Por Daniela Giopato

O autônomo Maicon Costa, 25 anos de idade e três na profissão, de Joinvile/SC, por exemplo, viaja por todo o País transportando todo tipo de carga e diz que 2007 superou suas expectativas. Ele quitou seu caminhão e ainda conseguiu comprar um carro de passeio. Mas lembra que existe o lado ruim da profissão, pois quase não parou em sua casa, tanto é verdade que não acompanhou os primeiros meses de vida da sua filha, que já vai completar um ano de idade. “Quando ela nasceu eu estava na estrada e só fui conhecê-la depois de 10 dias. Porém, se não aceito os fretes não consigo nada”, reconhece.

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Para Maicon Costa, que conseguiu quitar seu caminhão e comprar um carro de passeio, 2007 superou suas expectativas

Tem opinião de que carreteiro não pode se dar ao luxo de dizer não ao trabalho. Diz que entre os meses de dezembro e março o valor do frete diminui bastante por causa da grande oferta, por isso procurou se garantir até o final de novembro. Mas se alguma empresa ligar e oferecer um frete, afirma que ficará mais uma vez sozinho no Natal, como em 2006, quando estava no Recife/PE, longe da família. “Gastei um monte de cartão telefônico. A incerteza e os imprevistos são os principais pontos negativos de quem vive na estrada”.

Seu projeto para 2008 é trocar o Mercedes Benz 1113, fabricado em 1978, por um modelo 1218 ano 90. Diz já estar pesquisando preços e formas de financiamento para efetuar a compra. “Se tudo correr bem, em vou trabalhar com um caminhão bem mais novo e ter menos gastos com manutenção”.

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Fábio Moreira de Campos acredita se conseguir manter o mesmo rítimo deste ano, em 2008 vai comprar uma casa

Fábio Moreira de Campos, de Tenente Portela/RS, 23 anos de idade e seis na estrada, faz a rota Brasil – Argentina (Buenos Aires) e considerou 2007 como um ano positivo, já que atingiu um de seus objetivos. “Consegui comprar um carro para passear com a família. Se a situação continuar nesse rítimo, a expectativa é a aquisição de uma casa em 2008. Na sua opinião, o ano pode não ter sido tão bom para os carreteiros que dependem de transportadora, ou para aqueles que estão na mão de agenciador. Mas eu realmente não posso reclamar”, comemora.

Lamenta sobre a dificuldade de passar as festas longe de casa, como aconteceu no ano passado, quando passou junto com a família de um colega, em Curitiba/PR. “Você se sente sozinho é horrível. Este ano provavelmente a situação irá se repetir, porém com uma diferença, a família vai junto comigo, pois não quero sentir o mesmo vazio do Natal de 2006”, acrescenta. Fábio diz que se pudesse fazer algum pedido para 2008 seria para as empresas deixarem de tratar os motoristas como máquinas. Comenta que tem um filho de quatro anos que também não viu crescer, porque passa de 20 a 30 dias na estrada e um em casa.

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Apesar de 2007 ter sido bom, Gilmar Barros vai transferir alguns planos como o de trocar de carro para o próximo ano

Outro carreteiro que admite que o ano de 2007 foi bom porém vai transferir alguns planos para 2008, como o de trocar de carro, é Gilmar Barreto, 46 anos e 20 de profissão, de Uruguaiana/RS. Ele transporta na rota São Paulo, Chile e Argentina. “O salário não foi alterado, mas em compensação as despesas aumentaram muito”. Apesar de não estabelecer metas para o próximo ano, Gilmar espera que as condições das estradas melhorem e o valor dos pedágios diminua. “Quem sabe assim consigo economizar um pouco”.

Em relação às Festas, diz quase sempre passar na estrada, mas este ano quer ficar ao lado da esposa e filhos. “Não sei como vamos fazer. Quando planejamos geralmente dá errado, então o negócio vai ser improvisar o Natal e o Ano Novo. O mais importante é estarmos juntos”.
Ao contrário da opinião dos colegas, Luiz Renato, 39 anos, 15 de profissão, Camaquã/RS, faz a rota São Paulo – interior e Minas Gerais, acredita que 2007 não foi um dos melhores anos. “A oferta aumentou muito e, consequentemente, o valor do frete caiu. Muitas vezes a empresa oferece um frete baixo e se você não pega vem outro e aceita. Essa desunião da classe acaba prejudicando a nossa profissão”, opina. E para ele, os planos feitos no início de 2007 vão ficar – mais uma vez – para o próximo ano. Um deles é finalizar a parte de acabamento de sua casa, uma luta que já dura cinco anos, por ser a parte mais cara da obra.
Além da questão do frete, Luiz Renato cita o excesso de peso como

