Por Nilza Vaz Guimarães

A comercialização ilegal de combustível e o número de receptadores que atuam próximos a borracharias, postos de gasolina, pequenos restaurantes e barracas estão em crescimento em rodovias do Estado da Bahia. Os receptadores agem sem receio, dia e noite, e envolvem crianças e mulheres, que sinalizam com mangueiras e baldes convidando os motoristas para o derramamento de óleo diesel.

De acordo com donos de transportadoras, esta prática traz muitos transtornos às empresas de transportes, as quais somam prejuízo de 10% do seu frete, além de transtornos junto aos seus clientes. Muitas já estão lacrando os tanques de seus caminhões para evitar este tipo de fraude. Alguns empresários já sugeriram às montadoras para fazerem tanques que não permitam este tipo de violação.

Os principais pontos onde ocorre a receptação e comercialização ilegal de diesel são na BR-101 (Cristinápolis (divisa Sergipe/Bahia), Travessão e Itamarati); BR-407 (Juremar – próximo 20 km de Juazeiro – e Senhor do Bonfim); BR-324 (Feira de Santana, Amélia Rodrigues, Riachão do Jacuípe – sentido Juazeiro/Petrolina e Capim Grosso) e BR-116 (Vitória da Conquista).

Normalmente, nestes locais os caminhões param no acostamento, enquanto os receptadores retiram o óleo diesel e armazenam em tonéis. O produto é comprado pelos receptadores a R$ 0,80 o litro e depois é revendido a R$ 1,00, mais barato, ainda, que o preço nas bombas dos postos de serviço. Empresários do setor de transporte afetados pela prática sugerem que se aumentar a fiscalização nas estradas
é possível dar fim a esta atividade ilegal.

Para motoristas que rodam pela Bahia o assunto é conhecido e alguns deles entrevistados pela reportagem da Revista O Carreteiro falaram sobre o assunto. João Ferreira Antunes, natural de Itapipu/BA diz já ter sido vítima de roubo de óleo diesel enquanto dormia. Até hoje não descobriu como conseguiram esvaziar o tanque de seu caminhão e afirma já ter visto receptadores ao longo das estradas.

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Lá em Varedinha, no Estado de Alagoas, depois de São Sebastião, existe um lugar onde fazem este tipo de transação”, diz Antunes, que acha que não vale a pena esta prática. Na maioria das vezes são meninos que ficam na beira da estrada chamando a atenção de quem passa e depois vem um adulto e faz o serviço. “Para os menores não existe problema com a polícia, mas acho que o ladrão deve ser punido”. De acordo com ele, na Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte, o diesel é o mais barato do Brasil, chegando a custar R$1,22. “Então não vale a pena comprar o produto clandestino, o caminhão pode esfumaçar e ainda sujar todo o filtro. Para consertar depois, com certeza o prejuízo será maior”, opina.

Para João Mendes, há 18 anos na estrada no transporte de carga perecível por todo o Brasil, é seguro pernoitar em posto de combustível. Ele que trabalha de 13 a 14 horas por dia e permanece cerca de 40 dias sem voltar para casa e controla o consumo de seu cami-nhão na pon-ta do lápis. “Dependen-do do volume da carga e da utilização do Genset, varia o consumo. Com o aparelho ligado chega a diminuir 15% a rentabilidade”. Conforme Mendes, o diesel na Bahia está mais barato em relação a São Paulo e Mato Grosso, mas o frete, em compensação, está horrível.

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Ele diz que nunca viu ninguém comprando diesel nas estradas e também acredita nunca ter comprado diesel adulterado, mesmo nos postos onde abastece “Nunca vi e acho que só um doido pára o caminhão para ver o que a pessoa quer. Hoje, infelizmente, a gente não pode nem socorrer um companheiro na estrada, está muito perigoso”, lamenta.

Com uma experiência de 20 anos no transporte de geladeiras de São Paulo para todo o Nordeste e com carga de retorno de qualquer tipo, Ricardo Franco Guedes, 39 anos, abastece a cada mil quilômetros. Com uma carga de 27 toneladas, seu caminhão faz cerca de 3 km com um litro de diesel. “Mas combustível bom é difícil de se achar no Nordeste.

Nos próprios postos é comum encontrar diesel adulterado”, afirma. De acordo com Guedes, é fácil de detectar quando o diesel está adulterado, pois o caminhão começa logo a ratear e a esfumaçar. “Geralmente é água que eles adicionam e às vezes o consumo aumenta para até 1 quilômetro/litro e neste caso o tanque vai embora rapidinho”, esbraveja.

Ele conta que entre Aracajú e a Bahia existem 3 ou 4 locais onde os receptadores de combustível ficam se oferecendo na beira da estrada, mas ele garante que nunca parou porque “se no posto já é adulterado, imaginem na mão destes caras”, fala sorrindo. Para ele, a péssima condição das estradas é outro assunto que deve ser discutido. “Fico indignado, meu Deus do céu, é preciso fazer alguma coisa. As estradas estão a cada dia piores em todo o Nordeste, mas principalmente no Estado da Bahia. Tudo isso contribui para o roubo de cargas e acidentes”, diz indignado. “Aqui no Nordeste as estradas são ruins e acontece assalto a toda hora. É muito prejuízo. A gente pensa que está ganhando, mas o lucro vai todo embora”, reclama.

Recentemente, quando trafegava na BR-101, da Bahia para Aracajú, seu caminhão caiu numa “panela” e ficou sem um pneu. De acordo com ele, o prejuízo chegou a ser de R$ 2.140,00. O preço do pneu, do pino e da mão-de-obra ultrapassou mais de 3 vezes o valor que recebeu pelo frete. “Não dá pra agüentar”, lamenta.

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Atualmente, a maioria das empresas de transporte de cargas faz planilhas diárias, baseadas no tipo, modelo e ano do caminhão, inclusive com a média de consumo e esta também é uma maneira dos empresários detectarem o desvio de diesel. Os empresários sabem que caminhões de ano e modelo iguais devem apresentar consumo semelhantes, senão está declarado que há desvio de combustível.

De acordo com alguns empresários, existem motoristas desonestos e receptadores que além de retirarem o óleo diesel do tanque de combustível, retiram também do Genset, equipamento responsável pela refrigeração de cargas perecíveis. Na falta de óleo diesel, explicam os empresários, o Genset não funciona, podendo causar a deterioração da carga antes dela ser entregue.