Por Evilazio de Oliveira
As normas de segurança adotadas no Rio Grande do Sul para o transporte rodoviário de toras de madeira, que vão se tornar lei a partir de 1º de janeiro de 2007, através da Resolução 196/2006, estabelecem regras de segurança para essa atividade, estendendo para todo o País o que se pratica no Estado desde 2001, quando o choque entre um caminhão de madeira e um ônibus resultou na morte de 14 pessoas. A determinação foi publicada no Diário Oficial da União dia dois de agosto. O objetivo, segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), é ampliar a segurança dos caminhões de transporte de toras.
O impacto da Resolução será ainda maior no Estado gaúcho, porque o setor de cargas de madeira deverá crescer bastante até 2010. Hoje, 15 mil caminhões transportam madeira, mas com a instalação de fábricas de celulose da Aracruz, da Votorantim e Stora Enso, em especial nas regiões Sul e Fronteira Oeste, com investimentos de U$ 1,2 bilhão (equivalente a R$ 2,6 bilhões), as previsões são de que o setor deverá ter um acentuado crescimento.
Essa perspectiva de aumento da área de reflorestamento no Estado do Rio Grande do Sul, e a conseqüente demanda por mais caminhões atuando no segmento, fez com que o sócio-gerente da Florestal Barra Ltda., Celestino Munari, do município de Butiá/RS, começasse a investir na ampliação da empresa. Ele é um dos principais transportadores terceirizados da unidade da Aracruz, em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre. Com uma frota de 12 caminhões com julieta, e trabalhando desde a derrubada das árvores, corte, descasque e transporte, garante que todas as operações são feitas dentro de todas as normas de segurança exigidas pela empresa para a qual transporta e pelos órgãos de trânsito.
Segundo ele, a empresa tem normas próprias de segurança para o transporte de madeira, além disso, mediante sucessivos encontros técnicos com a Divisão de Trânsito do DAER (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens), essas normas foram aprimoradas e todos os veículos equipados com os acessórios exigidos como fueiros de ferro, catracas especiais e painéis na dianteira e traseira da carroceria. Sem maiores preocupações nesse aspecto e depois de investir na colocação de um quarto eixo na julieta, que possibilita um aumento de Celestino Munari mantém encontros técnicos com a Divisão de Trânsito e suas operações de transporte de madeira dentro das normas de segurança até sete toneladas de carga, Munari prepara a infra-estrutura para o aumento da frota, o que deve acontecer nos próximos anos com a anunciada ampliação da Aracruz e instalação de outras indústrias do setor no Estado.
Nas estradas, o tráfego de caminhões carregando madeira é grande. A maioria pertence a empresas terceirizadas e presta serviços para indústrias que operam na região. Esses caminhões, obrigatoriamente, dispõem de todos os acessórios de segurança e estão sujeitos a vistorias periódicas para avaliação do equipamento. Mesmo assim, existe uma preocupação das autoridades de trânsito e das polícias rodoviária federal e estadual em orientar os motoristas dos caminhões que ainda trafegam foram dos padrões de segurança exigidos, segundo explica o coordenador da Divisão de Trânsito do DAER, Enir Masiero. E, apesar da Resolução sobre o assunto só entrar em vigor no começo do ano que vem, ele pretende desenvolver uma ampla campanha de esclarecimento para os carreteiros do setor de madeiras, no Estado, se anteciparem a fazerem as alterações exigidas. Por enquanto, diz ele, a polícia apenas adverte os infratores e dão a orientação de como proceder para fazer o transporte com segurança e dentro da lei.
Paulo Munhoz tem 36 anos de idade, oito de boléia e cinco no transporte de madeira, atividade que desenvolve com prazer, principalmente pelo salário considerado bom dentro dos padrões de mercado, das rotas de no máximo 100 quilômetros e pela proximidade de casa e da família. Ele dirige um Volks 2004 equipado com julieta e transporta toras de madeira para a Aracruz e Boise Cascade do Brasil, empresa fabricante de laminados para a exportação. O caminhão está dentro das normas de segurança exigidas pelas empresas e acredita que não será preciso fazer novas alterações para cumprir a nova legislação.
