Por Daniela Giopato

Enquanto uns lutam para começar, muitos querem parar e outros tem planos de atuar na profissão até não terem mais disposição física para dirigir caminhão, independente da idade avançada. Existem ainda aqueles que pretendem continuar na estrada para buscar uma melhor oportunidade, mas são impedidos pela idade. Independente de estarem cansados ou esbanjando disposição, os experientes profissionais que formam este terceiro grupo convivem com o medo, preconceito, frustração e a incerteza, entre outros sentimentos. Tudo por conta da idade, considerada avançada para o setor. Esta situação representa um grande problema para muitos motoristas profissionais, principalmente nos casos em que o caminhão é a única fonte de renda e deixar a profissão pode afetar diretamente no sustento e na tranqüilidade da família.

Apesar de estar com 48 anos de idade e 30 de estrada, Sidraque Cardoso de Oliveira, de Maringá/PR, afirma ter muita vontade de parar, porém, não tem condições financeiras para isso. “Não consigo fazer um pé de meia e a principal preocupação é com a minha família”, lamenta. Sidraque explica que se parar fica sem nada e também não tem como sobreviver com um salário mínimo apenas. Experiente na profissão, sabe que idade avançada e caminhão velho não são uma boa combinação na visão dos transportadores. “Além disso, cada dia fica mais difícil de atender as exigências das transportadoras e conseguir um bom frete”, acrescenta.

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Idade avançada e caminhão velho não é uma boa dupla, diz Sidraque Cardoso, para quem cada dia está mais difícil conseguir um frete bom

Outra situação vivida por Sidraque é a falta de condicionamento físico para aceitar carga horária, pois admite não conseguir mais permanecer horas e horas no volante e rodar mais de mil quilômetros sem parar e descansar. Admite que isso seria possível com uso de rebite, mas garante que não fará isso porque sabe que vai prejudicar sua saúde.

Apesar de faltar somente um ano para se aposentar, João Delara, de Porto Alegre/ RS, 54 anos de idade e 37 de profissão, afirma que não vai largar a estrada. Vontade não lhe falta, mas por enquanto não dá para manter a família. Como o caminhão é o principal instrumento de sustento de sua casa, por mais cansado que ele esteja o jeito é continuar, embora dirija apenas dentro de suas condições e sem pensar em carga com horário. “Quem faz o horário sou eu. Frete bom não existe, então prefiro ficar com os mais seguros, que não exigem muito do motorista, mesmo que isso signifique ganhar um pouco menos”, explica.

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João Delara tem no caminhão o principal sustento da família, por isso por mais cansado que ele esteja é necessário continuar trabalhando

João lamenta não ter se informado e se preocupado mais em garantir um futuro tranqüilo para quando parasse de trabalhar. Ele sente também nunca ter pensado e nem ter conseguido fazer um pé de meia e acentua que sobra pouco do valor do frete que o autônomo recebe. “Agora tenho de ficar trabalhando com o caminhão até quando Deus permitir”, desabafa.

Com 48 anos de idade e 20 da profissão, o pernambucano João de Lima garante não estar preocupado com o dia de parar de trabalhar, mas admite que já está cansado da vida na estrada. “É tanta correria, dias longe da família, desgaste físico e ainda não sobra dinheiro para fazer nada, ao ponto que muitas vezes prefiro ficar dentro de casa”, comenta. Ele acrescenta que o carreteiro, principalmente o autônomo, sofre muito e ninguém vê e nem faz nada para mudar esta situação. “Peço a Deus para que um dia eu tenha condições de vender o caminhão e construir um depósito de reciclagem para começar uma nova vida, com menos sacrifício”.

