Por Daniela Giopato
A situação enfrentada por grande parte dos carreteiros neste início de ano, com a falta de carga para transportar, é retratada pelos longos períodos parados nos postos de serviço de estrada, onde a espera para carregar chega a superar 20 dias. Este tempo no caso de quem depende exclusivamente do caminhão, significa uma grande redução nos ganhos e, consequentemente, problemas para o sustento da família e saldar os compromissos.
Em meados de janeiro, um dos locais onde havia vários motoristas esperando cargas há dias era o Posto 23, localizado no km 23 da Régis Bittencourt, no Taboão da Serra/SP.
“Normalmente o movimento aqui é entre 20 e 25 caminhões, mas desde o início de janeiro subiu para mais de 80. É uma situação inesperada”, contou Genilda Alves da Silva, secretária do proprietário do estabelecimento, que contabilizou também uma redução entre 30 e 40% na venda de diesel a partir do final de dezembro, comparado ao mesmo período de 2007. O serviço de borracharia do posto também apresentou queda, pois até novembro eram atendidos diariamente entre 20 e 30 caminhões e caiu para uma freqüência diária entre cinco e 10 veículos.
“Não há carga para lugar nenhum, o jeito é esperar e rezar para voltar logo para casa, pois com o caminhão vazio a empresa não autoriza o retorno”, afirmou Milton dos Santos, 30 anos de idade e mais de 10 na estrada, de Itajaí/SC. Ele viaja o Brasil transportando material para hidrelétrica e diz que desde o final de 2008 é comum encontrar nos postos de estrada grande número de carreteiros aguardando carga para seguir viagem. “O pior é que no meu caso não recebo diária e tenho que me virar e cozinhar, só ou se juntar com os colegas, caso contrário tenho de gastar cerca de R$ 10,00 por dia com alimentação”, explica, acrescentando que a comissão também fica comprometida, pois depende do faturamento do caminhão.
A expectativa de Santos é que depois do Carnaval a situação comece a normalizar, caso contrário muitos desistirão da profissão. Diz que muitos motoristas já se queixaram que não estão conseguindo pagar as contas, e se não melhorar o jeito será buscar outra ocupação. “O negócio está feio mesmo, e o governo ainda diz que o Brasil não sofreu com a crise”, desabafa.
Com 42 anos de profissão e 63 de estrada, José Pedro Carvalho afirma que em todo esse tempo que está na estrada nunca enfrentou uma situação difícil como agora. Apesar do movimento ser fraco, típico de final e início de ano, ele afirma que sempre conseguia uma carga ou outra, mesmo que fosse para curtas distâncias. Este ano, porém, ele já estava parado a quase 20 dias e sem perspectiva alguma de quando poderia carregar e retornar para casa. “Ficar parado em um posto, longe da família e dormindo no caminhão é horrível, não temos nada para fazer. Tenho sorte de ter irmãos que moram perto, então fico com eles no final de semana”, diz.
José diz ainda que a situação atingiu todos os motoristas, sejam eles autônomos, empregados ou agregados, e que tem ouvido em conversas com outros carreteiros que muita gente já estava pensando em desistir da profissão para tentar ganhar a vida em outras atividades. “Caminhão parado é prejuízo. E trafegar vazio é completamente inviável, o jeito é esperar e acreditar que as coisas vão se normalizar”, afirma.
Sentado ao lado de outros 10 motoristas, num cenário que lembra uma reunião de amigos em férias na praia, Isaac Charles Dias da Silva, 24 anos de idade e dois de estrada, contou, na ocasião, que estava parado havia 25 dias e que ainda tinha oito caminhões na frente dele para carregar. “O posto se tornou praticamente a minha casa. É aqui que tomo banho, faço minhas refeições e durmo. Nunca pensei que pudesse ficar tanto tempo sem fazer nada”, lamenta. Para ele, o pior de tudo é saber que não teria pagamento para receber e que certamente sentiria os reflexos pelo tempo que ficou parado”. Mas, como boa parte acreditava que o Brasil só iria “funcionar” depois do Carnaval o jeito seria aguardar.
Em situação um pouco diferente de seus colegas, o autônomo Adolfo Wurfel, 43 anos de idade e 20 de estrada, transporta arroz do Sul para São Paulo e dizia que apesar de o movimento estar baixo não ficou nenhum dia parado. Disse na ocasião que ainda não havia sentido o problema de ficar parado por tanto tempo quanto os motoristas que fazem a rota Mercosul. Ele explicou que sempre aparece uma carga para não voltar vazio e ter prejuízo. “Minha expectativa é que a partir de março o movimento de carga aumente para mim”, concluiu.
Lisandro Machado, 31 anos de idade e 14 de profissão, conta que na semana do Natal e Ano Novo ficou parado oito dias. Ele havia chegado ao Posto 23 apenas um dia e não tinha previsão alguma sobre quando conseguiria uma carga. “O jeito é empurrar com a barriga. Geralmente faço quatro viagens por mês e recebo cerca de R$ 2.300,00. Já se passaram 20 dias do mês e até agora só ganhei R$ 680,00. Mas as contas estão lá, chegando todos os meses na minha casa, com o mesmo valor”, reconheceu.
Em sua opinião, este final e início de ano têm sido um dos piores dos últimos anos, porque juntou a crise mundial com o baixo movimento típico deste período de festas e férias. “Agora é torcer para chegar logo o Carnaval, quem sabe depois disso o Brasil melhora. O ano de 2008 foi ótimo e gostaria muito que 2009 fosse igual”, deseja.
Seu colega da mesma empresa, Lucas Antônio Pereira, 12 de profissão e 34 de idade, lembra que a única vez que passou uma situação semelhante a essa foi em meados de 1997, ocasião em que ficou parado cerca de 15 dias. Porém, Pereira reconhece que agora está pior, porque normalmente nesta época está tudo meio parado. “Não é fácil ficar sem perspectivas e o pior, sem dinheiro no bolso para pagar as contas e sustentar uma casa”, lamentou. O carreteiro elogiou o ano 2008. Disse que trabalhou bastante e que está na torcida para que nos próximos meses de 2009 o movimento de carga aumente.
O autônomo Harley Antônio Becker, 50 anos de idade e 32 de profissão, transporta como carga principal sapatos de exportação, e admite que o faturamento caiu cerca de 40% entre o final de dezembro e início de janeiro. “Quase não há serviço, faz dois dias que estou parado aqui em São Paulo, sem contar o tempo que fiquei no Sul. Estou agüentando firme, mas conheço um colega que já largou o caminhão”, confessou na ocasião. Em 2008, Harley fazia quatro viagens em um mês e desde o final do ano dezembro esse número foi reduzido pela metade e, inevitavelmente, afetou o orçamento mensal.
Harley aproveita para falar sobre algumas tentativas do governo para driblar essa crise, como a redução do IPI para caminhões. “Em outros tempos essa medida seria uma ótima oportunidade para comprar ou trocar o caminhão. Mas hoje ninguém está o suficiente seguro para assumir uma dívida dessa”, conclui.
Para Diogo Heberle, de Ijui/RS, 34 anos e 16 de profissão, o movimento de carga baixou cerca de 50% desde o final do ano. “Em um mês fazia quatro viagens, a partir de novembro passado esse número foi reduzido a apenas duas. Já fiquei parado oito dias e, apesar de ser pouco quando comparado a outros colegas, isso resultou em uma redução significativa no meu orçamento”. Apesar de toda esta situação, Diogo tem esperança que após o Carnaval as coisas vão começar a melhorar. “É o que todos esperam já que escutei muitos colegas afirmarem que estão pensando em migrar para outra profissão”,conta.