Por Daniela Giopato
Fotos: Alexandre Andrade

Durante anos, os pneus foram considerados um dos grandes vilões na planilha de custos dos motoristas de caminhão, mas atualmente parece que as despesas com estes componentes já não são mais tão pesadas quanto já foram no passado. Explicações para isso se fundamentam nas tecnologias aplicadas na fabricação do produto, na eficiência dos processos de recapagem e na própria manutenção e cuidados que transformaram os pneus em itens de durabilidade e eficiência, salvo os estragos e perdas de carcaças provocadas pelas condições da malha rodoviária brasileira. A primeira vida útil, dizem os carreteiros, pode chegar a 120 mil quilômetros desde que seja tomado os cuidados necessários como calibragem, balanceamento e alinhamento.

Na opinião do autônomo Eduardo Luís Amaral, o custo do pneu é baixo e está longe de comprometer o faturamento dos carreteiros
Na opinião do autônomo Eduardo Luís Amaral, o custo do pneu é baixo e está longe de comprometer o faturamento dos carreteiros

O autônomo Eduardo Luís Amaral, 22 anos de idade e três de profissão defende que o pneu está longe de ser um item que compromete o faturamento dos carreteiros. Em sua opinião, antes do pneu existem custos maiores como óleo diesel, pedágio entre outros. “Hoje não tem pra ninguém, o maior custo da planilha de qualquer motorista é o diesel. É ele que está prejudicando o nosso rendimento”, afirma. Para garantir a eficiência dos pneus, Amaral diz que realiza todas as manutenções preventivas como verificar pressão, calibragem e balanceamento, por se tratar de ações que aumentam a durabilidade. “Pneus você gasta uma vez e depois é só manter”, explica.

Os pneus duram em média dois anos, por isso vale a pena investir e cuidar deles da maneira correta, sugere Gileno Sérgio Hipólito
Os pneus duram em média dois anos, por isso vale a pena investir e cuidar deles da maneira correta, sugere Gileno Sérgio Hipólito

O também autônomo Gileno Sérgio Hipólito, 38 anos de idade e 18 de profissão, de Lavras/MG, que viaja na rota São Paulo – Belo Horizonte, concorda com o colega e diz que os pneus duram uma média de dois anos, por esse motivo vale a pena investir e cuidar de maneira correta. “Antes de escolher o pneu faço uma pesquisa para saber sobre a durabilidade e depois comparo os preços. É diferente do combustível, que está cada vez mais caro”, reforça. Gileno também tem opinião de que o diesel e o pedágio são os itens que mais comprometem o faturamento do carreteiro atualmente. “A situação está cada dia mais difícil e meu caminhão é velho, fabricado em 1986, por isso cuido muito bem dele também para não ter problemas e aumentar ainda mais os meus custos”, afirma.

Se os problemas dos carreteiros fossem apenas os pneus a situação estaria boa, porque estão cada vez mais eficientes, diz Luiz Flávio Max de Souza
Se os problemas dos carreteiros fossem apenas os pneus a situação estaria boa, porque estão cada vez mais eficientes, diz Luiz Flávio Max de Souza

Os pneus não representam quase nada nos custos do motorista. A afirmação é do carreteiro Luiz Flávio Max de Souza, 36 anos, 15 de profissão, de Maceió/AL. Ele faz a rota entre São Paulo e a região Nordeste e diz estar desanimado com a profissão pelo fato de não estar mais conseguindo viver do caminhão. “Se todos os nossos problemas fossem o pneu, a situação estaria boa, porque estão cada vez mais eficientes, se a manutenção for feita corretamente duram muito”, acrescenta. Souza lembra ainda do pneu recapado, cujo preço é inferior ao novo.

“O diesel sim é o nosso custo principal. É ele que consome quase metade do frete e se continuar assim deixo a profissão ainda esse ano”, confessou. Ele exemplifica o peso do combustível no transporte ao citar uma viagem entre São Paulo/SP e Maceió/AL, cujo valor do frete é de R$ 5 mil, na qual o gasto só com diesel chega a ser de aproximadamente R$ 2.500. “Tirando os outros custos, o valor líquido que recebi foi de R$ 2.000,00. É por isso que faz quatro meses que estou fora de casa. É muito ruim, pois sou casado e tenho dois filhos. Realmente chegou no limite”, desabafa, afirmando que vai vender o caminhão e abrir algum tipo de negócio em sua cidade.