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Vender o caminhão e construir um depósito de reciclagem é um dos sonhos de João de Lima que diz estar cansado da vida na estrada

Todo esse desânimo tem uma explicação. Com o passar dos anos o caminhão de João também ficou mais velho, condição que dificulta a negociação de frete nas transportadoras, que exigem cada vez mais dos motoristas. Além disso, ele cita o problema da concorrência com alguns jovens que, para faturar mais, aceitam as cargas com horário. “Eu trabalho para sobreviver e não para morrer. Conheci muitos motoristas novos que não estão mais entre nós por conta de irresponsabilidade, como uso de rebite para agüentar o tranco”, comenta. Na opinião de João Lima, enquanto os jovens aceitarem cargas com horários absurdos, os mais velhos de volante não terão muitas opções e a situação continuará ruim para todos.

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Idade não é problema para Wilson Alves. Com 54 anos e 30 de profissão, ele garante conseguir bons fretes, porque a experiência conta muito

Diferente dos colegas, o autônomo Jaudeci Tosta, Piuma/ES, 62 de idade e 29 de estrada, quer continuar na estrada porém por causa da idade enfrenta preconceito e não consegue uma oportunidade. Há cinco anos vendeu o caminhão e desde então não consegue emprego em nenhuma transportadora. Segundo ele, em uma das entrevistas parecia que estava tudo certo, principalmente por causa de sua experiência, mas quando disse sua idade antes de fazer o teste prático perdeu a vaga. “ Disseram que a regra da empresa era de contratar pessoas de no máximo 45 anos”, lamentou.

Aposentado, Jaudeci conta que o valor que recebe é insuficiente para manter a casa. “Quem consegue se manter com 82% de dois salários mínimos?”, pergunta. Ele explica que quando vendeu o caminhão pensava que com o dinheiro da aposentadoria e mais alguns bicos seriam o suficiente , mas as coisas não funcionaram conforme suas expectativas. “Me sinto excluído, pois sei que tenho experiência e que poderia estar na estrada, mas não consigo uma oportunidade”.

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Com 70 anos de idade e 50 de estrada, Alberto Armando diz que não sente preconceito por parte das empresas e quer continuar trabalhando

Já o autônomo Wilson Alves Fernandes, de Porto Alegre/RS, garante que não lhe falta disposição. Aos 54 anos de idade e 30 de volante diz que não pensa momento algum em parar. “Essa é a vida que escolhi. O meu corpo já acostumou e a disposição é a mesma, pois gosto do caminhão e da estrada”, esclarece. Wilson acrescenta que conquistou muitas coisas boas com o caminhão, além disso tem dois filhos pequenos para criar. Um de seis e outro de um ano, do seu segundo casamento. “Daqui eu não saio”, radicaliza.

A idade parece não ser um problema para Wilson, que afirma conseguir bons fretes e que a experiência ainda conta muito. “As empresas confiam no meu trabalho e é por isso que sempre estou viajando. Chego a ficar três meses longe de casa. Mas também tiro duas férias no ano, 15 dias em julho e 15 em dezembro, não sou de ferro né!”, brinca.

Assim como Wilson, outro carreteiro que também está com bastante disposição é Alberto Armando, 70 de idade e 50 de estrada, também de Porto Alegre/RS. “Idade não é nada. Ainda me sinto útil, com boa saúde e completamente capaz de continuar na profissão”, enfatiza. Alberto afirma não ser vítima de preconceito nas empresas. Acredita que é porque contiam no seu trabalho, do qual se orgulha em dizer que sempre fui responsável. “Nunca usei rebite, coisa que hoje é muito comum entre os mais novos de estrada, que querem cumprir os prazos apertados e estipulados pelas empresas”, afirma Alberto.

Apesar de toda a dificuldade que o motorista de caminhão encontra, Alberto ainda acredita que ser carreteiro é uma boa profissão e é por isso que tem muito jovem querendo dirigir caminhão. Segundo Alberto, o segredo para chegar aos 70 anos com disposição de sobra para continuar na estrada e descartar uma aposentadoria tranqüila em casa se resume em uma alimentação saudável e horas de sono. “Essa dupla garante boa saúde e vida longa. Hoje existe muita pressa, urgência e isso só prejudica a segurança”, avisa.