Por Elizabete Vasconcelos

Manter as contas em dia é um ponto chave para a saúde do negócio do transportador autônomo. No entanto, nem sempre é possível quitar todas as dívidas, já que o baixo – e variável – faturamento na atividade de transporte tem sido uma das principais queixas da categoria. Neste cenário não faltam carreteiros com dificuldades para pagar parcelas referentes ao financiamento do caminhão e, por isso, recorrem a empréstimos ou até mesmo refinanciam o veículo para não terem o “nome sujo na praça”. A questão é saber se refinanciar uma dívida é boa opção para colocar as finanças em dia?

O próprio nome diz que se trata de uma operação de crédito, a qual tem como fundamento um financiamento já existente sendo disponibilizada, portanto, geralmente para clientes que desejam reajustar o valor das parcelas ou reduzir o valor dos juros. A proposta é realizar uma nova operação financeira, com prazos maiores e prestações menores – que caibam no orçamento do cliente, de modo que as parcelas possam ser pagas sem atraso.

Reginaldo Gonçalves, coordenador de Ciências Contáveis da FASM (Faculdade Santa Marcelina), explica que antes de correr até o banco para fazer o refinanciamento do caminhão comprado a prazo, é preciso analisar os motivos que levaram ao endividamento e à impossibilidade de pagar as parcelas do financiamento. De acordo com Gonçalves, “apenas renegociar uma dívida sem ter a segurança de que é possível pagá-la pode gerar um aumento dos gastos e complicar ainda mais a situação do devedor”.

Segundo ele, em geral, os bancos estabelecem regras para realizar a operação. No caso dos caminhões, por exemplo, algumas instituições financeiras só aceitam refinanciar veículos de, no máximo, 3,5 toneladas e até 10 anos de uso. Quanto às taxas e prazos operados nestas transações, Gonçalves destaca que depende de cada instituição financeira. No entanto, a média praticada pelos bancos públicos para este tipo de operação está atualmente em 0,77% ao mês e até 58 meses para pagar.

Embora, muitas vezes, o refinanciamento aparente ser a solução para os problemas financeiros do motorista endividado, é preciso ficar atento a pelo menos três pontos principais. O primeiro é se o prazo para o pagamento da dívida será alongado, o segundo é se o valor da parcela será menor e em terceiro se o custo total da dívida foi reduzido ou se manteve o mais próximo possível do atual. Caso um desses pontos não esteja alinhado, a negociação tende a não ser boa o suficiente para reequilibrar as finanças.

A tendência é que no futuro o proprietário do veículo volte a enfrentar dificuldades para honrar o pagamento das parcelas. “A busca por juros menores, mantendo o prazo atual das parcelas, ou a redução do valor da prestação com o aumento do prazo de pagamento, gera para o devedor a perspectiva de equilíbrio de sua situação financeira”, destaca Gonçalves.

PONTOS IMPORTANTES A SEREM OBSERVADOS
– Calma: a pressa, em geral, tende a prejudicar a negociação já que alguns aspectos do novo financiamento podem ser deixados de lado;

– Conhecer a sua capacidade de pagamento: não adianta procurar o banco para negociar a dívida sem saber quanto é possível pagar mensalmente. Sem conhecer seu orçamento familiar é provável que você adquira uma dívida que não consiga honrar.

– O que o banco oferece: se o gerente ou funcionário do banco não puder oferecer boas condições de refinanciamento procure outra instituição financeira. Por meio de um mecanismo chamado de “portabilidade” um agente financeiro compra a sua dívida no banco no qual seu financiamento foi realizado e refinanciará o valor de acordo com o número de parcelas disponíveis;

– Dúvidas: se for preciso, procure o Procon ou a Defensoria Pública de seu Estado. Em geral, estes órgãos possuem departamentos dedicados a atender a população esclarecendo dúvidas.

Gastando mais do que ganha

Segundo uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), quase metade das famílias brasileiras tem algum tipo de dívida – compras parceladas, cartões de crédito, empréstimos, financiamentos ou contas atrasadas. O levantamento revela ainda que quase 30% dos brasileiros devem mais que a soma de seus rendimentos. Deste total, 10% das famílias brasileiras afirmam não ter como pagar suas dívidas. Segundo o instituto, o índice não é tão alto, mas são pessoas que estão “no limite da inadimplência” e por isso estão prestes a ficar com o nome restrito para compras.