Por Evilazio de Oliveira

Todas as madrugadas, caminhões pequenos e médios, entram nas grandes cidades transportando produtos hortifrutigranjeiros para o abastecimento de restaurantes que funcionam nas áreas centrais. Esse tipo de carga é transportada dos “cinturões verdes” que circundam as áreas urbanas ou, mais freqüentemente, da Ceasa (Central de Abastecimento S.A.) e a entrega precisa ser feita bem cedo, antes que as ruas comecem a ser ocupadas pelos automóveis e pedestres. O gaúcho Anderson Zílio da Silva, 24 anos, dois na atividade, trabalha com o pai, Selmo, que tem produção própria de alface numa área no bairro do Lami, zona rural de Porto Alegre/RS, é um desses motoristas madrugadores.

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A atividade de Anderson, do pai e de alguns empregados começa por volta das quatro horas da tarde, com a colheita de centenas de pés de alface para atender aos pedidos feitos pelos donos de restaurantes, na véspera. Ele abastece cerca de 18 clientes no centro da cidade, com o fornecimento de alface, acondicionadas em caixas, com cuidado, para serem entregues na manhã seguinte, muito cedo.

O Mercedes 97 fica carregado e às 4h30 da madrugada começa a entrega no centro, antes que comece o tumulto do trânsito e que os guardas comecem a importunar. Anderson garante que mesmo sendo um negócio familiar, trabalha como empregado, ganhando R$ 700,00 por mês, “livres”. O caminhão está sempre em atividade, só pára à noite, carregado, para sair novamente de manhã para a cidade. Eventuais consertos são feitos nos finais de semana, explica.

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Enio Crestani, 29 anos, 10 de profissão, tem dois caminhões Mercedes em sociedade com o irmão, Jorge, mas prefere intermediar o fornecimento aos restaurantes do centro da cidade. Eles são os chamados “atravessadores”, comprando a mercadoria na Ceasa e revendendo, de acordo com os pedidos dos clientes, também feitos no dia anterior. Eles têm uma carteira com cerca de 30 estabelecimentos, para os quais fornece de tudo, alface, tomates, cenouras e frutas. Enio e Jorge têm firma registrada, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, com uma infra-estrutura suficiente apenas para garantir o contato com os clientes, a contabilidade e um galpão que serve como depósito para as caixas e para abrigo dos caminhões.

Mesmo carregando na Ceasa, eles também precisam madrugar para a escolha certa das mercadorias, a inevitável pechincha pelos melhores preços e a obrigação de chegar bem cedo nas ruas centrais, onde os empregados dos restaurantes já estão à espera da mercadoria. Vale a pena? “Claro, já estamos pensando em comprar dois caminhões grandes para botar na estrada”.

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Outro que carrega na Ceasa é Ivanei Lorenzon, 27 anos e há seis na atividade. É dono de um Mercedes 91, que utiliza na compra e venda de hortifrutigranjeiros e outros dois Mercedes 912 transportando frangos e rações para a Avipal. Não se importa de levantar cedo. “O negócio é comprar e vender pra fazer render”, afirma. Ele tem 27 clientes cadastrados e está feliz. Agora, sobre esses rendimentos, não fala, diz que é confidencial. Ivanei não pensa em comprar um caminhão maior e nem se dedicar ao transporte de cargas. Lembra que os fretes são baixos, despesas altas e as estradas muito perigosas.

A atividade da distribuição e entrega de hortifrutigranjeiros é integrada por produtores que vendem diretamente da lavoura e de comerciantes que compram na Ceasa por preços especiais e revendem aos restaurantes. O certo é que existe uma concorrência entre eles, onde teoricamente o produtor deveria levar vantagem em relação ao preço. Todavia, segundo alegam, existe uma “máfia da verdura”, que tenta obter melhores preços com o produtor que está na Ceasa e, com isso, ter condições de fazer concorrência ao produtor que faz a venda direta. É o atravessador. Mas, há também os donos de restaurantes e pequenos comerciantes que fazem suas compras diretamente na Ceasa, transportando as mercadorias em picapes ou Kombis e, procurando dessa maneira ampliar a margem de lucro nos seus respectivos negócios.

Junto com os verdureiros, caminhões de transportadoras fazem as entregas fatiadas de mercadorias em lojas, magazines, supermercados, também na procura pela melhor vaga para estacionar antes que automóveis particulares, táxis, ônibus e lotações comecem a circular. Com eles, a multidão de pedestres. Pior: os apitos e a presença dos guardas de trânsito. É sinal que o horário de entrega dos verdureiros terminou. Hora de ir embora porque amanhã, começa tudo de novo.