Por Evilazio de Oliveira

Os conhecidos transceptores de rádio que hoje equipam a maioria dos caminhões que rodam nas estradas brasileiras – os populares PX, que operam na faixa do 11 metros, a Faixa do Cidadão – se constituem num acessório quase obrigatório em termos de segurança e lazer do carreteiro, muito embora poucos obedeçam a legislação para o uso desse tipo de equipamento de comunicação e, também, criticado pela linguagem imprópria que predomina nas trocas de mensagens.

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Liberado para utilização no Brasil na década de 70, a Faixa do Cidadão está sujeita a uma série de exigência da Anatel – Agência Nacional das Telecomunicações, que controla a origem, o modelo e a potência do equipamento, além da habilitação do operador, que tem um prefixo próprio e pago taxas pelo uso da freqüência de rádio. No começo era assim, . Os adeptos do radioamadorismo foram os primeiros usuários, passando logo depois para os taxistas e os carreteiros. E com a proliferação de equipamentos contrabandeados, a necessidade de licença foi tornando-se cada vez mais ignorada. Hoje são poucos os operadores legalizados utilizando os 11 metros.

Nas estradas, quem não tem o equipamento instalado, já teve ou está sonhando em comprar um rádio, mesmo de segunda mão. É o caso do carreteiro Ari Almeida, 57 anos, 33 de estrada, que dirige uma carreta Scania 82. Ele conta que há pouco estacionou o caminhão num posto de combustível e quando voltou a porta da cabine tinha sido forçada. Levaram o rádio, o rádio PX, roupas, tudo. “Só não levaram dinheiro porque não tinha”, lembra. Mas garante que logo vai instalar outro rádio. Ari Almeida é natural do município de Chiapetta/RS e viaja para Argentina e Chile, onde só gosta de ouvir as conversas dos carreteiros locais. Acredita que o rádio é muito útil para a troca de informações sobre as condições de estradas, algum tipo de emergência, existência de barreiras nas estradas, essas coisas. Para emergência, os operadores utilizam o canal 9, reservado para esses casos, inclusive contatos com a Polícia.

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O paranaense Sílvio Antônio Zanetti, 26 anos, dois de profissão, trabalha num bi-trem Scania transportando grãos. Ele investiu R$ 560,00 na compra de um rádio PX e mais R$ 80,00 numa antena Maria-mole e está feliz com o equipamento. Segundo diz, não gosta muito de falar no rádio, apenas de ouvir. E ouve muitas bobagens, mas também informações úteis sobre estradas, acidentes e até para socorrer algum colega que precisa de ajuda na estrada. Mesmo assim, não dispensa o telefone celular.

Outro que está utilizando muito o telefone celular atualmente, é o carreteiro Éderson Ciceri, 22 anos, quatro de profissão e 10 de estrada viajando com o pai, também carreteiro. Hoje trabalha como empregado, dirigindo um Volvo 2003. Ele comprou um aparelho usado por R$ 100,00 e gastou mais R$ 60,00 com antena e instalação. Deu para ouvir e falar bastante, mas o rádio pifou. E agora espera a “coisa folgar um pouco para consertar o rádio ou comprar outro novo”. Segundo afirma, o aparelho é útil e serve para avisar os colegas em caso de acidente, pane no caminhão ou quando se vê alguém ou algum veículo suspeito na estrada. Enquanto isso, conta com o celular para os contatos mais urgentes ou para falar com a família.

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Tanto o rádio PX como celular têm desvantagens, com as chamadas “zonas mortas”, onde não há sinal. Para esses casos, e para quem está disposto a gastar, existe o celular via satélite. Ou o recurso de rádios em outras freqüências, 40 metros, por exemplo. Mas que é tudo mais caro é mais complicado, como explicam os carreteiros mais experientes. São eles que também defendem o uso racional do rádio como segurança, principalmente nas viagens longas ou quando trafegam em comboio e as conversas entre si auxiliam na camaradagem e torna o trecho menos enfadonho.

Apesar disso, quando se fala em segurança, o rastreador via satélite continua sendo o equipamento preferido pelas grandes empresas de transporte. O rádio pode ser apenas um acessório, sem grande valia, a não ser como passatempo. Na Coopergarga, de Concórdia/SC, os quase 600 caminhões que integram a frota de caminhões cooperados, são monitorados por rastreadores, através de uma central que sabe a localização exata de cada veículo, sempre que necessário. Isso não significa que os motoristas não utilizem o rádio PX. Trata-se de um acessório que pode ser utilizado a gosto do condutor, sem maiores implicações.

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Outros carreteiros gostam tanto do rádio que criam grupos ou associações e se tornam grandes amigos nas rodadas. Nesses casos, de maior organização, existe um cuidado maior pela legalização das estações ou dos operadores. Todos devem possuir um prefixo fornecido pela Anatel e têm um QRA (nome) de identificação. Aliás, vale lembrar que grande parte dessas comunicações é feita mediante o uso do Código Q, um código internacional que utiliza a letra Q seguida de outras duas para denominar as mais variadas situações ou mesma uma gíria própria dos operadores do rádio.

O carreteiro gaúcho Luiz Castanho, 50 anos e 15 no trecho, utilizou o rádio PX por uns dois anos. Depois, quando lhe deram um outro caminhão, um eletrônico, ficou com medo de mandar instalar o aparelho para não mexer na fiação elétrica. Está com o rádio guardado na cabina e espera apenas achar um técnico de confiança para fazer o serviço.

Noélio Gonçalves da Silva, 34 anos, quatro de profissão, utiliza um rádio que comprou de segunda mão, mas que funciona muito bem. Ele também não tem registro e nem QRA, opera “no grito”, mas pensa em se “legalizar” caso isso não custe muito caro. Gosta de ouvir os colegas de estrada nas rodadas de conversa, nos avisos de trechos ruins na estrada, de barreiras policiais e de pardais. Só lamenta todas as bobagens e palavrões que os carreteiros falam no ar. Principalmente nas estradas do Estado de São Paulo, afirma. “Uma pouca vergonha”.

Legendas:
Para Sílvio Antônio Zanetti o bom do rádio é ouvir. Apesar de muitas bobagens, tem coisa importante como informações úteis das estradas

Roubaram a cabine do caminhão de Ari Almeida e levaram o rádio PX e até roupas. Agora espera um ´´fôlego´´ para comprar outro equipamento

Éderson Ciceri usa o celular, pois seu PX pifou. Comprou um aparelho usado que não resistiu. Aguarda com paciência para adquirir outro.

No seu caminhão antigo usava o rádio. Mas depois que pegou um veículo eletrônico, ficou com medo de danificar o carro na instalação. Luiz Castanho é caprichoso

Outro que comprou um PX de segunda mão foi Noélio Gonçalves da Silva. Ele garante que o aparelho funciona muito bem. Gosta de ouvir as rodadas de conversas