Por João Geraldo

Os fabricantes de caminhões instalados na China produziram juntos em 2013 750 mil unidades acima de 12 toneladas de PBT. Deste total, 120 mil saíram da linha de montagem da Shaanxi Automobile, nome da fabricante dos caminhões Shacman, uma das sete mais importantes montadoras do país, sendo a Foton a maior, seguida pela Faw e Sinotruk. Dong Feng, Iveco e Bei-Ben também fazem parte da lista, não necessariamente na ordem citada. Juntas, essas marcas detêm 85% do mercado chinês de caminhões.

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Apesar da marca ainda ser pouco conhecida no Brasil, Li Jian demonstra confiança no mercado e afirma que a empresa não vai errar no pós-vendas

A Shaanxi Automobile Holding Group tem 12 fábricas na China e produz caminhões pesados, médios, picapes, ônibus, minivans e veículos militares, sendo o nome Shacman usado apenas fora da China. O grupo encerrou o ano de 2013 com 18% de participação no mercado chinês de veículos pesados e estima chegar a uma fatia de 25% em 2017, com vendas anuais de 200 mil unidades. A planta de caminhões pesados e médios está instalada na cidade de Xi’an, onde além da fábrica de cabine, eixos e estamparia opera também uma fábrica de motores – a Xi’an Cummins Engine Company Ltd – fruto de joint venture com a Cummins, no mesmo parque industrial.

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Grupo que produz os pesados da Shacman encerrou ano de 2013 com 18% de participação no mercado chinês de caminhões acima de 12 toneladas

Atualmente, a empresa se movimenta para começar a produzir caminhões no Brasil através de parceria com Metro-Shacman para colocar em atividade uma unidade de produção no município de Tatuí/SP. A empresa brasileira, por sua vez, que já havia dado o pontapé inicial há cerca de dois anos, quando iniciou a importação de caminhões extrapesados da marca Shacman para o mercado brasileiro, nada pode informar ainda sobre a parceria com a Shaanxi Automobile Holding Group, embora executivos da empresa tenham estado na China entre o final de fevereiro e início de março para tratar da parceria.

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Fábrica onde são montados os caminhões Shacman enviados para o Brasil tem capacidade instalada para produzir 200 mil unidades por ano

“Temos confiança no Brasil e nosso foco é o mercado de caminhões pesados. O País tem grande demanda para este tipo de produto”, afirma Li Jian, um dos executivos da fábrica em Xi’an, na China. Ele reconhece tratar-se de um grande desafio entrar no mercado brasileiro, tanto pela presença das montadoras aqui já estabelecidas no mercado quanto pelo fato da marca Shacman ser ainda desconhecida no Brasil, porém, a empresa se mostra disposta a ter uma linha de montagem no País.

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Acordo com a Metro-Shacman vai além da produção de pesados, destaca Eric Zhang, ao citar que a empresa produz também modelos médios

O projeto inclui também exportar caminhões Shacman para outros países da América do Sul. Em outras unidades envolve transferência de tecnologia e investimentos apropriados ao tamanho da linha de produção e do mercado. De acordo com Li Jian, um dos executivos da fábrica de Xi’an, este ano a Shacman entrou em processo de investimentos fora da China, pois se trata de uma ação obrigatória para o desenvolvimento da empresa, conforme afirma. Os veículos da Shaanxi Automobile Holding Group têm presença em 60 países além de linhas de montagem na África do Sul, Malásia, Cazaquistão, Sudão, Etiópia e Iran.

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Empresa é líder no mercado chinês em vendas de caminhões movidos a Gás Natural Veicular (GNV), com quase 50% das vendas totais no país

Em relação ao Brasil, quando questionado sobre a imagem dos caminhões chineses, devido aos percalços enfrentados pela Sinotruk, Li Jian é enfático. “Nossa estratégia é diferente, valorizamos o pós-vendas em todos os países onde atuamos. É importante conquistar mercado, porém é mais importante ainda implementar o serviço de pós-vendas”, destaca. Ele reforça que a Shacman só entra em um determinado mercado se puder oferecer manutenção aos clientes. Complementa dizendo que a empresa está comprometida a entrar no mercado brasileiro e vai se esforçar para atingir este objetivo. “O maior problema no Brasil hoje é a legislação”, conclui.

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Em operação desde 1970, a fábrica de eixos tem parceria desde 2012 com a universidade da China e joint venture com a fabricante de motores Weichai

Eric Zhang, um dos diretores da empresa, acrescenta não ter sido bom o que aconteceu com a Sinotruk e lembra que a concorrente foi a primeira a introduzir caminhão pesado chinês no mercado brasileiro e a mostrar que a China também tem produto para atender o segmento. Ele vai mais longe ao falar da possibilidade da Shacman montar também outros produtos no Brasil, como caminhões médios e vans, caso haja demanda. Conforme afirmou, o acordo com a Metro-Shacman já prevê a montagem de outros tipos de veículos além dos caminhões extrapesados. Reinaldo Maluta Vieira, diretor de marketing da Metro-Shacman, diz que a expectativa da empresa é começar a montar os modelos no Brasil ainda em 2014. Ele destaca que a meta da empresa é ter participação de 1% do mercado brasileiro de caminhões pesados em 2016. Para efeito de comparação, em números do ano de 2013 seriam cerca de mil unidades. Atualmente, os pesados TT 385 e TT 420 (ambos 4X2 e 6X2) são importados da fábrica de Xi’an. Ainda de acordo com ele já tem cliente no Brasil rodando há três anos com caminhão Shacman, com monitoramento da Metro-Shacman.

