Por Evilazio de Oliveira
Ao fazer uma análise das perdas e ganhos da atividade no trecho, no ano passado, o carreteiro invariavelmente acaba concordando que foi bom, “apesar de tudo” e que embora não tenha dado para ganhar dinheiro, deu para pagar as contas e seguir adiante, com o otimismo de que neste 2007 as coisas vão melhorar. Afinal, é com essa confiança que a maioria dos carreteiros pega a direção do caminhão. Alguns com planos ambiciosos, outros mais modestos, porém com a certeza de que tudo vai melhorar, “com a graça de Deus…”
Para o carreteiro Pedro Luiz Moro, 68 anos e 49 de boléia, 2006 foi um ano muito bom. Conseguiu bons fretes, o Scania 87 com carreta graneleira não deu grandes problemas e, sobretudo, trabalhou com saúde e fechou a contabilidade anual “no azul”. Mesmo assim, lamenta os altos custos do óleo diesel e dos pedágios que corroem o pouco lucro que o carreteiro poderia ter ao final de cada viagem. Pedro está aposentado e mora em Porto Alegre/RS e continua no trecho.
Lembra que mesmo trabalhando no mesmo ritmo, ao longo dos anos foi perdendo alguns “luxos” que se permitia. Precisou vender a casa na praia, diminuir a atividade social com os amigos e continua com um Monza 91, sem condições de comprar um modelo mais recente. E com essa mesma política de contenção de despesas, muitas vezes precisa deixar para o próximo mês o “presentinho” solicitado pelo neto Fernando, de 12 anos. Mas, confia que neste ano as coisas vão melhorar com o transporte da safra.
Com dois anos de estrada, o carreteiro Robson Roberto Fischer, 25 anos, natural de Paraíso do Sul/RS, dirige um Mercedes 95 como empregado. Está entusiasmado com a profissão, apesar do queixume constante que ouve dos colegas. Disse que quando optou pela profissão estava consciente das dificuldades. O assunto foi discutido com a sua mulher, Pámela, que é professora e está cursando Pedagogia. Ao final, mesmo sabendo que iria sentir muitas saudades do marido que precisaria passar a maior parte do tempo viajando, concordaram. E ele está feliz, embora no ano passado tenha sofrido um acidente. Um dos carros que participava de um “racha” em Cachoeira do Sul bateu no seu caminhão. O condutor do automóvel, que tinha CNH há apenas dois dias ficou muito machucado e o estrago no caminhão também foi grande e ele precisou ficar 20 dias parado, à espera do conserto.
Outro que está se preparando para a safra é Lígio Henz, 54 anos e 24 de profissão. Ele e o filho André Henz, 26 anos, são donos de um Scania 99 com carreta graneleira. Residem no Robson Roberto tem pouco tempo na profissão, mas está bastante otimista e pretende ganhar um bom dinheiro com a chegada da safra município de Feliz/RS e na época da safra de cana-deaçúcar vão para São Paulo, onde os fretes são melhores, diz. Segundo ele, 2006 foi um ano razoável para o carreteiro e, certamente, melhor do que 2005. E a projeção para 2007 é igualmente boa, pretende faturar 30% a mais do que no ano passado.
Mas, ao fazer um balanço dos últimos cinco anos, e embora considerando que igualmente foram bons, Lígio Henz amargou sérios prejuízos. Lembra que havia comprado um Scania 380 e sofreu um acidente com perda total do veículo. O Seguro deu outro caminhão e em menos de 24 horas, sem tempo de fazer um novo Seguro por causa de trâmites burocráticos, o caminhão novo foi roubado no Posto 60, em São Paulo. Apesar disso, ele está confiante e acha que o carreteiro deve ir aonde a maioria não vai, saber onde os fretes são melhores e estar disposto a trabalhar muito. E é isso que pretende fazer, mesmo com os altos custos dos combustíveis, pedágios e da manutenção do bruto e do seguro, ressalta.
Na opinião do carreteiro Natalício Gonzatti, 39 anos e 19 de estrada e dono de um Mercedes 91, o ano de 2006 foi ruim: só deu para manter o caminhão, a família e pagar as contas. Lembra que logo após a primeira posse de Lula o trabalho rendia mais. Ele pagava R$ 1.600,00 da prestação do caminhão, trabalhava igual a hoje e ainda sobrava algum dinheiro no final do mês. Hoje, sem a prestação para pagar ele continua trabalhando igual e não sobra nada. “Alguma coisa está errada”, pondera.
Natalício também está otimista em relação ao futuro. Apesar do setor ainda estar meio lento neste início de ano, tudo se encaminha para melhorar bastante, garante.
Gaúcho de Santana do Livramento/ RS, na fronteira do Brasil com o Uruguai, Arnor Silveira da Rosa, 62 anos e 36 de estrada, sempre trabalhou como boiadeiro, transportando gado para Estados do Norte e Nordeste. Aposentado, foi trabalhar com o amigo Ivan Acosta, que comprou um Scania 80 e precisava de um motorista. Atualmente ele transporta papelão para caixas de embalagens do município de Farroupilha/RS para Montevidéu, no Uruguai. “O ano passado? Ah, foi louco de bom, meu amigo”.
Arnor ganha R$ 1.000,00 por mês e a despesa livre. Mas – garante, sorrindo – logo que o amigo terminar de pagar o caminhão, vai pedir um reajuste. Mas, tudo bem. Gosta muito de viajar para o Uruguai, onde não existem assaltos e pode-se deixar a porta do caminhão aberta sem perigo de ser roubado, e por isso acredita que 2007 será muito bom.
Convivendo com motoristas de caminhão há 12 anos como agenciador de cargas no Posto Buffon, na BR- 386, em Canoas/RS, Alberi Silveira Cardoso, 40, lembra que houve época de ter 100 caminhões estacionados no pátio, à espera de frete. Agora, a média fica em 10 caminhões, e isso porque os motoristas escolhem a carga, destinos e discutem valores. “Vamos torcer para que a economia do País deslanche e tenha trabalho para todos”.