Por Elizabete Vasconcelos

Passados pouco mais de três anos da adoção da restrição de caminhões na capital de São Paulo, a medida tem se alastrado por diversas cidades brasileiras, por ser interpretada como a solução para boa parte dos problemas de mobilidade. A mais recente metrópole a adotar o controle de caminhões em suas ruas e avenidas é Curitiba/PR, restringindo o tráfego de pesados na chamada Linha Verde no início do mês de setembro.

Em São Paulo, números da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), de 2010, indicam que desde o início dos bloqueios houve uma melhora de 27% nos índices de congestionamentos na cidade. Mesmo assim, a capital paulista continua a registrar média de 100 km de vias travadas. E mais, mesmo com a inauguração de obras importantes como o trecho Sul do Rodoanel Mário Covas e a pista central da marginal Tietê – ambas no ano passado – a situação não melhorou como era esperado. De acordo com um levantamento da Rede Nossa São Paulo, organização que reúne mais de 600 ONGs com o propósito de fiscalizar as ações do governo, no período da manhã os congestionamentos na capital paulista ficaram piores do que antes, levando em consideração dados da CET.

Ari Duarte conta com a ajuda da esposa para se manter atualizado sobre as restrições aos caminhões em diversas partes do País
Ari Duarte conta com a ajuda da esposa para se manter atualizado sobre as restrições aos caminhões em diversas partes do País

Conforme a análise, pouco antes da inauguração do trecho Sul do Rodoanel, o governo e a Prefeitura de São Paulo chegaram a afirmar que a obra, juntamente com a ampliação da marginal Tietê, seria responsável por uma redução de até 12% nos índices de congestionamentos da capital paulista. Mas não foi isso que ocorreu na prática. A média de congestionamentos em abril de 2011 no pico da manhã – das 7h às 10h, horário do rodízio municipal – foi de 104 km, enquanto que no mesmo mês de 2010, logo após a inauguração das duas obras, era de 88 km. O aumento foi de 18%. Em comparação com 2009, o índice de lentidão da manhã de 2011 é 2 km acima da média do horário de rush.

Para o carreteiro Euripedes José Arantes, com tantas restrições a vida do carreteiro fica cada vez mais difícil
Para o carreteiro Euripedes José Arantes, com tantas restrições a vida do carreteiro fica cada vez mais difícil

Talvez por isso, profissionais da estrada continuam se sentindo prejudicados pela medida. “Alguém acha que o caminhão entra na cidade sem necessidade? Pois não entra. Todo carreteiro foge dos grandes centros, preferimos muito mais ficar nas rodovias, só trafegamos dentro das cidades quando é preciso”, retruca o motorista Ari Duarte Bueno, 43 anos de idade e há 18 no trecho, atualmente transportando combustíveis para o setor de aviação. “Carrego em Santos/SP e sigo para diversas partes do País, por isso preciso ficar atento a todas as restrições. Outro dia mesmo, minha esposa me ligou para que eu pudesse ouvir uma notícia na TV que falava da restrição em Curitiba/PR. É um jeito que encontramos para que eu fique em alerta e não receba multas”, comenta. Para o carreteiro Euripedes José Arantes, 63 anos e quase 40 de estrada, as restrições atrapalham muito, porque fazem com que o frete acabe demorando mais, por conta dos horários determinados para trafegar. “A situação é cada vez mais difícil para o motorista”, aponta.

Os caminhões têm fama de serem os causadores dos problemas no trânsito das grandes cidades, mas não é assim, afirma Cláudio Roberto
Os caminhões têm fama de serem os causadores dos problemas no trânsito das grandes cidades, mas não é assim, afirma Cláudio Roberto

Cláudio Roberto, de 43 anos de idade, que atua no transporte de carga há mais de 20, destaca que é preciso informação, pois nem todo carreteiro sabe onde não pode trafegar. “Já tive de esperar muitas horas para entrar em São Paulo. Eu poderia ter feito a entrega ao cliente no mesmo dia, mas por conta desta espera para o horário de circulação de caminhões tive que fazer a entrega no dia seguinte”, lembra. Ele destaca ainda que os carreteiros “não podem pagar pelos problemas do trânsito das cidades, o caminhão é sempre o vilão, o culpado por tudo, mas não é assim. Se os caminhões pararem o País também se paralisa”, adverte.

Os amigos do Rio Grande do Sul, Marciomar, Vinicius e Telmo, preferem a estrada e garantem que só entram na cidade quando é necessário
Os amigos do Rio Grande do Sul, Marciomar, Vinicius e Telmo, preferem a estrada e garantem que só entram na cidade quando é necessário

Os gaúchos Marciomar Raiter Scremin, Vinicius de Moraes e Telmo Antunes dos Santos, engrossam o discurso dos colegas de profissão. “A gente não é turista, todos os pesados que entram nas cidades estão trabalhando. Pode ter certeza que se pudéssemos nem passaríamos perto destas avenidas super movimentadas”, diz Marciomar com o apoio dos amigos.