por Daniela Giopato

O baixo faturamento tem dificultado bastante a vida do motorista autônomo, ao ponto de que boa parte da categoria não consegue fazer seguro do caminhão ou adquirir um equipamento de rastreamento, item bastante exigido nos dias de hoje pelos embarcadores. Tal situação o deixa vulnerável tanto no mercado de trabalho quanto na estrada, onde a questão segurança tem sido responsável pela mudança – para pior – da vida de muitos estradeiros que tiveram o caminhão roubado.

Sem seu instrumento de trabalho e sem recurso para comprar outro, o profissional da estrada entra em um processo no qual suas dívidas aumentam e em pouco tempo o seu nome está “sujo”, como se diz popularmente, e, consequentemente, as oportunidades de trabalho se distanciam cada vez mais.

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Abordado pelos assaltantes enquanto descansava dentro do caminhão, em um posto, Edemir Gauger foi levado pra um matagal

O carreteiro M.T.R., 33 anos e cinco de profissão, de Pelotas/RS, não tinha seguro e nem rastreador no seu caminhão Mercedes-Benz L1513, pois esperava aliviar as dívidas para colocar o equipamento. Porém, o veículo foi levado por ladrões, em 27/10/2006, antes que isso acontecesse. O assalto ocorreu em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ocasião em que a vítima transportava uma carga de telha e estava acompanhada por dois chapas.

Casado e pai de duas filhas M.T.R não havia terminado de pagar o caminhão e sem trabalho seu nome ficou “sujo” e as portas se fecharam. “ Hoje vivo de ajuda de parentes e amigos e do trabalho de manicure da minha esposa. A única coisa que me resta é rezar na esperança de conseguir trabalho”, finalizou.

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Após cinco dias do assalto, o caminhão de Marco Antonio foi encontrado próximo à marginal do rio Tietê, em São Paulo

J.L.P, 46 anos, 30 de profissão, de Jundiai/SP, trabalha no transporte de tela e arame. Apesar do roubo ter ocorrido dois anos atrás, afirma que nunca mais se recuperou do trauma. O assalto aconteceu no trevo do Aeroporto de Cumbica/SP, quando desceu do caminhão para pedir informação sobre o endereço de entrega. Os ladrões chegaram em um automóvel, no qual levaram o carreteiro até um ponto da rodovia Ayrton Senna onde foi abandonado sem dinheiro e documentos. Sua carga de retalho de chapa de aço foi levada pelos bandidos.

“O caminhão era minha única fonte de renda e uma herança do meu pai afinal foram muitos anos de luta para ele conseguir comprá-lo e depois mais alguns para eu conseguir deixá-lo bem equipado. O ocorrido desestruturou toda a família”, lembrou. Mas, um ano depois seu filho vendeu o carro, fez um empréstimo e J.L.P. conseguiu comprar um MB 1313, ano 72. Mas o medo de continuar como autônomo o fez vender o caminhão e começar a trabalhar como empregado.

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Sem poder pagar o seguro, e também sem rastreador no caminhão, Luiz Fonseca pede a Deus, todos os dias, para nunca ser assaltado

Outro carreteiro que sentiu na pele a violência nas estradas foi Edemir Gauger, 31 anos, de Carlos Barbosa/RS. Ele foi abordado na rodovia dos Bandeirantes/ SP enquanto descansava em um posto. “Eles quebraram o vidro e me renderam”, lembrou. Orientado para não reagir, ele foi retirado do caminhão e levado para um matagal a cerca de 500 metros do local, enquanto outra parte do grupo seguiu com o caminhão. “Na época eu trabalhava como empregado e o veículo tinha seguro, e hoje tenho certeza de que é loucura não ter seguro do caminhão”, aconselha Edemir, que garante ter ficado traumatizado durante algum tempo.

Há seis anos, Marco Antônio Oliveira da Silva, 36 anos de idade e 18 de profissão, de Porto Alegre/RS, teve seu Scania 142, ano 1984 roubado próximo ao Terminal de Cargas Fernão Dias/SP, quando preparava o almoço. “Me renderam e levaram de carro para a rodovia Ayrton Senna, onde fui deixado sem dinheiro e documentos e o caminhão foi levado por outros dois do grupo. Porém, cinco dias depois o cargueiro foi localizado em uma travessa da Marginal Tietê”, lembra o carreteiro, que admite ter tido muita sorte, aconselha que nessas ocasiões é importante ficar calmo e não reagir.

