Por Daniel Rela

Até o final da década de 90, os carreteiros tinham apenas o rádio PX para a comunicação com transportadoras e os colegas de estrada. Através do tradicional aparelho eles trocavam informações sobre congestionamentos, acidentes e situações climáticas, entre outras. Já com a família, o contato era feito por telefone público, os famosos “orelhões”, muitas vezes quebrados, o que dificultava muito a comunicação. Era comum motoristas ficarem dias sem notícias dos familiares. A saudade e a preocupação eram ainda maiores até a telefonia móvel chegar às estradas. Embora de forma lenta e gradativa, o número de torres foi ampliado e hoje os celulares funcionam de Norte a Sul do País. Em poucos anos, o aparelho tornou-se a principal forma de comunicação dos motoristas. Entre uma parada e outra, o contato com clientes, família e amigos ajuda a diminuir a solidão e a saudade. Só quem fica boa parte da vida nas estradas sabe o quanto é importante contar com essa facilidade.

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O telefone celular é indispensável para o bom desempenho da profissão, ajuda a manter a calma em dias difíceis, diz o carreteiro Davi Rosa de Mello

Para Davi Rosa de Mello, 36 anos de idade e 18 de profissão, o celular é indispensável para o bom desempenho da profissão, pois ajuda a manter a calma em dias difíceis. “Falo com elas (esposa e filha) duas vezes por dia no mínimo e mais três com a transportadora”, diz. Gaúcho de Roque Gonzáles/RS, Davi faz o trajeto Sul-Bahia e leva esposa e filha nas viagens sempre que possível. “Assim a saudade é menor e elas ficam conhecendo um pouco do meu trabalho”, afirma.

O rádio PX é muito bom, onde o celular não funciona é com ele que me comunico, afirma Valmor Bittencourt, que fala duas vezes ao dia com a família
O rádio PX é muito bom, onde o celular não funciona é com ele que me comunico, afirma Valmor Bittencourt, que fala duas vezes ao dia com a família

Hoje, um rádio móvel muito utilizado pelos motoristas também faz o papel do celular, embora existam ainda pontos mais remotos em rodovias onde o sinal some e os motoristas ficam sem comunicação. Já com o PX esse problema não acontece, por isso ainda é possível encontrá-lo em alguns caminhões. É o caso de Valmor Bittencourt, 32 anos de idade e quatro na profissão. “O PX é muito bom, onde não tem sinal de celular é com ele que me comunico”, diz. Quando o assunto é a comunicação com a família, o carreteiro de São José do Cedro/SC afirma falar pelo menos duas vezes por dia com a esposa pelo celular. Quanto à Internet demonstrou desinteresse. “Tenho em casa (internet), mas na estrada é difícil encontrar algum local para me comunicar e quando chego quero mesmo é descansar”, justifica.

Para Ângelo Lopes, que usa celular e não se interessa pela Internet, com o avanço das novas tecnologias a tendência é o rádio PX desaparecer
Para Ângelo Lopes, que usa celular e não se interessa pela Internet, com o avanço das novas tecnologias a tendência é o rádio PX desaparecer

Essa dificuldade de encontrar lan-houses (locais com computador e acesso à internet) nas estradas também desestimula o gaúcho de Uruguaiana/RS, Ângelo Lopes, 34 anos de idade e 15 dirigindo caminhão. Para ele a internet ainda é desconhecida. “Não uso e não tenho interesse, prefiro o celular e o rádio”, enfatiza. Sobre o PX, Ângelo afirma que o antigo sistema de rádio ainda faz parte da rotina de alguns carreteiros, mas com o avanço da tecnologia e a expansão da cobertura das operadoras, a tendência é acabar.

Alcides dos Santos defende o uso do PX porque tem opinião de que o aparelho ajuda em situações como consgestionamentos
Alcides dos Santos defende o uso do PX porque tem opinião de que o aparelho ajuda em situações como consgestionamentos

O uso do celular ou rádio móvel ao invés do PX tornou-se exigência de certas transportadoras. Segundo o carreteiro Alcides dos Santos, 32 anos de idade e sete de estrada, o tradicional rádio é proibido na empresa que trabalha. “Eles acham que o PX tira a atenção, mas eu discordo. Em uma situação de congestionamento, por exemplo, um aviso pelo PX pode ajudar muito, pois ao invés de ficarmos parados na estrada, podemos descansar em algum posto e voltar para a pista quando o tráfego fluir. Assim, não tem motorista cansado na estrada, o que é bom pra todo mundo”, explica.

Para se ter uma idéia do tamanho do mercado de telefonia móvel no Brasil, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) divulgou que o País fechou fevereiro de 2011 com mais de 207,5 milhões de assinantes na telefonia celular. Só nos dois primeiros meses do ano foram registradas 4,6 milhões de novas habilitações, o maior número dos últimos 11 anos para o período. Esse cenário também pode ser detectado nas estradas brasileiras, onde muitos carreteiros possuem dois aparelhos, um exclusivo da empresa e outro pessoal. O acesso ao celular traz muitos benefícios para os carreteiros, mas vale lembrar que dirigir falando ao telefone é perigoso e considerado infração pelo código nacional de trânsito.