Por Evilazio de Oliveira
Em tempos de dificuldades econômicas, em que o carreteiro precisa fazer ajustes na sua planilha de custos com a intenção de manter uma rentabilidade adequada para sobreviver, a opção de preparar as próprias refeições caixa-cozinha é uma das boas maneiras de economizar um bom dinheiro. Além do prazer de cozinhar, e ao jeito e gosto da pessoa, há ainda a vantagem de se consumir alimentos saudáveis. Outro ponto positivo é a oportunidade de compartilhar momentos agradáveis com colegas de estrada onde cada um tem uma tarefa específica na hora das refeições.
O estradeiro Sidney Farias Martins, 44 anos de idade e 25 de profissão, é natural de Clevelândia/PR e trabalha e viaja com uma carreta por todo o País, mas preferencialmente para Manaus/AM. Ele conta que prefere cozinhar no seu caminhão do que comer em restaurantes, porque tudo é muito caro e a comida nem sempre é boa. Por isso, antes de sair de sua casa ele abastece a caixa e depois vai repondo de acordo com as necessidades, mas sempre com alimentos frescos. “Sai bem mais em conta”, afirma.
O catarinense de São Domingos, Airton Sena, 24 anos de idade e seis de volante, diz que na estrada sempre que possível ele mesmo prepara suas refeições, porque além de se alimentar com mais qualidade, come o que gosta e faz uma boa economia. Sena transporta carga para diversos Estados e justifica que além da situação no Brasil estar muito difícil, em cada região existe um tipo diferente de alimento e do modo de preparação. “Além de que a qualidade nem é das melhores e os preços altos”, justifica. Os amigos Algacir Fiori, 44 anos de idade e oito de profissão, e Paulo Camargo, 39 anos de idade e 10 de profissão, ambos naturais de Passo Fundo/RS, costumam viajar pelos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais com suas carretas. Procuram acertar as rotas para se encontrarem nos postos de combustíveis ou locais de estacionamento onde – além das boas conversas e risadas – preparam suas refeições. Quase sempre Fiori se encarrega da cozinha, cabendo ao amigo Camargo a tarefa de lavar a louça e cuidar da limpeza do local. Eles têm opinião de que é impossível comer nos restaurantes de beira de estrada devido ao alto preço das refeições. “Um almoço simples e um refrigerante não custa menos de R$ 22,00”, explicam. Com esse valor eles abastecem a caixa, cozinham, comem o que gostam e ainda fazem economia.
Luiz Verones Barros Puhl tem 38 anos de idade e 18 de profissão, é natural de Giruá/RS e trabalha ao volante de uma carreta. Ele viaja para o onde o frete for mais compensador e de vez em quando se encontra no trecho com o amigo Antônio Renildo Mikoczak, 47 anos de idade e 28 anos de profissão. Quando falaram com a reportagem da Revista O Carreteiro, eles seguiam para Mato Grosso e como os dois gostam de cozinhar, já tinham planejado que fariam uma boa economia com refeição.
A tarefa de limpar a caixa, lavar pratos e deixar tudo em ordem fica por conta do motorista que não foi para a cozinha. Sempre há um revezamento, ressaltam os dois amigos. Há 14 anos Luiz Puhl fez um transplante de rim e por isso a sua alimentação precisa ser mais light. Além do arroz, feijão e carne, garante que não pode faltar um belo prato de salada. “Não dá pra descuidar da saúde e nem da economia”, comenta. Ele explica que com R$ 50,00 abastece a caixa-cozinha para uma semana.
O sonho de Márcio Santos Brite, 33 anos de idade, natural de Uruguaiana/RS, é tornar-se carreteiro. Por isso, ele aproveita o período de férias para viajar com o cunhado Ricardo Batista de Souza, estradeiro experiente que roda nas rotas internacionais. Como gosta de cozinhar, Márcio fica encarregado de fazer as refeições e garante que procura incluir sempre alimentos saudáveis no cardápio, inclusive sem nunca deixar faltar algum tipo de salada.
Depois das refeições e da limpeza de pratos, panelas e de ajeitar a caixa-cozinha, costuma fazer uma caminhada para ajudar na digestão. Garantem que nunca acabam de comer e viajam e dizem que, às vezes, é possível até tirar uma soneca na rede antes de pegar a estrada. Brite salienta que cozinhando na caixa a economia é muito grande, com a vantagem de comer o alimento que gosta e garantia da higiene e qualidade.
O carreteiro Valmir Silva de Freitas tem 47 anos de idade e 29 de estrada, roda por todas regiões do Brasil e reconhece que apesar da economia nem sempre é possível preparar a própria refeição. Às vezes pela pressa e outras porque não é permitido nos locais de estacionamento. Porém, nesta viagem que conversou com a reportagem, ele estava acompanhado da esposa Maria Elizete e do neto Breno, de três anos. “A coisa está fácil, porque a mulher tem mais experiência na cozinha e prepara as refeições com um sabor especial”, elogiou. Freitas também destacou a economia em preparar as próprias refeições e afirmou que o valor que gastaria em dois dias comendo em restaurantes consegue abastecer a caixa com mantimentos para uma semana de almoço, janta e café da manhã.
De acordo com o professor de Educação Física, Daian de Souza Schimitt – dono de duas academias em Uruguaiana/RS – que está há 14 anos na profissão, o ideal para o motorista de caminhão seria, a cada parada, fazer alongamento para soltar a musculatura e variar as posições do corpo. Ele acrescenta que poderia inclusive utilizar elásticos que gerem resistência para o fortalecimento muscular, mas tudo isso prescrito por um profissional de educação física experiente. Schimitt cita também as vantagens da caminhada de pelo menos meia hora por semana. E, por fim, alerta para os riscos “daquele” futebol entre amigos nos finais de semana, os que podem resultar numa elevação brusca da frequência cardíaca e podem tornar-se perigoso para pessoas que não têm atividades física regulares. “Tudo deve ser feito de forma moderada e sempre com a orientação de um profissional da área”, salienta.