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A desunião dos motoristas e frete baixo foram algumas dificuldades enfrentadas por Luiz Renato durante 2007

outro motivo que impede os carreteiros de faturarem mais. “Alguns profissionais aceitam carregar acima do peso, e essa atitude nos prejudica”. O final do ano é uma das épocas mais paradas para Luiz, ele afirma que entre dezembro e fevereiro o valor do frete diminui bastante. “É por isso que os carreteiros quase nunca conseguem passar o Natal e o Ano Novo em casa”, explica. Temos que aproveitar as oportunidades para tentar nos garantir nesse período”. Acostumado a passar as festas na estrada, Luiz já se programa para levar a esposa e os dois filhos. “Passar sozinho é desagradável. Claro que não dá para fazer aquelas ceias que todo mundo está acostumado, mas o importante é que vamos ficar juntos”.

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A troca de caminhão estava nos planos de Jorge Antonio, mas foi adiada para o próximo ano por conta das condições do mercado

Para o gaúcho Jorge Antonio Gonçalves, 51 anos de idade e 24 de profissão, o ano também não foi muito bom e compartilha da opinião de que o grande culpado é a desvalorização do frete. “A concorrência aumentou muito e como não há união entre os carreteiros, se um não aceita o frete vem outro e pega. Assim cada vez mais o valor do frete cai”.

A troca do caminhão estava nos planos de Jorge no início de 2007, mas as condições oferecidas o impediram de seguir em frente com seu projeto. “As despesas subiram e o dólar baixou. Como trabalho na rota internacional não consegui acompanhar, então vai ficar para 2008”. Atualmente, Jorge tem um Scania 112, 82, quitado, e pretende trocá-lo por um modelo fabricado em 1998. “Espero que o dólar volte a subir, para que eu consiga atingir o meu objetivo”, torce.

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Para 2007 ter sido ótimo faltaram estradas melhores, preços justos nos restaurantes e mais respeito com a classe, opina José Valdir

Em relação às festas de final de ano Jorge não sabe ainda como será, embora sua expectativa seja de passar em casa, mas reconhece que os planos podem mudar de uma hora para a outra. Cita que sua filha de 11 anos estará em período de férias no final do ano, mas faz uma série de cursos de aperfeiçoamento. “Quero que ela tenha qualificação. Hoje quem não tem estudo acaba indo para a estrada”.

Na opinião de José Valdir Sutil, 54 anos e 29 de profissão, para 2007 ter sido ótimo só faltaram estradas melhores, preços justos nos restaurantes e mais respeito com os carreteiros, principalmente. “Trabalho tem bastante, mas essas pequenas coisas acabam dificultando um pouco a vida na estrada”. Em 2006, José teve seu carro de passeio roubado e praticamente depenado. Um de seus grandes sonhos era conseguir reformar o veículo e conseguiu. “Este ano sobrou um pouco de dinheiro o que foi o suficiente para deixar o carro do jeito que eu queria”. Sua meta para 2008 é reformar a casa, embora também sonhe em ver as estradas conservadas e o valor dos pedágios serem reduzidos. Mas isso, como ele mesmo diz, não depende dele.

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Com saúde e disposição, José Brás Duarte define 2007 como um ano muito bom e acredita que os motoristas
reclamam demais

Assim como boa parte dos carreteiros, José provavelmente passará o Natal ou o Ano Novo na estrada e sozinho. Casado há 28 anos e com três filhos, diz que tanto ele quanto a família já se acostumaram com essa situação. “Nesta época prefiro me isolar. Não gosto muito de ficar comemorando quando passo na estrada”.

O experiente e bem-humorado, José Brás Duarte, de 61 anos e 41 de profissão, de Santa Cruz do Rio Pardo/SP, resume 2007 como um ano muito bom. Afinal, ele teve saúde e disposição para trabalhar e isso lhe é suficiente. “Quando temos essas duas coisas nada pode faltar. Consegui frete para viver. Os motoristas, em geral, reclamam demais. Antes tudo era mais difícil. As estradas eram piores, não tinha muitas oportunidades para trocar ou comprar um caminhão. Acho que as coisas estão um pouco mais fáceis hoje”. No começo de 2007 a intenção de José era trocar de caminhão, mas acabou desistindo. “Quero trocar o meu Scania ano 99 por um modelo zero quilômetro”.

Sua filha é médica, casada e vive uma vida confortável, mas não se conforma do pai querer continuar a trabalhar com caminhão. “Mas a vida boa é dela e a minha é aqui na estrada. Gosto dessa profissão, por isso o dia que eu parar ainda está longe”, avisa. Como acontece todos os anos, José não sabe ainda onde passará as festas de final de ano, mas diz não se importar com isso. “Tanto faz, em casa ou na estrada estarei feliz”, sorri.