Por Elizabete Vasconcelos
Quem pensa que estrada boa significa menos acidentes está enganado. Ao menos é o que afirma pesquisa realizada pelo Núcleo CCR de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Segundo a análise, isso acontece porque nas vias em melhores condições os condutores tendem a dirigir em maior velocidade. “Quando o motorista está em uma estrada boa ele pisa no acelerador”, argumenta Paulo Resende, coordenador do núcleo de logística da instituição. Ele destaca ainda que nestas vias, em geral, os acidentes mais comuns são as colisões traseiras e as saídas de pista que, segundo ele, são típicas de vias que possibilitam maior velocidade dos veículos.
Em compensação, em estradas com problemas estruturais (esburacadas, de pista simples etc), as ocorrências mais comuns são as colisões frontais, consideradas mais graves. “Em rodovias ruins, muitas vezes o motorista tem a ilusão de que conhece a pista e acaba cometendo imprudências, como ultrapassar em locais proibidos”, destaca. No entanto, de acordo com o levantamento, realizado com dados coletados junto à Polícia Rodoviária Federal, CNT (Confederação Nacional dos Transportes) e às concessionárias de rodovias (relacionado ao período de 2005 a 2009), uma boa estrutura viária não reduz o volume de ocorrências, entretanto, diminui a gravidade dos acidentes. “Investir em estradas é primordial, mas achar que isso diminuirá o volume de acidentes é ilusório, pois se o pensamento do motorista continuar o mesmo, quanto melhor a pista maior será a velocidade média dos veículos e, consequentemente, mais acidentes acontecerão. No entanto, com certeza este investimento reduzirá a gravidade das ocorrências, pois em geral pistas boas têm maior área de escape e são duplicadas”, ressalta Resende.
A pesquisa constatou que boa parte dos acidentes são ocasionados pelo comportamento dos condutores, como excesso de velocidade, imprudência, manobras perigosas, falta de experiência ao volante ou consumo de álcool. Para chegar a este consenso, a pesquisa analisou mais de 200 mil boletins de ocorrências (80 mil de 2005 e 120 mil de 2009), referentes a acidentes em diversos trechos rodoviários, que totalizam uma extensão de 25 mil quilômetros pesquisados. Com esta análise, a pesquisa conseguiu identificar que do total de ocorrências verificadas nas estradas públicas em 2009, 37,10% representam acidentes com feridos e 6,16% com vítimas fatais. Em rodovias concedidas, este número cai para 32,66% e 3,81%, respectivamente. Nos trechos avaliados, os acidentes mais comuns foram colisões (entre dois veículos ou mais), atropelamentos, capotagens, abalroamento (batidas laterais), saída de pista, choque contra estruturas fixas e atropelamento de animais.
TRECHOS MAIS VIOLENTOS |
A BR-101, entre os quilômetros 51 e 100, dentro do Estado de Pernambuco, foi considerada como a mais perigosa do País em termos de acidentes com vítimas fatais, no ano de 2009, conforme avaliação da Fundação Dom Cabral. De acordo com a pesquisa, a média apurada foi de 5,7 acidentes com mortes a cada mil veículos que circulam na região por dia. Já a BR-476, no Paraná, trecho entre os quilômetros 101 e 150, ficou em segundo lugar no ranking com 5,21% de acidentes com mortes. Em termos de ocorrências com feridos, o trecho também se destaca como o de maior incidência. |
Tipo de acidente | 2005 | 2009 |
Abalroamento | 12,12% | 22,34% |
Colisões | 41,55% | 37,45% |
Atropelamentos | 5,04% | 3,74% |
Capotagens | 7,75% | 5,23% |
Saídas de pista | 17,40% | 16,35% |
Choques | 13,22% | 12,83% |
Fonte: Fundação Dom Cabral