Por Alessandra Sales Fotos Fernando Favoretto
O carreteiro que passa horas ao volante do caminhão sabe que as regras do Código Brasileiro de Trânsito nem sempre são suficientes para garantir segurança na estrada. A afirmação é baseada em experiências de carreteiros que não se surpreendem com a falta de respeito de alguns colegas de profissão. Entre as imprudências estão o excesso de velocidade, desrespeito à sinalização, desatenção no trânsito e a ingestão de bebida alcoólica, entre outras práticas. Quando se fala sobre uma possível solução para o problema, as opiniões dos profissionais do volante se dividem, pois há quem acredite que é questão de educação e conscientização, enquanto existem também aqueles que acreditam que a aplicação de medidas mais enérgicas ou até mesmo em relação ao cumprimento das leis já existentes poderia intimidar os que não respeitam as leis.
O autônomo Aldo Frederico, 27 anos de idade, Cacoal/RO, por exemplo, já presenciou uma situação perigosa envolvendo um motorista embriagado que causou um acidente na rodovia. Ele conta que estava parado em um posto de serviço em Bataguassu/MS e viu que um motorista pegou a estrada ao volante de um caminhão carregado de tijolos logo após beber. Disse que saiu em seguida na mesma direção e não demorou para o caminhão tombar na pista. Em sua opinião, para uma pessoa dirigir é necessário ter muito cuidado e lembra que bebida alcoólica não combina com o volante. “Seria tão mais seguro viajar sem o receio de enfrentar bêbados na estrada. Tenho minha família e quero ter a certeza que irei retornar à minha casa”, desabafa.
Outro carreteiro que tem história é Edson Tartari, 45 anos de idade, de Erechim/RS, vítima duas vezes da falta de prudência de outros motoristas. Ele relembra com muita indignação o momento que teve seu caminhão jogado para fora da pista. “O veículo caiu de uma altura de 17 metros e hoje agradeço estar aqui e poder compartilhar este fato com todos que vivem desta profissão”, afirma. Ele destaca que houve um grande aumento do movimento nas rodovias nos últimos anos e, às vezes, o motorista se esquece da obrigatoriedade de dirigir com atenção redobrada. “Segurança é também encostar o caminhão e descansar antes de seguir viagem. A vida vale muito mais do que qualquer ansiedade, pressa ou irresponsabilidade”, concluiu.
O carreteiro José Dileu, 42 anos de idade, de Pitanga/PR, também afirma ter sido vítima de uma imprudência. Há 15 anos transportando carga geral, diz que viaja com muita atenção e cuidado, até porque sempre que parte para a estrada está preocupado com a volta devido à família que o espera em sua casa. Lembrou que certa vez um veículo avançou na sua preferencial e bateu. “Eu nada sofri, já o imprudente perdeu uma perna. Agora de que adianta ultrapassar os limites para sofrer um trauma como esse?”, indaga. Para José Dileu, é muito triste ver caminhões sendo destruídos por desatenção ou qualquer coisa do tipo. “O comportamento ideal para quem se arrisca em longas viagens é ser muito atencioso, além de manter o veículo em bom estado de conservação”, recomenda. Para ele, não é difícil e não custa nada ser cuidadoso com a própria vida, além de dirigir pensando na vida dos outros” , finaliza.
Situação semelhante viveu o catarinense Anderson Rosa, 27 anos de idade, que contou ter sido ultrapassado por um veículo em Itapecerica da Serra/SP e acabou tendo de parar no acostamento. Natural de Blumenau, a revolta do motorista é grande e diz que não é possível essas coisas ainda acontecerem em seu local de trabalho. “Tenho um lar e uma família que me esperam a cada viagem. Mais do que nunca eu me cuido para voltar em paz e seguro para eles”, disse. Assim como Anderson Rosa existem outros carreteiros que procuram dirigir sem sacrificar a vida própria e alheia.
Atento aos movimentos dos outros carreteiros para evitar surpresas desagradáveis, o paulista Sérgio Alves, 54 anos de idade, explica que costuma manter distância entre um caminhão e outro, para seguir viagem de forma segura. “Não podemos prever uma atitude do motorista, por isso é preciso dirigir também pelos outros. Já presenciei muitos acidentes, por isso sou a favor de leis que punam motoristas irresponsáveis”, argumenta.
Para evitar situações inesperadas, há condutor que explica que o bom motorista é aquele que sabe exatamente como agir em uma situação de perigo, como exemplo, saber a hora certa de encostar seu caminhão em um posto de serviço e se inteirar das condições do veículo. Esse é o ponto de vista defendido por Valdir Rodrigues, 49 de idade, natural de Caçador/SC. Na estrada há 30 anos, Rodrigues se considera esperto quando o assunto é segurança. Garante que se preocupa com o estado de seu caminhão a ponto de checar sempre que pode todos os problemas aparentes. “O negócio é estar atento, ser prudente, respeitar o veículo ao lado e manter distância na hora certa”, afirma.
Por mais que os principais atributos relativos à segurança tenham sido ditos por vários carreteiros, Cassiano Luis Silvano, 30 anos de idade, de Nova Araçá/SC, não esqueceu de citar o uso do celular na estrada. Todos sabem que é proibido dirigir falando ao celular, mas o que vemos é uma situação diferente, ainda mais nas rodovias brasileiras. “Dirigir e falar ao celular são duas ações que não combinam”, expressa. Com oito anos de estrada, Silvano conhece as distrações que o telefone celular pode levar ao condutor. Tem opinião de que em um piscar de olhos tudo pode ser colocado em risco ou mudar de uma hora para outra. Garante que nunca se envolveu em acidente algum e o motivo para isso, conforme afirma, é a prudência e a responsabilidade na hora de enfrentar uma rodovia com todos os perigos que ela pode oferecer. “Cuidado nunca é demais”, conclui.