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A fábrica da Shacman instalada em Xi’an opera com duas linhas de montagem e cada uma delas leva o tempo de seis minutos para finalizar um caminhão

Marcos Gonzales, diretor de desenvolvimento de negócios Metro-Shacman, acrescenta que o primeiro caminhão Shacman brasileiro é uma combinação do DNA europeu, cultura chinesa e tecnologia e raça do Brasil, por representar um projeto concebido inicialmente na Europa, incorporar conceitos de fabricação da China e contar com a dedicação das empresas brasileiras que aceitaram o desafio de formar uma parceria para o desenvolvimento e produção de caminhões Shacman no Brasil. Cummins, Dana, Sachs, ZF e Méritos são algumas das mais de 40 empresas participantes do processo de desenvolvimento e produção de peças, sistemas e componentes para o veículo a ser produzido no Brasil.

Atualmente a Metro-Shacman conta com 17 (duas em implantação) concessionárias que vendem e dão atendimentos pós-vendas, nos Estados do Mato Grosso, Minas Gerais, Ceará, Bahia, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Os caminhões Shacman importados da China são equipados com motor Cummins ISM de 11 litros, as versões de 385 e 420cv de potência e caixa de transmissão Fast de 12 e 16 velocidades.

Pós vendas na China
Um call-center (e também concessionária) ao lado da fábrica de caminhões, em Xi’an, funciona 24 horas o ano todo recebendo ligações de toda a China. São mais de 60 pessoas atendendo ligações mais o sistema de atendimento automático. A unidade administra 1.200 pontos de atendimento para apoiar o transportador, sendo indicado sempre o mais próximo. Uma hora após o cliente ter feito o chamado, o call-center entra em contato com o cliente para saber sobre o atendimento. Na China, a garantia do caminhão é de três anos sem limite de quilometragem. No Brasil a Shacman dá dois anos para o trem de força.

De acordo com o responsável, são mais de 20 mil chamadas por mês, incluindo as de informações sobre a compra de caminhões para as quais é também indicada a concessionária mais próxima do interessado. Neste mesmo local funciona também um dos 200 centros de treinamento para mecânicos da rede. A periodicidade é anual e dura mais de quatro meses, tornando o profissional um multiplicador dentro das concessionárias.

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Além da cabine F-3000, a mesma que equipa os modelos TT comercializados no Brasil, a Shaanxi Automobile começou a montar caminhões com uma unidade mais moderna denominada X-3000, a qual – baseada na cabine atual – já começou a ser comercializada no mercado chinês. Porém, sem previsão ainda de chegar ao mercado brasileiro. Além disso, a Shacman já planeja outra cabine, esta para entrar no mercado em 2017. O projeto não tem ainda nome, mas a nova unidade já se encontra em desenvolvimento em estúdio na Áustria.

Atualmente na fábrica de Xi’an é montada uma cabine a cada três minutos, sem o motor. A linha de montagem completa tem 450 metros de extensão, 37 estações, e finaliza um veículo a cada seis minutos. Entre 30 e 40% das unidades produzidas atendem configurações técnicas dos clientes e as cores predominantes são o branco, azul e vermelho, sendo esta tida como a cor da sorte no país.

Um item muito comum nos cavalos-mecânicos produzidos na China é o segundo eixo dianteiro, de fábrica, como acontece na fábrica de Xi’an, onde a fábrica opera com duas linhas de montagem e mil operários na produção além de 250 na administração. Já a estamparia tem área de 19 mil metros quadrados e 330 funcionários.

Rigidez
na produção de motores
Inaugurada em 2005, a fábrica de motores, onde são montados engenhos Cummins ISM de 11 litros, de 345 a 440 hp (para caminhões) e QSM de 11 litros, de 245 a 292 hp (para geradores) tem um padrão diferente de outras unidades. Para se ter o mesmo nível dos produtos norte-americanos, todos os funcionários, operadores e engenheiros que atuam na unidade têm de passar por treinamento, sendo o dos engenheiros nos Estados Unidos.

A linha de produção – automatizada – é importada dos Estados Unidos, e todo motor é testado em equipamento importado da Áustria e todo o processo técnico, de manufatura e serviço tem de atender o padrão exigido pela Cummins. Os fornecedores também são os mesmos e para garantir a qualidade, a administração de toda a operação é feita exatamente como na fábrica nos EUA. A unidade tem capacidade para a produção de 10 mil motores ano, mas, embora sem data ainda definida, a unidade vai inaugurar um novo processo que elevará a capacidade de produção para 50 mil unidades/ano. Além dessa, o grupo tem ainda mais três fábricas de motores Cummins na China, engenhos Euro 2, 3, 4 para o mercado interno e exportação.

A fábrica produz também a versão Euro 5 para atender outros mercados. O motor ISX de 15 litros e 600 hp que vai para Austrália é feito nos EUA, porque na China a potência máxima do Cummins é 440 hp, embora haja projeto para uma unidade de 480 hp. É nessa fábrica que são produzidos os motores que equipam os modelos Shacman TT 385 e TT 420 (ambos 4X2 e 6X2) enviados para o Brasil.

Em julho próximo o país entra no Euro 4 e se estima que o preço dos caminhões deva crescer alto em torno de R$ 10 mil. Espera-se também que este aumento afete o preço
do frete e todo o processo do transporte. Outros caminhões da empresa são equipados com motores da marca Weichai, cuja potência máxima atinge 400hp. O maior diferencial entre os propulsores está no pós-venda da rede Cummins e por isso tem maior preferência dos clientes no País.

Além dos caminhões a diesel, a empresa tem veículos pesados movidos a GNV (Gás Natural Veicular) e detém quase 50% de um mercado de 40 mil unidades/ano na China. De acordo com Li Jian são veículos que operam apenas com gás e chegam a reduzir em até 40% o custo com combustível. Têm autonomia de até 400 quilômetros e custam mais que o similar a diesel e contam com postos de abastecimento território chinês.