Garante que com a madeira carregada “de comprido”, com os fueiros laterais e amarração segura por catracas, fica muito mais fácil de dirigir, sem o perigo de a carga escorregar para os lados, ou até mesmo perder pedaços de madeira pelo caminho. O caminhão fi ca muito mais firme, mesmo com a julieta engatada. É certo, lembra, que em algumas ocasiões é preciso o socorro de algum companheiro ou do trator para ajudar em trechos de atoleiros ou subidas muito íngremes nas estradas de terra na mata.
Outro motorista satisfeito com as normas de segurança, implantadas pela empresa em que trabalha antes mesmo do prazo ofi cial, é Eval Rudinei dos Santos, 38 anos, 20 de direção e há 15 no transporte de madeira. Reconhece que o perigo sempre existe nessa atividade e é preciso muito cuidado no trecho, mesmo com a garantia de a carga estar bem fi rme na carroceria. Santos dirige um conjunto julieta, mora no município de Butiá e vai dormir em casa todos os dias. “A não ser quando estou na escala para trabalhar à noite”, explica. Afi nal, o abastecimento de madeira para as indústrias não pode parar. Os caminhões carregam 24 horas por dia. Mas, segundo o carreteiro, com o novo sistema de fueiros e de amarração a carga fi ca mais segura e deixa o caminhão mais fácil de dirigir nas curvas e baixadas.
Virceu Figueira Abrahin tem 56 anos, 36 de estrada e 33 no transporte de madeira. Fez algumas tentativas no “tiro longo”, mas não gostou. Prefere viagens curtas, perto de casa. Hoje trabalha como empregado para a Rio do Sul – Serviços e Transportes. Lembra que antigamente as cargas ficavam mal acomodadas e que o motorista precisava dirigir com muito mais cuidado, principalmente nas curvas. Tinha de evitar frenagens bruscas e sempre havia o perigo do deslocamento da carga ou de cair alguma tora, podendo causar um acidente grave. Agora todas as empresas estão adaptadas para que a carga fique firme e bem amarrada, diz. “Tudo com muita segurança, ou não dá nem para carregar ou entrar nas empresas, porque a fiscalização é muito grande”. Mesmo assim ainda existem muitos caminhões de particulares, usados para o transporte de lenha, que precisam se adaptar. Para Virceu Abrain, os pequenos têm mais dificuldades, porque tudo isso custa caro.
Para o motorista Valter Martins Fraga, 31 anos, 13 de profissão e há oito no transporte de madeira, com o novo sistema de fueiros e amarração não tem perigo da carga escorregar. “A carga fica firme e é mais fácil de dirigir, sem a preocupação da madeira se deslocar numa curva, descida ou parada mais brusca”, afirma. Valter mora no município de Guaíba e dirige um Ford 2004, com julieta, numa rota de 200 quilômetros em média, entre o horto florestal e a indústria onde descarrega.
As novas regras
As definições da Resolução 196/2006 foram inspiradas por um acordo firmado em 2001 entre governo, polícias e empresários do Rio Grande do Sul: · Madeira bruta com comprimento de até 2,50m poderá ser transportada nos sentidos longitudinal ou transversal. Comprimento superior só poderá ser transportado em sentido longitudinal. · Toda a carga de madeira deverá ter fueiros dianteiros e traseiros metálicos. · A altura dos fueiros não poderá ser inferior à altura da carga nas suas extremidades, fazendo com que a carga fique abaulada ao centro. · Os fueiros deverão ser fixos na carroceria ou em forma de L, quando removíveis. · Os cabos deverão estar em boas condições, sem danos aparentes, fi xos em uma das extremidades da carroceria e devidamente tensionados por catracas na parte oposta da carga. a) Longitudinal – Com carroceria dotada de guarda dianteira e traseira, guardas ou fueiros laterais e fixação da carga por cabos de aço ou cintas de náilon fixadas e tensionados transversalmente com o uso de catraca ou equipamento similar. b) Transversal – Com carroceria dotada de guardas laterais, guardas ou fueiros dianteiros ou traseiros e fi xação da carga por cabos de aço ou cintas de náilon fi xadas e tensionadas longitudinalmente com o uso de catracas ou equipamento similar. Penalidade O descumprimento passa a ser infração de trânsito grave, com multa de R$ 127,69, mais cinco pontos na carteira do motorista e retenção do veículo. Fonte: Contran (Conselho Nacional de Trânsito)