Por Luiz Aparecido da Silva

Com 3.467 quilômetros de extensão, a BR-163 começa em Santarém/PA e termina na cidade de Tenente Portela/RS e se destaca como um dos principais elos de ligação dos Estados da região Sul com as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte do País. Porém, o trecho com pouco mais de 70 quilômetros, que vai desde o trevo com a BR-277, em Cascavel/PR, até o trevo para Barracão, em Realeza/PR, na região Oeste do Estado, encontra-se intransitável.

Com movimento diário de cerca de cinco a oito mil caminhões e ônibus, conforme estimativa da Polícia Rodoviária Federal, a pista de rolamento, cuja restauração aconteceu pela última vez em 1994, apresenta deficiências e necessita urgente de manutenção.

A situação piorou ainda mais a partir de novembro do ano de 2010, quando o DER (Departamento de Estradas de Rodagens), órgão do governo do Paraná, devolveu a estrada para o domínio da União. Durante o período que o órgão cuidou da rodovia, ela era conhecida como PRT-182 (transição).

O carreteiro Jair Polhmann diz que devido ao péssimo estado da pista demora três horas para percorrer 70 quilômetros
O carreteiro Jair Polhmann diz que devido ao péssimo estado da pista demora três horas para percorrer 70 quilômetros

Atualmente existem muitos buracos, falta de acostamento e de sinalização e com um agravante: a ponte sobre o Rio Iguaçu, cuja capacidade máxima de carga é para 57 toneladas, foi inaugurada em 1983, quando nem se imaginava a existência de bitrens e rodotrens, que hoje são composições frequentes na rodovia. Para complicar um pouco mais, a balança que funcionava em Lindoeste está desativada.

Prefeitos das cidades de Cascavel, Santa Tereza do Oeste, Lindoeste, Santa Lúcia e Capitão Leônidas Marques comandaram recentemente mutirões de emergências para tapar as maiores crateras. Mas a situação pouco mudou. De forma emergencial, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) autorizou, a um custo de R$ 5,4 milhões, a operação tapa-buracos, iniciada no dia 1º de setembro. Em dois meses, os trabalhos atingiram 35 quilômetros.

Péssimas condições da estrada elevam os custos dos motoristas, provocam maior desgaste do caminhão e aumentam o tempo de viagem
Péssimas condições da estrada elevam os custos dos motoristas, provocam maior desgaste do caminhão e aumentam o tempo de viagem

Porém, carreteiros questionam a operação tapa-buracos, pois entendem que ela é pouco eficaz e afirmam que já há novas crateras nos locais onde o serviço começou. Classificam de vergonhosa a situação da rodovia e afirmam que quando terminarem o serviço de emergência a estrada estará nas mesmas condições nos pontos onde a operação teve início.

Luiz Carlos Bishoff diz que em outubro passado teve prejuízo com o estouro de dois pneus de seu caminhão
Luiz Carlos Bishoff diz que em outubro passado teve prejuízo com o estouro de dois pneus de seu caminhão

Transportando milho e farelo do Paraguai para o Sudoeste do Paraná, Jair Polhmann, de Francisco Beltrão (PR) transita na BR-163 com seu FNM 73 já há 30 anos. Ele classifica o trecho que vai da BR-277, em Cascavel, até a ponta do Rio Iguaçu, de péssimo, e acha vergonhoso o tratamento que o governo está dando aos motoristas de caminhão e todos os brasileiros que precisam trafegar pela rodovia. “Eles estão arrumando, mas o ritmo é tão lento que quando chegarem ao final terão de começar tudo de novo. Já tem novas crateras em locais onde já fizeram o serviço do famoso tapa-buraco”, acentua Polhmann.

Ele destaca também que as péssimas condições da estrada fazem com que todos os carreteiros tenham seus custos elevados. Para se ter ideia ele diz que chega a demorar três horas para percorrer os 72 quilômetros de buracos. E o desgaste do caminhão é muito grande. No seu caso, a embreagem é mecânica e sofre demais com os solavancos causados pelas crateras existentes na estrada.

