Por Evilazio Oliveira
Para o carreteiro autônomo, preocupado com o fechamento das contas ao final do mês, garantindo o pagamento das mensalidades do financiamento do caminhão, da prestação do pneu, gastos com a manutenção- além das despesas pessoais e com a família – é pouco provável que ele esteja disposto a investir no pagamento de um seguro total para o caminhão. Isso, mesmo sabendo dos riscos a que está permanentemente exposto nas estradas. Muitos aproveitam facilidades especiais oferecidas pelas cooperativas de transportes para o seguro contra terceiro, principalmente para os estradeiros que atuam no transporte internacional, por ser obrigatório em países como a Argentina. De um modo geral, apenas os caminhões de grandes empresas estão cobertos por seguro total.
O seguro contra terceiros, conforme explica a diretora da Malusc – Corretora de Seguros Ltda., de Porto Alegre/RS, Maria Luiza Scussel, 52 anos e há 33 no setor, é contratado com um limite para o conserto de bens materiais e assistência corporal a terceiros. Lembra que na parte física, antes é usado o limite do DPVAT (Danos Pessoais causados por Veículos Automotores Terrestres) depois, o valor restante será indenizado após julgado pelo seguro de terceiros do veículo causador do acidente. Esse seguro é uma continuidade do DPVAT, mas não é obrigatório no Brasil, sendo feito por pessoas conscientes da sua responsabilidade na hora de envolvimento de um acidente em que sejam os responsáveis, afirma. Lembra que normalmente cooperativas e concessionárias de veículos fazem apólices abertas, com a inclusão de vários veículos, obtendo descontos especiais das seguradoras.
O presidente da Cootranscau (Cooperativa dos Transportadores de Cargas de Uruguaiana Ltda), de Uruguaiana/RS, Dílson Cesar Brondoni Vizzotto, 39 anos de idade e 12 na área de transportes, afirma que os seguros contra terceiros são negociados diretamente com uma seguradora da Argentina em razão dos preços. Com a diferença cambial, na época, os valores ficavam um pouco mais da metade do que custariam no Brasil. Lembra que a cooperativa tem 169 associados e cerca de 320 caminhões, quase a totalidade atuando no transporte internacional, daí a necessidade do seguro contra terceiros, obrigatório na Argentina. Segundo ele, para os autônomos é praticamente inviável fazer o seguro total do caminhão, pois a maioria trabalha no limite, procurando equilibrar as despesas para cumprir com os compromissos no final do mês. Destaca, ainda, a necessidade de cumprir com a Lei do Descanso, limitando bastante o tempo de rodagem e, consequentemente, do faturamento.
Apesar do alto custo, o carreteiro Daniel Dal Pont, conhecido como Pequeno, 32 anos de idade e oito de profissão, natural de São Miguel do Iguaçú/PR, preferiu não se arriscar. Comprou um Iveco Stralis 2012 financiado pelo Procaminhoeiro, com seis meses de carência e parcelas mensais de R$ 6.300,00. A câmara fria – um sonho antigo – ele comprou à vista e o seguro total custou R$ 28 mil divididos em quatro vezes. Aproveitou a folga proporcionada pela carência do Procaminhoeiro e fez o seguro. Quando vencer, vai negociar com a seguradora para a renovação.
Daniel considera que o seguro total é muito importante e não quer ficar sem essa garantia para o seu patrimônio que ainda está pagando. Lembra que o caminhão sofreu uma batida no Chile, cujo conserto custou o equivalente a R$ 17 mil, totalmente pagos pelo seguro da pessoa responsável pela colisão. Ele viaja entre Brasil, Argentina e Chile por influência do pai, Sidnei Dal Pont, que há 20 anos faz essa linha. Antes trabalhava apenas no transporte nacional.
O estradeiro Edegar Paulo Richter, conhecido como Matreiro, tem 47 anos de idade e 12 de profissão. É natural de Três Passos/RS e trabalha como empregado de uma transportadora, dirigindo um Scania 2007 com baú entre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Argentina, Uruguai e Chile. O caminhão, como os demais da empresa, está totalmente coberto por seguro, incluindo vidros e reboque, caso seja necessário. Ele tem um telefone 0800 para ligar em caso de necessidade, que espera nunca precisar ligar, afirma.
Outro carreteiro cujo caminhão está coberto por seguro é o Adilson Casturino da Silva, o Tokynho, 31 anos de idade e 10 de direção. É natural de Fazenda Rio Grande, município da região metropolitana de Curitiba/PR, e trabalha no transporte internacional ao volante de Mercedes Axor 2009, transportando produtos químicos. Segundo ele, a empresa tem mais de 60 caminhões, todos com seguro contra terceiros, seguro total, rastreador, localizador e todos os itens de segurança. Ele viaja dentro das normas da empresa, observando todos os itens de segurança para o tipo de carga que conduz e observando com muita atenção os pontos de paradas e de pernoite, que devem obedecer a normas específicas, ressalta.
O carreteiro Silvino Braciak, 55 anos e 33 de direção, natural de Getúlio Vargas/RS, trabalha ao volante de um Iveco 2008 entre Uruguaiana/RS e São Paulo/SP no transporte de arroz e de todos os tipos de carga seca que possa carregar. A empresa para a qual trabalha tem cinco caminhões, todos com seguro contra terceiros, feitos através de cooperativa por ser mais em conta, segundo afirma. Não sabe muitos detalhes do seguro, pois em caso de alguma necessidade liga direto para o patrão. Nunca sofreu acidente e nunca teve qualquer problema sério em relação à segurança, “graças a Deus”, garante.