Antigamente os pneus eram problema, duravam no máximo 60 mil quilômetros, mas hoje chegam a rodar o dobro, destaca Sérgio Luiz da Rosa
Antigamente os pneus eram problema, duravam no máximo 60 mil quilômetros, mas hoje chegam a rodar o dobro, destaca Sérgio Luiz da Rosa

Outro carreteiro que também se mostra bastante cansado com a situação é o veterano catarinense de Palhoça, Sérgio Luiz da Rosa, de 55 anos de idade. Acostumado a viajar pelo Nordeste, ele afirma que desde que começou na profissão, há 37 anos, a qualidade dos pneus melhorou muito. “Antigamente eram um problema, pois duravam no máximo 60 mil quilômetros e não se falava muito em recapagem. Hoje, praticamente dobrou, o pneu chega a rodar 120 mil quilômetros. Além disso, tem o calibrador automático e as recapagens. Enfim, o custo com os pneus é quase nada”, compara.

De acordo com ele, o que prejudica os carreteiros é a falta de carga e o preço alto do diesel. Afirma que antes desses últimos aumentos e dessa crise, ele permanecia fora de casa no máximo 30 dias. Agora, porém, fica por mais tempo. Na ocasião em que conversou com a reportagem da revista O Carreteiro, ele disse que já se encontrava há três meses na estrada. “Estou desiludido com a profissão, já vivenciei muitas coisas, mas dessa vez está pior. Não tem carga e quando aparece alguma ainda gastamos muito com diesel. Foi-se o tempo que o problema era o pneu que não durava”, brinca.

Pneus são caros, mas se forem bem cuidados duram. Não os considero um custo, mas também não ando com excesso de peso, diz Rodrigo Amorim Carvalho
Pneus são caros, mas se forem bem cuidados duram. Não os considero um custo, mas também não ando com excesso de peso, diz Rodrigo Amorim Carvalho

Para o carreteiro Rodrigo Amorim Carvalho, 31 anos e 12 de profissão, apesar de a situação não estar fácil para o motorista, é ele próprio o principal responsável pelo seu sucesso na atividade. Ele, por exemplo, diz que calcula todas as despesas antes de aceitar um frete. Tem opinião de que os pneus são caros, porém uma vez colocados e bem cuidados chegam a durar três anos. “Nem os considero um custo. Além disso não aceito colocar peso a mais no meu caminhão e isso também ajuda a manter os pneus em perfeito estado”, explica.

Quanto ao diesel, classifica que esse é um problema no orçamento. “Os valores estão o muito altos e por conta disso a nossa margem de lucro caiu em 20% de dois anos para cá. Por isso é muito importante analisar os fretes oferecidos, para não ter prejuízo no final da viagem”, ressalta. Outro ponto importante para evitar imprevistos e o aumento de gastos é dirigir com cuidado e de modo econômico. “É importante economizar, calcular e fazer manutenção”, explica.

Ismael Matias de Araújo afirma que se preocupa com os pneus e a manutenção preventiva do caminhão, porque deixa o veículo mais econômico
Ismael Matias de Araújo afirma que se preocupa com os pneus e a manutenção preventiva do caminhão, porque deixa o veículo mais econômico

O baiano de Araçá, Ismael Matias de Araújo, 41 anos de idade e 14 de profissão, concorda com Rodrigo quando o assunto é anotar os gastos da viagem para negociar o frete, e não rodar com excesso de peso. “Os pneus são itens caros, porém, a durabilidade depende muito do peso que você coloca no caminhão e do modo como dirige”, afirmando que não anda com sobrepeso e muito menos faz loucuras na estrada.  Ainda de acordo com Araújo, ele se preocupa também com a manutenção preventiva de vários itens do caminhão, por ser importante para evitar gastos extras. “Estar com a manutenção em dia ajuda o caminhão a ser econômico. Sempre faço as trocas de óleo no prazo certo e utilizo sempre peças originais, pois a relação custo beneficio é muito importante”, destaca.

Assim como todos os colegas citaram, Ismael é rápido para responder quem é o principal vilão na planilha de custos. “O diesel”, responde. Organizado, ele anota tudo em uma agenda. Em uma de suas viagens de 2.700 quilômetros entre o Rio de Janeiro/RJ e Natal/RN, o valor do frete foi de R$ 5.500, tirando R$ 2.301 do diesel, R$ 126,00 do pedágio, R$ 85,00 com borracheiro e R$ 200,00 referentes a outras despesas, sobrou líquido R$ 2.788,00. “Os aumentos sofridos nos últimos dois anos desestabilizaram as minhas contas e por isso deixo de ganhar cerca de 20% do que recebia por viagem no ano passado”, desabafa.

Mesmo diante de todas as dificuldades, Ismael não pensa em deixar a profissão, pois acredita que a situação ainda pode melhorar. “Minha esposa vive me pedindo para parar. Mas caminhão é um vício. Todo esse processo de conseguir a carga é complicado, mas quando pego a estrada me esqueço de tudo. Só penso em cada paisagem linda que conheço e nas amizades que fiz pelo caminho. Conheço o Brasil inteiro, faltam apenas Amapá, Roraima e Belém”, finaliza.