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Mauro Batista reconhece que não existe segurança na estrada e por isso evita parar em lugares desertos e desconhecidos

Embora o perigo de assalto seja iminente, seguro do caminhão ou equipamento de rastreamento não estão ao alcance de todos os carreteiros. Caso de Luiz Fonseca Barros, 54 anos, 15 de estrada, autônomo de Terezinha/MA. “O que eu ganho de frete só dá para a manutenção do caminhão e meu sustento. A minha segurança é Deus. Peço a ele todos os dias para nunca ser assaltado.”, justifica. Como prevenção, Luiz Fonseca diz viajar apenas pelas estradas que conhece e descansa somente em postos onde sabe que poderá ter uma noite tranqüila.

O gaúcho de Porto Alegre Mauro Batista dos Santos, 43 anos de idade e 20 de estradas, tem um Volvo NL 10, 1991, e viaja pela BR 116 e freqüentemente viaja pela BR- 101. Tem opinião de que a segurança é mínima nas estradas e destaca a região das cidades de Milagres, Jequié e Vitória da Conquista/BA como perigosa. “Para não passar por nenhuma situação de risco evito parar em lugares desertos e desconhecidos”, explica.

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O número de roubos aumentou muito e por isso Luiz Mioto diz tomar precauções, mas mesmo assim tem medo de sair pelas estradas

Desiludido com a situação, Mauro diz estar perdendo a esperança de tempos melhores, porque nada é feito para mudar a situação de insegurança nas estradas. Lembra que certa ocasião um colega seu recebeu seis tiros enquanto dirigia, durante uma tentativa de assalto. “A sorte dele é que nenhum dos tiros acertou nele”, finalizou.

Com um Scania 113, ano 95, Luiz Mioto, de Chapecó/SC 45 anos e 22 como carreteiro, viaja pela BR-116 transportando todos os tipos de carga. Diz ter medo de sair pelas estradas porque o número de roubos aumentou muito e por isso toma suas precauções. Uma delas é pagar seguro do caminhão – apesar de considerar caro – e outra é parar apenas em postos em que confia estar em segurança. “Estamos vivendo em uma insegurança total. Eu acho que se passasse por uma situação dessa eu até poderia voltar para a estrada, mas ficaria cada vez mais difícil dirigir o caminhão”. Luiz acrescenta que falta fiscalização, pois chegou a rodar 7.200 km (ida e volta) e não foi parado em nenhum momento. “Ninguém pediu para ver meus documentos ou o do caminhão. E se eu estivesse roubando o veículo?”, questiona.

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Airton de Jesus Pacheco evita viajar a noite como única prevenção para não sofrer um assalto e perder o caminhão, sua única fonte de renda

O autônomo Airton de Jesus Pacheco, de Itapetininga/SP, 28 anos de idade e cinco de profissão, costuma rodar pelas BRs 116 e 101 com o seu MB 1618, ano 94, e assim como os outros colegas também evita viajar a noite. “Tenho que me cuidar, pois o caminhão é a minha única renda e se me tirarem eu perco tudo. Não consigo nem imaginar o que seria da minha vida”, confessa. Quando questionado sobre o seguro, justifica que sempre pensa em contratar, mas o frete ainda é muito baixo e mal se consegue manter o caminhão. “Com certeza faz parte dos meus planos, porém não tenho condições de assumir uma despesa dessa”, conclui.

Com 32 anos de estrada, o experiente Vanderlei Denadai, de Linhares/ES, explica que houve uma época em que era possível parar em um acostamento e dormir sem o medo de ser assaltado. “Hoje tudo mudou, corremos risco em todos os lugares. Vivemos em constante risco”, reforça. Autônomo e proprietário de um Mercedes- Benz 1935, Vanderlei viaja pelos Estados da Bahia, São Paulo e região Sul do País e afirma que apesar do frete estar baixo ele paga seguro do caminhão. “Graças a Deus sempre tive sorte, durante todo esse tempo nunca fui abordado. Mas é melhor estar sempre protegido. Afinal, é com o caminhão que sustento a minha família. Se um dia eu o perdesse abandonaria a profissão na hora!”.

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Vanderlei Denadai lembra que houve um tempo em que era possível parar no acostamento e dormir sem ser assaltado

A Polícia Rodoviária Federal recomenda para que os motoristas evitem parar em locais ermos e mal iluminados e só estacionar para pernoite em locais com vigilância. Ter sempre em mãos os telefones da PRF também pode ser útil. Em São Paulo atende pelo ramal 191 e (11) 6095-2300. De acordo com a 6ª Superintendência Regional da Polícia Rodoviária

Federal, a unidade de São Paulo conta com equipes táticas em todas as rodovias voltadas para a repressão à criminalidade. Além disso há o Núcleo de Operações Especiais, que circula por todas as rodovias e o Núcleo de Inteligência, que trabalha integrado com o comando de Policiamento e Fiscalização da PRF.