Roberto BarralO vice-presidente das operações comerciais da Scania Brasil, Roberto Barral, comenta: “o Brasil é um País de um povo que se recupera de uma maneira única sempre que aparece uma crise. Já vivemos inúmeras, sobrevivemos e saímos mais fortes de todas. A Scania acredita no potencial do País e na força dos transportadores e caminhoneiros que transportam o País pelas estradas”.

Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, analisa que, quando o pico da pandemia passar e as coisas voltarem ao normal, o setor de transporte será um dos primeiros a puxar a retomada.

Mercedes Roberto Leoncini“Como exemplos, a colheita da nova safra de grãos, assim como a de cana-de-açúcar, além de outras atividades do agronegócio. Os segmentos frigorificado, alimentício e gás de cozinha tiveram picos com o intuito de abastecer os estoques das famílias”, complementou.

Se em alguns segmentos essenciais os caminhões não pararam por um só dia (e forçam a demanda por novos produtos), em outros, mais afetados pela quarentena, os motores estão frios há bastante tempo.

“O abastecimento de lojas, comércio eletrônico, logística industrial e combustível estão com boa parte das frotas sem operar porque a demanda caiu radicalmente. São esses setores que devem voltar aos poucos no segundo semestre, acompanhando o consumo da população”, comentou Leoncini.

DAF GambimLuis Gambim, diretor comercial da DAF do Brasil, também acredita em recuperação no segundo semestre deste ano. “Entendemos que é uma situação passageira, que vai gerar consequências, mas que serão superadas em médio prazo”. Para o executivo, o Brasil é um País com um enorme potencial de crescimento e isso é ponto fundamental para direcionar os investimentos do Grupo Paccar (dono da marca DAF) na região.

Gambim disse que ainda é cedo para traçar perspectivas para 2020 e 2021, mas acredita em uma retomada a partir do segundo semestre. “Tanto é que continuamos com o plano de expansão da nossa rede, assim como criamos novos programas de pós-venda”, concluiu.

Volvo Alcides CavalcantiAdotando a mesma postura cuidadosa para, neste momento, evitar projeções, a Volvo também se mostra otimista com o setor uma vez que considera que as commodities agrícolas e minerais brasileiras vão contribuir positivamente na retomada econômica. “As commodities minerais e agrícolas do Brasil são uma outra força produtiva, principalmente na exportação. Tudo isso terá de ser transportado à medida que as principais economias do mundo, como a China e Europa, por exemplo, retomarem gradualmente a atividade econômica. Assim ocorrerá com outros setores da economia, tanto no mercado doméstico, quanto nas exportações” comentou Alcides Cavalcanti, diretor comercial da montadora.

Iveco Thiago CarlucciO diretor de marketing da Iveco para a América do Sul, Thiago Carlucci, acredita em retomada dos negócios tão logo a pandemia acabe. “A crença da Iveco no Brasil e na América do Sul não mudou. Acreditamos na força, no potencial e na produtividade do País e da região”.

O segundo semestre será difícil, mas virá com crescimento. Essa é a opinião do presidente da Anfir (entidade que reúne os fabricantes de implementos no Brasil), Norberto Fabris, setor que também estava em plena recuperação até antes da pandemia. Fabris acrescentou que havia animação com a espiral positiva de negócios registrada no início do ano, logo depois da longa crise.

“Nosso ritmo está apenas amortecido e a disposição da nossa gente não foi abalada mesmo com a situação grave que nos foi imposta pela pandemia. Teremos pela frente meses difíceis, mas sabemos que temos força, energia e determinação para superar mais esta crise”, finalizou.

Na mesma linha se posiciona Marcos Augusto Pordeus de Paula, diretor da Frigo King, fabricante de baús frigorificados, que também aposta em retomada do setor já no segundo semestre deste ano. O executivo lembra que os setores de alimentos e medicamentos permaneceram fora das restrições e os investimentos devem ser retomados antes, mesmo porque durante o período de fechamento dos estabelecimentos esses caminhões continuaram operando e houve desgaste natural.

“Não será um momento fácil para ninguém, mas como nossa indústria passou recentemente por uma situação de crise mais longa que a causada pela pandemia, acredito que seremos mais ágeis para tomar as decisões necessárias”, complementou.

Empresas que fornecem sistemas de alta tecnologia para as montadoras de caminhões, embora demonstrem preocupação com a situação emergencial atual (com fábricas paralisadas), estão igualmente otimistas para o segundo semestre. É o caso da Delphi Technologies que, conforme acredita seu diretor executivo de aftermarket, Amaury Oliveira, no segundo semestre deste ano já haverá uma volta à normalidade.

Alcides

“Como sabemos, os caminhoneiros são peças essenciais da nossa economia e continuam a todo vapor durante a pandemia para garantir abastecimento à população. Por isso, a necessidade de manutenção continua existindo e fazendo com que o setor de autopeças prossiga oferecendo os serviços de reparação”.   Oliveira diz que a Delphi não espera um crescimento ou uma retomada forte em todo o segmento automotivo, mas está otimista de que a demanda retorne aos números que eram praticados no início deste ano. Para finalizar, fica a mensagem emocionada de Alcides Braga, presidente e fundador da Truckvan que, diagnosticado com Covid-19 em meados de março, fez o isolamento recomendado pelos médicos, já totalmente recuperado, comenta: “Cada um deve buscar a solução para aquilo que é mais imediato. Neste momento, vamos pensar curto. Procurar realizar o agora. Público e privado trabalhando juntos é inédito e uma grande lição. Quando a vida voltar ao normal, acredito que teremos um mundo muito melhor em todos os sentidos. Estaremos melhores ao final desta pandemia. E aprendemos lições importantes como solidariedade, gratidão e fé. Dias melhores virão”.