Por Wilgen Arone

Assim como no Brasil, na Alemanha é também uma operação difícil um motorista autônomo ou pequeno transportador comprar um caminhão novo. Quanto menor for a operação do interessado, maior será a probabilidade de necessitar de um empréstimo ou mesmo de um financiamento provisório para ajudar a arcar com os altos custos de aquisição. As formas de pagamento da dívida, as taxas de juro, os prazos e condições das instituições financeiras são tão diversas quanto os modelos de caminhões que estão representados no mercado.

A regra diz que o essencial em um empréstimo, são as condições negociadas para o reembolso. Se o credor não ler o contrato com a atenção necessária, pode ser arriscado, especialmente se houver problemas de pagamento. Portanto, o bom funcionamento do empréstimo é uma precondição para o sucesso econômico de qualquer autônomo, para que ele possa ficar livre de preocupações financeiras podendo se concentrar nas tarefas essenciais. “O importante é que o financiamento do veículo seja planejado de uma maneira sólida, para que não haja imprevistos”, ressalta o autônomo Klaus Illg, acrescentando que atualmente não se pode pagar por tudo com o fluxo de caixa ou economia. “Um financiamento inesperado pode comprometer o orçamento”, diz.

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O importante é que o financiamento do veículo seja planejado de uma maneira sólida, para que não haja imprevistos, ressalta o autônomo Klaus Illg

Ele vê vantagem em comprar um caminhão usado e cita seu próprio caso como exemplo. “O bom de ter optado por uma carreta completa usada foi o fato de ter economizado. Comprei o veículo pronto e paguei a vista 92.000,00 euros. Se tivesse comprado um novo, do jeito que ele está, teria pago 120.000,00” conta Klaus Illg. O veículo comprado por ele é um MAN LE 15.280 fabricado em 2010.

Outro motorista de caminhão, Patrik Lindner, acrescenta que ao mesmo tempo que é necessário cortar custos, porque os gastos operacionais são geralmente elevados, a concorrência no mercado está crescendo cada vez mais na Alemanha. Ele diz que empresas de países vizinhos, cujo valor de serviço é mais barato, representam risco para o setor. “A concorrência desleal me fez desistir de ser autônomo. Eu tinha quatro caminhões e trabalhava diretamente na indústria e também como subcontratado. Hoje estou empregado em uma empresa do ramo”, conta. Ele acrescenta que antigamente a concorrência era baseada no serviço, mas hoje ela é baseada no preço e essa prática tem contribuído para quebrar as pernas de muita gente.

Caminhões usados também devem servir de base para discussão quando não se tem necessidade de um veículo novo, porque é com esse meio de transporte que se obtém os lucros. O problema de um veículo usado é a situação, que devido aos anos de rodagem, pode apresentar imprevistos. “Nós tivemos problemas com o veículo antigo, já que ele não pode circular em grandes cidades devido ao programa de proteção ambiental. Compramos e instalamos um filtro no veículo para diminuir o índice de poluição. Só esse concerto custou cinco mil euros. Se a carreta fosse nova não teríamos esse problema, mas quando compramos não sabíamos que essa lei seria logo inserida”, conta o autônomo Bernhard Schroth.

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O autônomo Gerd Unzicker diz que nunca enfrentou problema porque sempre teve caminhão novo, pois se acontecer qualquer coisa basta dizer que está quebrado

A vantagem de um caminhão novo é a garantia, menor possibilidade de ocorrer panes, já que, em princípio, não está sujeito a tantas falhas quanto um mais antigo. O carreteiro Gerd Unzicker lembra que nunca teve problema, porque sempre teve caminhão novo. “Se acontece algo tenho seguro, uma garantia de mobilidade, é só dizer o que está quebrado e recebo ajuda. É enviada uma oficina ambulante para solucionar ou obtenho um veículo para continuar minha viagem”, explica.

Outra razão para comprar um veículo novo é a uniformidade. No setor de transportes, o veículo representa a empresa, portanto ele deve ser uniforme, com as cores corporativas. Não pode ser colorido. “Essa seria uma das razões para comprar um veículo novo e não um usado, já que nem sempre é fácil de encontrar algo adequado”, alega Klaus Illg. Em caso de financiamento, o tempo de duração e o valor das prestações dependem do modelo de financiamento e da entrada dada. Para veículos articulados, o prazo é de 12 a 90 meses. Além das instituições financeiras, os fabricantes também oferecem vários programas de crédito, como o financiamento padrão, o de tarifa sazonal, o de tarifa final e por último, o modo flexível de pagamento.

Os bancos das montadoras oferecem financiamento semelhante ao sistema hipotecário. O caminhão é a segurança e ainda assim é possível conseguir boas condições de compras. “Esta é uma enorme vantagem porque não preciso ter um capital inicial muito elevado. Em um banco privado a história muda, pois se o veículo for usado como garantia é necessário pagar uma quantia maior de depósito, portanto somente o restante do valor seria considerado como segurança. O problema é que o documento fica vinculado no banco”, justifica Schroth.

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Caminhão usado é mais fácil de adquirir, mas Bernhard Schroth teve de gastar para reduzir emissões e atender a legislação local de meio ambiente

O que é bom para um não precisa ser necessariamente bom para o próximo. Há 25 anos trabalhando no setor de transportes de mercadorias, Illg revela que conhece todos os diferentes sistemas de pagamentos. Para ele, a melhor forma seria o pagamento a vista. “É claro que a maioria não tem como e nesse caso, aconselharia o empréstimo bancário, porque as taxas de juros de 4% estão muito baixas  no momento”, avalia.

Financiamento é igual em qualquer lugar. Na opinião de Bernhard Schroth, as instituições financeiras não oferecem as melhores condições para os clientes. “Os bancos querem ganhar dinheiro. É preciso pressionar para conseguir melhores condições. Quem não tem crédito favorável é obrigado a aceitar as exigências das instituições financeiras, mas quem tem alguma garantia tem de negociar”, comenta. Ele lembra que já financiou um caminhão e ao final de cinco anos o veículo já era todo seu.

Já o leasing tem suas vantagens e desvantagens. Quem optar por esse sistema para aquisição do veículo novo não só pagará as mensalidades, mas também terá que arcar com mais 20% de custos, no final, para ficar com o caminhão. Na Alemanha, o leasing tem vantagem fiscal, é possível deduzir os impostos por um longo tempo. Gerd Unzicker conta que o seu Mercedes-Benz Actros é novo. Na ocasião em conversa com a reportagem da Revista O Carreteiro ele estava há apenas três dias com o caminhão. “Optei pelo leasing porque tenho mais vantagens ao deduzir os custos do meu imposto de renda. Os valores das prestações são de 1.100 euros por mês, quando eu termino de pagar as prestações o caminhão volta para a Mercedes e pego outro novo”, disse.

Com o arrendamento, o condutor não é o proprietário do caminhão, isso significa também que a empresa não seja obrigada a vendê-lo para o motorista que fez a locação. Pode acontecer que a empresa de leasing queira oferecê-lo no mercado para ter um ganho maior. “Se eu cuidei do veículo com a intenção de comprá-lo depois dos quatro anos de uso, pode ser que a empresa de leasing tenha outros para ele”, alerta Klaus Illg.