Por Evilazio de Oliveira
Para a maioria dos carreteiros autônomos, a possibilidade de trabalhar como agregado de uma grande empresa transportadora, com a garantia de cargas certas e o respaldo de uma logística bem estruturada, pode significar o fim das longas esperas nos estacionamentos dos postos de combustível à espera de frete ou das negociações com agentes de carga, nem sempre vantajosas para os estradeiros. Apesar dessa suposta vantagem em trabalhar como agregado há quem prefira a liberdade de poder escolher a carga ou horário de suas viagens. “Agregado é como empregado. Está sempre à disposição do patrão”, dizem. E, para as empresas, a utilização de carreteiros agregados pode significar economia na compra de caminhões, manutenção e contratação de pessoal, além de utilizá-los apenas em períodos de grande demanda no transporte de cargas.
Em Caxias do Sul/RS, a Transportes Pellenz Ltda., uma das maiores da região e com o foco principal no mercado internacional, está programando a contratação de carreteiros autônomos no segundo semestre deste ano, conforme explica a diretora de RH da empresa, Eliza Pellenz, 55 anos e há 10 ajudando na administração da empresa da família. “Atuando no mercado nacional e internacional, há 26 anos, de vez em quando a empresa precisa se socorrer de freteiros para garantir os compromissos nas operações de exportação e importação das indústrias da região”, diz.
De acordo com a coordenadora administrativa e financeira Carina Pellenz, 27 anos e cinco de profissão, a empresa dispõe de 230 equipamentos, entre caminhões, cavalos, semi-reboques, siders, baús, rebaixados e veículos leves. Desses, pelo menos 80 caminhões pesados são utilizados no transporte internacional, sobretudo nas rotas da Argentina e Chile. Ela explica que a atual estrutura, com o auxílio de 10 a 15 freteiros, está dando conta da demanda. Todavia, com o crescimento dos negócios, será preciso a contratação de agregados. A direção da empresa ainda estuda a forma como isso será feito, porém, certamente serão exigidos caminhões com menos de 10 anos de uso e equipados com rastreadores, além de toda a documentação necessária e uma boa ficha cadastral do interessado. Embora esses agregados possam ser utilizados no transporte internacional, a aposta é no transporte nacional onde a empresa tem o seu maior filão no setor de cargas.
Na opinião do carreteiro Sidmar Bavaresco, 40 anos e 20 de profissão, a principal vantagem de trabalhar como agregado é ter a certeza de carga certa, sem os transtornos de ficar em pátios de postos de combustíveis – às vezes por vários dias – a espera de um frete compensador. Natural de Venâncio Aires/RS e dono de duas carretas, uma 2003 e outra 2010, ambas agregadas à filial de Caxias do Sul da Transpaulo Ltda., carrega para os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Está nessa atividade há três anos e embora precise procurar frete de retorno, está satisfeito. Tanto que deixa de ganhar um dinheiro extra no transporte de safras naqueles Estados para manter o compromisso assumido como agregado. Antes da Transpaulo e quando tinha apenas um veículo, trabalhou também por três anos como agregado da Bunge Alimentos. Segundo ele, esse tipo de parceria é bom para a empresa e para o dono do caminhão, porque podem trabalhar sempre em sintonia. Lembra, no entanto, que a maioria das empresas faz muitas exigências na hora de contratar agregados, necessitando de uma boa ficha cadastral, documentação em ordem, caminhões com menos de 10 anos de uso e com rastreadores e empresa registrada como transportador, entre outros itens. Trabalhar como agregado é a única saída para o autônomo, salienta.
