Por João Geraldo
Com um índice de aplicação em torno de 90% nos caminhões médios, a caixa de câmbio automática se tornou uma tendência também entre os pesados que fazem trechos de longas distâncias nos Estados Unidos. E as principais razões da migração da caixa de transmissão tradicional, na qual o motorista faz o engate manualmente, para o sistema com trocas automáticas, são a maior facilidade na condução do caminhão e a economia de combustível proporcionada por um sistema de transmissão eletrônico, que faz as mudanças necessárias no momento certo, além de oferecer maior conforto ao motorista.
As modernas caixas automáticas são chamadas de automatizadas porque são caixas manuais que recebem um sistema eletrônico e adaptações mecânicas e passam a fazer trocas automaticamente. E caso o motorista queira fazer ele mesmo os engates de marchas, basta selecionar – através de um botão – o modo manual e seguir em frente.
Estima-se atualmente que entre 15 e 20% dos caminhões pesados que trafegam nas rodovias norteamericanas são equipados com caixas automatizadas. Trata-se de um índice ainda abaixo da Europa, com média entre 35 e 45% da frota pesada, mas é encarado como um filão para os negócios de empresas como a Eaton, cuja divisão de transmissões está desenvolvendo um grande trabalho junto a frotistas, para mostrar as vantagens do seu sistema de transmissão automatizado identificado como Ultra-shift.
Durante visita ao campo de provas da Eaton, em Michigan/ EUA, foi possível perceber, na prática, em pesadões das marcas International, Peterbilt, Freightliner e outros, todos equipados com a transmissão automatizada, as vantagens do sistema oferecido pela empresa. Os engates – feitos pelo sistema eletrônico identifica a necessidade do veículo de trafegar em certa marcha – são quase imperceptíveis pelo motorista. Além disso, não existe a possibilidade de engrenar uma marcha errada.
Michael Van Wyk, presidente da transportadora TransWay, com sede na cidade de Holland, no estado de Michigan, tem vários caminhões de sua frota equipados com o sistema UltraShift e se diz satisfeito com o desempenho dos veículos automatizados. Um dos motivos de sua satisfação é a economia de diesel, que hoje representa o maior custo para os transportadores nos Estados Unidos. Além disso, como outros empresários do setor, ele também enfrenta dificuldades para encontrar motoristas profissionais para dirigir caminhões pesados e diante desta realidade, a caixa automatizada vai ganhando espaço na frota pesada do país. Os números fornecidos pela Eaton dão conta de economia de até 19% no uso urbano, no caso da transmissão UltraShift HV (para caminhões médios) e 7,5% na AutoShift HP (para pesados).
As vantagens proporcionadas pelo sistema automatizado de trocas de marchas, também conhecida como transmissão inteligente, podem levar muitos transportadores brasileiros a seguir o exemplo norte-americano e europeu e adotar o seu uso. O pontapé inicial foi dado pela Scania, com o lançamento do Opticruise, em agosto de 2001; a Volvo disponibilizou o sistema I-Shift na linha 2004, sendo que para a linha 2007, lançada em setembro, a empresa trouxe a nova versão, atualizada e com capacidade para equipar veículos com PBTC acima de 50 toneladas.
Diante da movimentação do mercado, a Eaton tem planos de disponibilizar a caixa automatizada no Brasil até 2008. Afinal, o produto utilizado hoje nos Estados Unidos – de 10 e 13 velocidades – é produzido na fábrica brasileira, em Valinhos/SP -, sendo importada apenas a parte eletrônica da caixa. Ainda mais que a empresa tem unidades em testes , há cerca de quatro anos, equipando dois caminhões International da transportadora Fanti, no Rio Grande do Sul. “Instalamos as caixas AutoShift há cerca de quatro anos, quando a International ainda produzia caminhões para o mercado brasileiro. Os dois veículos rodam até hoje sem apresentar problema algum”, acrescentou Ricardo Dantas, diretor de marketing da Eaton brasileira. Ainda de acordo com Dantas, as duas Unidades são AutoShift, o modelo anterior que incorpora o pedal de embreagem. Trata-se de um item que facilita a operação durante as manobras com o caminhão, conforme a preferência dos motoristas. Dantas estima que 25% dos carreteiros norte-americanos preferem dirigir com o terceiro pedal, embora o modelo atual, a UltraShift, dispense o dispositivo.
Jorge Fanti, um dos proprietários da empresa disse que cada um dos caminhões já rodou cerca de 600 mil quilômetros com a caixa automatizada e nenhum deles deu um problema sequer. “É um produto excelente. O motorista não arranha marcha e protege o equipamento. Além disso dá economia de combustível”, elogia o transportador. De acordo com ele, numa viagem entre Curitiba e Porto Alegre o caminhão com caixa automatizada economiza 40 litros de diesel em média. “Um dia desses abrimos uma das caixas para ver e parecia ser um equipamento novo. Na minha opinião é um bom negócio e acho que quando o mercado começar a descobrir as vantagens vai aderir a esta caixa em que um “robozinho faz as mudanças de marchas”, concluiu.
Há mais de 20 anos Apesar de ter cara de novidade, a Eaton apresentou a primeira caixa automatizada para veículos comerciais em 1985, na Frankfurt Truck Show/Alemanha, e em 2001 lançou a UltraShift com seis velocidades, dois anos antes de chegar a versão com 10 marchas. Mesmo pouco divulgado, e ainda em pequeno volume, o sistema é utilizado no Brasil em caminhões e vans e deve chegar aos automóveis de passeio brasileiros em 2007, conforme anunciou a Magneti Marelli, ao apresentar o câmbio manual com controle eletrônico, denominado pela empresa de Free Choice. Em veículos pesados a caixa automatizada tem a seu favor o fato de ajudar a economizar combustível e facilitar a dirigibilidade do caminhão. |