Disputa do jeito europeu

Por João Geraldo

Andreas Sodertröm, um carreteiro sueco de 26 anos de idade, sobressaiu-se como o melhor jovem motorista de caminhão da Europa, ao vencer o Young European Truck Driver, competição promovida pela Scania que reuniu milhares de motoristas de 18 países da Europa. A competição, que este ano teve início no mês de maio e encerrou em outubro, tem como meta atrair a atenção de jovens para a profissão, mostrar a importância de dirigir da forma correta e segura, e também divulgar os benefícios da economia de combustível, tanto para o meio ambiente quanto para o negócio do transporte rodoviário de cargas.

A grande final que definiu o campeão, realizada dias 08 e 09 de outubro, reuniu 18 finalistas, de 18 países da Comunidade Europeia, em disputa de habilidade ao volante, em circuitos com obstáculos montados em áreas dentro da fábrica da Scania, na cidade de Södertälje, região metropolitana de Estocolmo/Suécia. Entre o grupo havia uma carreteira, a suíça Sandra Zeller, de 24 anos de idade.

“Só comemorei a vitória quando vi cair o último pino”, disse emocionado Andreas Sodertröm, o jovem carreteiro – empregado de uma empresa de transporte – é da quarta geração de uma família de transportadores rodoviários de carga. Ele avaliou que o mais difícil durante toda a competição foi o chek list do caminhão, pois antes de começar não estava muito certo sobre o que seria solicitado para ele checar no veículo. Como prêmio pela vitória, Andreas ganhou um cavalo-mecânico Scania R, com qual, segundo afirmou, vai continuar trabalhando na profissão. “Essa conquista vai mudar minha vida, espero fazer muitos contatos profissionais, porque a partir de agora vou trabalhar com o meu próprio caminhão”, concluiu. A idade máxima para participar do concurso na Europa é 35 anos.

Promovida pela Scania, na Suécia, desde 2003, a competição recebeu na Europa o nome de Young European Truck Driver, e tinha como foco principal despertar o interesse dos jovens para a profissão de motorista de caminhão, pois na época já era uma realidade no mercado a falta de novos profissionais do volante. Na primeira edição o concurso reuniu seis mil motoristas de caminhão de 20 países da Europa. Em 2005, o evento se expandiu para fora do continente europeu e reuniu 32 países e 34 mil inscritos, sendo 11 mil só do Brasil, onde recebeu o nome de “Melhor Motorista de Caminhão do Brasil” e com ênfase à direção correta e segura em prol da segurança no trânsito e do melhor aproveitamento dos recursos do veículo. Já a terceira edição (2007/2008) contou com a participação de 44 mil motoristas de 28 países, dos quais 21 mil foram do Brasil.

CAMPEÃO BRASILEIRO NA EUROPA

Acostumado às estradas e aos caminhões brasileiros, o campeão da edição 2010 do melhor Motorista de Caminhão do Brasil, Fernando Pitanga, acompanhou de perto e bem atento as manobras e obstáculos impostos aos 18 motoristas finalistas do Young European Truck Driver. Na sua avaliação, as provas na Europa exigem bastante do motorista, mas em alguns casos são facilitadas por certos componentes do veículo, como, por exemplo, o espelho frontal que possibilita ao motorista ver o chão na frente do caminhão. “Eu, por exemplo, não sei se ficaria tranquilo aos olhos do mundo fazendo estas provas, mas creio que o sentido da competição é esse, se a pessoa quer ser motorista de caminhão tem de pensar bem, porque se decidir que é isso mesmo ele tem de ser bom”, explica. Pitanga, que ficou admirado com a premiação do primeiro colocado na Europa, um cavalo-mecânico R, acredita que se não fosse um prêmio de peso como é o concurso não atrairia tantos motoristas no continente. Ainda empolgado com tudo que viu nos dois dias que decidiram o campeão do continente, o brasileiro arriscou um palpite de que haveria possibilidade de se realizar uma final entre motoristas de diferentes países, desde que as provas de percurso fossem realizadas dentro do campo de provas da própria Scania, em Södertälje. Na condição de melhor motorista de caminhão do Brasil, e em solo europeu, Fernando Pitanga falou de seus planos e sonhos para o futuro. Quer ter uma empresa de transporte e que seus motoristas sintam orgulho de trabalhar nela e da profissão. “Meu sonho é que o motorista seja um profissional por vontade própria e não por falta de opção, como ainda acontece muito no Brasil”, comenta. Acrescenta que um profissional experiente pode escolher a empresa para trabalhar e não ser escolhido, mas para isso os motoristas precisam estudar, aprender e saber que não vale a pena rodar muito, que as paradas para descanso são importantes, além de cuidar também da saúde. “Uma empresa com acidente zero só lucra, e assim pode pagar mais aos seus motoristas. Estes, por sua vez, vão trabalhar direito para não perder o emprego”, destaca. Para ele, que garante já ter dirigido todo tipo de caminhão, não importam o veículo e nem o produto que está sendo transportado, o motorista tem de ser preparado e responsável durante todo o tempo. “Eu acredito muito no novo motorista, treinado e sem vícios”, assinalou. Durante visita à Scania, Pitanga teve oportunidade de dirigir modelo V8 de 730cv de potência. Seu comentário a respeito do veículo foi direto: “a gente se sente com o poder nas mãos ao volante desse caminhão, com toda essa potência” (JG). Este ano o concurso contou com a participação de motoristas de 25 países e reuniu 40 mil inscritos, dos quais 28,5 mil só do Brasil. A final brasileira foi realizada nos dias 11 e 12 de setembro, em São Paulo, com 30 motoristas classificados nas etapas, sobressaindo-se como campeão o motorista baiano Fernando Pitanga. Entre outros prêmios, o campeão ganhou também uma viagem à Europa acompanhado da esposa. Primeiro foi à Suécia para acompanhar a final do Young European Truck Driver, e depois à França, sempre acompanhado da esposa. O YETD Driver se destaca como a maior competição de motoristas de caminhão do mundo, realizado em vários continentes como América do Sul (Brasil e Argentina), África, Austrália e Ásia (China, Malásia, Coreia do Sul, Singapura e Tailândia). A Scania, organizadora do evento, procura desenvolvê-lo de acordo com a realidade de cada mercado, mas sem sair do foco da segurança e da maneira correta de dirigir. Na Europa, por exemplo, na primeira edição do YETD o foco era atrair os jovens para a profissão, mas atualmente tem grande peso também a indução à direção segura e econômica, já que tanto a segurança nas rodovias quanto a economia de combustível (e por consequência menor emissão de carbono), também são itens de grande importância para o transportador europeu.