Por Magno Pereira
O câncer de próstata é uma das doenças que mais mata pessoas do sexo masculino no Brasil, está atrás apenas do câncer de pulmão, que ocupa o primeiro lugar no ranking de mortalidade. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) dão conta de que em 2004 morreram no País 9.590 homens com câncer de próstata e 10.214 no ano de 2005, seguido por cerca de 47 mil casos em 2006 e 49.530 no ano passado.
Para a chefe da Divisão de Gestão da Rede Oncológica – divisão do INCA, órgão que se ocupa com o controle do câncer no País e com a melhoria da rede de atenção a essa enfermidade, a sanitarista Ana Ramalho, conforme cresce a expectativa de vida dos brasileiros, também aumenta a incidência de óbitos por câncer de próstata. Porém, o assunto não passa desapercebido pelos motoristas de caminhão, que de uma forma ou de outra procuraram saber como anda a saúde a respeito também desse assunto.
É o caso do carreteiro Vasco Marcial Fernandes Furtado, de Santana do Livramento/RS, 46 anos, 28 de profissão e empregado de uma transportadora de produtos químicos. Ele diz que uma vez por ano faz check-up e a cada seis meses realiza o exame de urina. Comentou que há nove anos faz o PSA e para sua felicidade o resultado acusa sempre normal. “Se o médico pedir para fazer o de toque eu faço” e acrescentou que a empresa que pretende ter um bom motorista deve fazer um convênio médico para cuidar da saúde dele.
Lucídio Pereira Bezerra, de Umuarama/PR, 41 anos e 23 de estrada, também motorista de transportadora, faz exames periódicos desde que entrou na empresa. Diz que já fez o PSA e o resultado também foi normal. “Acho que o medo de fazer o exame de toque é machismo. O ideal é deixar o orgulho de lado e aceitar o pedido do médico, pois quanto mais rápido o diagnóstico, mais fácil será o tratamento”, ensina.
José Pedro Carvalho da Silva, natural de Guaíba/RS, 63 anos e motorista desde 1967, também possui convênio médico e já fez o PSA, cujo resultado também foi normal. Seu colega, João Ligeiro, 48 anos e 30 de profissão, de Porto Alegre/RS, também possui convênio médico e disse que sua empresa solicita exames anualmente. “Fiz recentemente o de PSA e o de toque com uma médica. É constrangedor, mas aconselho todos a fazerem, se for necessário”, acrescenta. Ele se sensibilizou quando um colega de profissão acidentado foi obrigado a fazer exames e descobriu que estava com a enfermidade.
José Cláudio Pereira da Silva, nascido em Canoas/RS, 51 anos e 32 de boléia, recebeu orientação médica para fazer o exame de toque mesmo após ter realizado o PSA, devido a uma friagem que lhe causou uma infecção urinária. “Temos de estar prevenidos, pois existem doenças silenciosas, como a diabetes, hipertensão e o câncer de próstata. O erro é descobrir somente quando a doença já está em estágio avançado”, alerta. O autônomo Djalma de Souza Moura, 67 anos, sem convênio médico passou por uma cirurgia no intestino e já fez vários exames, mas nunca o de próstata. “Dentro de dois meses estarei de férias e farei um check-up”, promete.
O chileno Daniel Agurto, residente em Santiago, não têm convênio próprio, mas argumentou que em seu país os exames são gratuitos e a única vez que fez o de próstata foi há três anos. O catarinense Carlos Gomes, de Iatajaí, 42 anos e 26 de profissão, empregado e sem plano de saúde, fez ambos os exames há dois anos, pois disse que um amigo de Feira de Santana/BA morreu aos 57 anos por conta da doença.
A sanitarista Ana Ramalho explica que PSA alto não significa câncer de próstata, pois deve ser interpretado dentro de um contexto clínico médico. Ela acrescenta que para evitar qualquer tipo de câncer, a pessoa deve ter hábitos saudáveis, como não fumar, ter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas ou esporte, evitar comidas gordurosas e ingerir bastante fibras, verduras, legumes e frutas. Além disso, deve manter o peso compatível com a altura, pois a obesidade pode ser sinal de sedentarismo, que por sua vez aumenta o risco de câncer.
ÓRGÃOS INTERNACIONAIS NÃO RECOMENDAM EXAMES
Por mais estranho que possa parecer, de acordo com a sanitarista Ana Ramalho, estudos de diversos órgãos internacionais especialistas no tema não recomendam a pesquisa da doença pelos exames PSA (Antígeno Específico de Próstata) e de toque retal em pessoas aparentemente saudáveis, ou aquelas que não apresentam sinais da doença. “As inúmeras pesquisas realizadas até o momento não conseguiram evidenciar que o rastreamento seja efetivo em diminuir o número de mortes por câncer de próstata nestas populações”, salienta.
Ana Ramalho informa também que as políticas de controle de câncer em muitos países recomendam que não se deve fazer os exames PSA e o de toque em pessoas saudáveis, pois não se sabe se irá produzir mais benefícios do que danos. No Brasil, o INCA também não recomenda fazer o rastreamento em pessoas saudáveis. “É o contrário do que muita gente acredita. Quando o médico pede para fazer o exame deveria explicar os possíveis riscos e benefícios, para deixar o paciente decidir se realmente quer fazê-lo”, argumenta. Ela orienta que se uma pessoa apresenta qualquer desconforto ou dificuldades para urinar, aí há a necessidade de procurar imediatamente o serviço de saúde para investigação.
Os riscos associados aos exames se devem ao fato de que a maior parte dos casos de câncer diagnosticados em um rastreamento terão um comportamento não agressivo, ou jamais irão progredir e ameaçar a vida de seu portador. E como a ciência ainda não é capaz de distinguir o tumor que será progressivo daquele que será latente, no início da doença acaba-se tratando muitos indivíduos que jamais apresentariam o problema. Com isso, esse sobre-tratamento acarreta efeitos indesejáveis associados ao tratamento. No balanço geral, ainda não está claro se os benefícios populacionais de rastreamento superam os possíveis malefícios.
As recomendações para o não rastreamento da doença são dos institutos Canadian Task Force on Preventive Health Care, US Preventive Service Task Force (USPSTF) dos Estados Unidos, International Network of Agencies for Health Technology Assessment (INAHTA), dentre outros. Embora os órgãos oficiais de saúde norte-americanos não indiquem o rastreamento, algumas sociedades médicas nos Estados Unidos recomendam os exames. Na Europa, os sistemas de saúde também não recomendam fazer os exames de rotina para descobrir o câncer de próstata. Vale lembrar que é sempre muito importante consultar um profissional de saúde para uma avaliação mais precisa sobre cada caso (MP).
| DISTRIBUIÇÃO ABSOLUTA E PROPORCIONAL DE ÓBITOS POR CÂNCER, EM HOMENS, BRASIL – 2005 | ||
| Localização primária | Óbitos | % |
| Pulmão | 12.005 | 18 |
| Próstata | 10.214 | 16 |
| Estômago | 8.124 | 12 |
| Esôfago | 5.022 | 8 |
| Cavidade oral e faringe | 4.684 | 7 |
| Cólon, reto e ânus | 4.840 | 7 |
| Fígado | 3.418 | 5 |
| Encéfalo | 3.404 | 5 |
| Leucemias | 2.869 | 4 |
| Pâncreas | 2.858 | 4 |
| Outras localizações | 7.916 | 12 |
| Todas as Neoplasias | 65.354 | 100,0 |
Fontes: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação
