Por Elizabete Vasconcelos

Nos próximos meses, uma cidade brasileira será escolhida para abrigar a sede da Paccar na América do Sul – fabricante dos caminhões da marca DAF (Europa) e Kenworth e Peterbilt (América do Norte). Há algum tempo, a empresa vem demonstrando seu interesse em investir no mercado brasileiro e – em comunicado emitido em fevereiro deste ano – o vice-presidente executivo da companhia, Bob Christensen, afirmou que “está planejando a introdução da marca DAF na América do Sul. Para isso avalia os locais para a construção de uma planta no Brasil”. Na lista dos Estados que estão no páreo para receber a nova fábrica de caminhões estão São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Quem vencer esta disputa contará com uma montadora cujos aportes financeiros são estimados em US$ 200 milhões e que devem gerar mil postos de trabalho, sendo metade do contingente destinada à operar na produção. De acordo com João Luiz Kovaleski, secretário de Indústria, Comércio e Qualificação profissional de Ponta Grossa – cidade paranaense cogitada para receber o empreendimento – os executivos da empresa afirmaram que quatro pontos serão utilizados como critério para a escolha do município que abrigará o projeto. São eles: fornecimento de energia elétrica, distribuição de gás natural, acesso rodoviário estratégico – de preferência a até 200 quilômetros de um porto – e uma boa rede de fornecedores de matéria-prima.

Os bicudos da marca Peterbilt (foto) e Kenworth atendem aos padrões dos transportadores da América do Norte, que preferem os caminhões com capô sobre o motor
Os bicudos da marca Peterbilt (foto) e Kenworth atendem aos padrões dos transportadores da América do Norte, que preferem os caminhões com capô sobre o motor

Na opinião do secretário, outro ponto que pode contribuir para a escolha do município será a localização geográfica em relação a outros países da América Latina. “Percebemos durante a visita da comitiva que a Argentina será um mercado estratégico para a Paccar, por isso – devido nossa proximidade ao país estamos confiantes quanto a atrair este empreendimento”, destaca Kovaleski. Entretanto, o município paranaense terá concorrentes de peso. Lages/SC e Guaíba/RS também são localidades cogitadas pela Paccar. Já o município do Estado de São Paulo, que também tem grande interesse em receber a fábrica, não foi divulgado.

Mauro Knijnik, secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Rio Grande do Sul, explica que o governo local está buscando atrair novos investimentos, mas que não está se valendo exclusivamente da disputa fiscal. “Queremos trazer empresas que planejem se valer da nossa mão de obra e que queiram desenvolver novas tecnologias. Tanto que mudamos a nossa lei de ICMS criando um incentivo à tecnologia que financia a construção de centros de tecnologia e o pagamento de salários de pesquisadores”, explica. Segundo informações do governo gaúcho, este foi um dos projetos apresentados para a montadora de caminhões durante sua visita ao Estado. O assessor técnico do governo gaúcho, Taylor Guedes, que tem acompanhado a negociação com a montadora, acrescenta que o capital humano também está sendo avaliado rigorosamente pela empresa. “No terceiro encontro que tivemos (em maio), os executivos fizeram questão de conhecer as universidades e centros de ensino técnico do nosso Estado. Eles querem saber se a cidade escolhida terá profissionais para atender a demanda que irão necessitar”, argumentou.

Modelos com cabine avançada são produzidos para atender o mercado europeu, onde a marca tem melhor participação de mercado nos "países baixos"
Modelos com cabine avançada são produzidos para atender o mercado europeu, onde a marca tem melhor participação de mercado nos “países baixos”

Para os líderes políticos de Ponta Grossa, os executivos afirmaram ainda que junto à fábrica devem se instalar novas empresas na região escolhida, conforme dito por Kovaleski. “Eles querem um espaço grande para construir a fábrica. Mostramos um terreno com mais de um milhão de metros quadrados. Se formos selecionados acreditamos que será possível atrair empresas que forneçam matéria-prima para a Paccar”, prospecta.

Em Santa Catarina, a Secretaria de Desenvolvimento de Lages não se pronunciou sobre a possibilidade da cidade abrigar a unidade. Já a assessoria de imprensa da Investe SP (Agência Paulista de Promoção e Competitividade), afirmou que possíveis investimentos no Estado são comentados apenas se estiverem em fase de finalização. Procurada pela reportagem de O Carreteiro para falar sobre os reflexos da chegada da nova marca no mercado nacional, a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores) disse, através de seu representante, que não comenta a chegada de novas marcas. Entretanto, deixa claro que a vinda de novas empresas para o Brasil é algo positivo, pois o País demandará por caminhões para sustentar o crescimento. Além disso, segundo a entidade, a concorrência entre as fabricantes é algo positivo, gerando ganhos ao mercado e aos clientes. A meta do Grupo Paccar, conforme foi informado, é produzir no Brasil os caminhões da linha DAF para concorrer diretamente com a Scania e a Volvo. Pelas projeções da companhia, os modelos devem chegar às estradas brasileiras em 2013, com meta de conquistar 10% de participação em cinco anos de atividades, com três versões que pretende produzir inicialmente no Brasil.