Natural de Caxias do Sul/RS, o cegonheiro José Ângelo Maccari, 43 anos e 23 de estrada, tem cinco caminhões agregados à Tegma Logística Ltda., de São Bernardo do Campo/SP. Ele é dono da AJMM Transportes Ltda. e até pouco tempo trabalhava com três caminhões, porém a atividade deu bons resultados e ele acaba de comprar mais dois veículos para incorporar à frota de agregados. Um dos caminhões foi adquirido através de consórcio e outro a vista. “As carretas cegonhas também foram compradas a dinheiro”, conta. Apesar das dificuldades para conseguir agregar caminhões nas grandes transportadores de veículos novos, José Maccari avalia que só na região de Caxias do Sul pelo menos 100 autônomos atuem como cegonheiros agregados. Aliás, segundo ele, essa é a única saída para os pequenos transportadores pela vantagem de ter o frete garantido, facilitando também para as empresas, que não precisam investir em novos equipamentos. Paranaense do município de Dois Vizinhos, Clodomir Colla, 37 anos e 14 de estrada, trabalha como empregado ao volante de uma carreta no transporte de cargas por todo o território nacional. Segundo ele, seu patrão tem outro caminhão no trecho, mas nunca trabalhou como agregado. Acredita que “quando se agrega, acaba como funcionário, perdendo a liberdade e ficando sempre à disposição da empresa”.
Lembra que o patrão sempre tem carga certa e quando é preciso ele tem liberdade para fazer negociação sobre valores e destino da carga. Está há cinco anos nesse emprego e “até agora está bom”, garante. O carreteiro Alencar Martins Moraes, 42 anos e 22 de profissão, natural de Bom Jesus/RS trabalha como empregado dirigindo um Mercedes 2003 no transporte de madeira. Apesar de não ter experiência como agregado acredita que esse sistema funcione muito bem. Explica que na empresa onde trabalha são utilizados três caminhões agregados no transporte de toras de pinus, da mata para a serraria, com combustível e manutenção por conta da empresa.
Acredita que para os donos dos caminhões seja um bom negócio, pois tem o serviço certo e toda a assistência, recebendo o dinheiro limpo no final do mês e sem a preocupação de ficar atrás de carga. Segundo ele, tem muita gente querendo agregar caminhão, mas faltam empresas interessadas. Sem nunca ter sido dono de caminhão ou trabalhado como agregado, Paulo Bolívar Machado, 57 anos e 20 de direção, natural de Quaraí/RS, não tem opinião formada para o assunto. Todavia, acredita que como em qualquer tipo de negócio, é preciso que seja bom para as duas partes, ou não dá certo.
Ele dirige o caminhão de uma transportadora para a qual trabalha. Carrega autopeças para Sorocaba/SP e retorna com alumínio ou aglomerados de madeira. Não precisa se preocupar em procurar cargas, “tudo por conta da empresa”, diz. Viajando da Serra Gaúcha para o Paraná, o carreteiro Renato Damião, 56 anos e 36 de boleia, garante que nunca se interessou em trabalhar como agregado. Dono de um caminhão trucado, diz que as empresas pagam o que querem, o frete é barato e no final só o embarcador ganha. Explica que como tem carga garantida e programada para o Paraná, não precisa se preocupar. E se for o caso, retorna vazio para não se submeter aos baixos valores oferecidos pelo frete. Afinal, diz ele, esses valores apenas ajudariam um pouco na despesa da viagem. “É preferível voltar vazio”.
Depois de trabalhar como empregado por alguns anos, o motorista João Paulo Ribeiro, 36 anos e 14 de volante, natural de Venâncio Aires/RS, acertou a compra de um caminhão da empresa da qual era funcionário, com a promessa de continuar na mesma função, mas como agregado. Ele transporta fogões industriais da fábrica para mercados de Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Recebe o caminhão carregado, enlonado, despesa pessoal, óleo, vale-pedágio e uma comissão de seis por cento sobre o valor da mercadoria transportada. Ao final da viagem, o caminhão é descarregado e ele só cuida da documentação. No caso de voltar vazio, a empresa dá uma ajuda de custo. Se voltar carregado, perde a ajuda. Com isso, João Paulo está vivendo bem, fazendo três viagens por mês e conseguindo manter a família – mulher e duas filhas de dois e oito anos – com relativo conforto e pagar a prestação de R$ 2.800,00 “sem perder o sono”.