Balança desativada, que incentiva o excesso de peso, demonstra falta de atenção com a rodovia, onde circulam diariamente cerca de oito mil caminhões
Balança desativada, que incentiva o excesso de peso, demonstra falta de atenção com a rodovia, onde circulam diariamente cerca de oito mil caminhões

Luiz Carlos Bischoff, de Iporã do Oeste/SC, reclama da demora dos serviços de remendos da pista. Ele entende que aquilo que poderia ser feito em três meses chega a demorar três anos. Há 24 anos ele utiliza a BR-163 e diz que ela nunca esteve assim. “Pelos impostos que pagamos, em especial a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) do diesel, tínhamos que ter uma rodovia duplicada”, avalia. Bischoff transporta milho, soja e farelo de Sorriso/MT para Santa Catarina e Rio Grande do Sul e para ele a BR-163 é obrigatória em suas viagens. Explica que na segunda semana de outubro teve dois pneus novos estourados neste percurso. “É de doer a alma, um prejuízo desse”, lamenta.

Ele chama a atenção também para os riscos de acidentes, afirmando que muitas pessoas inocentes perderam a vida neste trecho da rodovia. Diz que a maioria dos acidentes ocorre quando motoristas, seja de caminhões ou carros pequenos, tentam desviar de buracos. Sugere também que a fiscalização da polícia seja maior para impedir as ultrapassagens em locais indevidos, como em lombadas e alerta para outro problema grave: a falta de sinalização.

Carreteiros dizem que a situação piorou a partir de novembro de 2010, quando o Estado devolveu a rodovia para o domínio do governo federal
Carreteiros dizem que a situação piorou a partir de novembro de 2010, quando o Estado devolveu a rodovia para o domínio do governo federal

Orival Vieira, de Pato Branco/PR, classifica de péssimo o estado da BR-163 entre Cascavel e Realeza. “É só buraco. Se você cai em um deles, arranca o eixo. Passo aqui com frequência e este tapa-buraco não está surtindo efeito. Estão pegando o dinheiro do governo com este serviço. Deveria ser feito um trabalho melhor”, enfatiza Orival, acrescentando que se a estrada está péssima para os caminhões, para os carros pequenos está muito pior. O resultado, infelizmente, é acidente.

Para Orival Vieira, a operação tapa-buraco para corrigir as deficiências não surte efeito, porque a estrada precisa de um serviço melhor
Para Orival Vieira, a operação tapa-buraco para corrigir as deficiências não surte efeito, porque a estrada precisa de um serviço melhor

Os irmãos Ivani Carlos e Éder Batisti, de Flor da Serra do Sul/PR, usam a estrada pelo menos quatro vezes por semana. Eles transportam milho de Carapó /MS para Santa Catarina, geralmente para as cidades de Chapecó, Descanso e Quilombo. Ivanir diz que a situação na 163 no momento é uma vergonha para o governo. As péssimas condições da estrada fazem com que o tempo para percorrer o trecho de 72 quilômetros aumentasse em duas horas. Isto significa que são gastos 50 litros de diesel, o que aumenta o custo da viagem. “O risco de acidente cresceu 60%. Pneus e molas sofrem com os buracos. É triste toda semana nos depararmos com acidentes de caminhões. De automóveis vemos praticamente toda viagem’, diz Ivanir.

Trecho com situação precária, falta de fiscalização da polícia rodoviária e ultrapassagens em locais indevidos facilita a ocorrência de acidentes
Trecho com situação precária, falta de fiscalização da polícia rodoviária e ultrapassagens em locais indevidos facilita a ocorrência de acidentes

Seu irmão argumenta que não dá mais para rodar à noite e informa que recentemente teve dois pneus estourados. Eram pneus novos. Tive um prejuízo de dois mil reais. Como cada viagem deixa no máximo R$ 900,00 de lucro, terei que dar duas viagens e um pouco mais para recuperar o que perdi. Tenho que rezar para que não aconteça outro contratempo”, finaliza Éder. Ele também questiona a condição da ponte sobre o Rio Iguaçu, em Capitão Leônidas Marques. “A ponte é velha, tem buracos na pista. Não temos o que falar. A situação é vergonhosa”, lamenta.

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Os irmãos Ivani e Éder Batisti lembram que as péssimas condições tornam a estrada muito perigosa e aumentam as despesas dos carreteiros