Por Daniel Rela
Na contramão do desenvolvimento está a falta de infraestrutura em muitas estradas brasileiras. Em cima dessa justificativa, o Ceará proíbe a circulação de caminhões com peso acima de 45 toneladas nas rodovias estaduais. Essa realidade torna difícil o transporte de cargas, principalmente para bitrens e rodotrens. Entenda a dificuldade: ao chegar a uma rodovia estadual cearense, os motoristas devem apresentar autorizações especiais de trânsito individuais para todas as composições. Caso o caminhão seja articulado, os carreteiros são obrigados a transportar uma carreta por vez, refazendo o restante do percurso quantas vezes for necessário para completar a viagem. Esse itinerário encarece o serviço e torna mais cansativa a jornada de trabalho. Isso, sem contar com as possíveis multas, caso o motorista não apresente uma AET para cada implemento. Além do peso e conteúdo das carretas, transportadoras e autônomos têm de informar o percurso completo da viagem para conseguir uma AET. Em caso de qualquer alteração no trajeto determinado, torna-se necessária a emissão de uma nova autorização, que pode ser obtida gratuitamente pela internet. O problema nesse caso é a falta de conhecimento do carreteiro sobre o sistema e a dificuldade para encontrar uma lan-house (local para uso de internet e impressão). “Fica difícil programar perfeitamente a rota, imprevistos acontecem e não é fácil achar um computador com internet e impressora. A cobrança de pedágio para a reforma e manutenção da pista é a melhor opção”, opina Luiz Croce, proprietário da transportadora Transcroce.
Sobre essas dificuldades, o diretor do núcleo de trânsito do Detran do Ceará, Ulisses Malveira Goes, afirma ser simples a solução. “A validade da AET é de 30 dias e renovável após este período. O mais indicado no momento da solicitação é colocar o maior número de localidades para o trajeto do veículo. Basta pesquisar a rota e as possibilidades de desvio antes de solicitar a autorização, além de ser possível emitir uma nova autorização a qualquer momento pela internet.” explica.
Em 2010, segundo dados divulgados pelo órgão cearense, 23.709 pessoas e/ou empresas realizaram solicitações de autorização especial de trânsito para 72.290 caminhões e 18.797 carretas. As rodovias com maior tráfego de veículos pesados são CE-176, CE-371 e principalmente a CE – 060, que cruza o Estado do Norte ao Sul.
O Detran cearense alega efetuar um controle de tráfego desde 2001, que aponta excesso de peso como principal razão do desgaste prematuro das rodovias. O estudo revela, também, que as pontes são o principal fator de risco com a circulação de veículos pesados, pois suportam no máximo 47 toneladas. Em 2007, por exemplo, uma ponte localizada no trecho de Quixeramobim (CE-060) cedeu cinco centímetros após a passagem de caminhões pesados, com peso acima das 45 toneladas permitidas. Na opinião de Alessandro Bof, proprietário da transportadora Unibof, o governo estadual está correto em limitar o tráfego de veículos pesados nas rodovias, “Eu sou contra os caminhões bitrem e rodotrem, eles acabam com as estradas”, enfatiza.
Em contra partida, o proprietário da Pedra Branca Transportes, Paulo Alves Ferreira, atenta para o futuro do transporte nacional e cobra soluções. “Os caminhões com alta capacidade de carga são uma tendência sem volta, é preciso uma nova solução ou o abastecimento das cidades cearenses pode ser prejudicado”, opina.
Questionado sobre possíveis problemas para o abastecimento das cidades, o diretor do Detran/CE, Ulisses Malveira Goes, afirma existir o bom censo por parte dos policiais rodoviários na fiscalização. “Caminhões carregados de produtos perecíveis e fora dos padrões exigidos são autuados, mas seguem viagem para não prejudicar o abastecimento do comércio”, afirma. Ele também confirmou a existência de um estudo de engenharia de tráfego para possíveis mudanças na regulamentação atual, mas o alto investimento necessário para readequar a infraestrutura viária trava as mudanças.
Outro problema conhecido do motorista brasileiro é o pagamento de propina para a liberação dos caminhões. De acordo com carreteiros que preferem não se identificar, no caso de bitrens é comum policiais sugerirem o suborno, informando inclusive a diferença entre o valor da propina e o desembolsado com multas e despesas para finalizar o serviço.
Em resposta as acusações, o Tenente Coronel da Polícia Militar e Comandante da Polícia Rodoviária Estadual do Ceará, Francisco Túlio Studart de Castro Filho, retificou a importância de uma denúncia formal à corregedoria do órgão, em caso de qualquer tentativa de extorsão. “É só através das denúncias que podemos provar se isso realmente acontece. Inclusive, nós intensificamos as investigações nos últimos meses para extinguir os falsos policiais da corporação”, afirma.
As restrições ocorrem também em Minas Gerais, onde caminhões de 57 toneladas não estão sendo autorizados a circular pela BR381 no período noturno. Antes de iniciar qualquer viagem, a transportadora ou o carreteiro autônomo deve buscar informações sobre as rodovias da rota.