Por Evilazio de Oliveira
Quando o assunto é transporte rodoviário de cargas, é difícil dissociar a imagem dos caminhões fumarentos e lentos – que inevitavelmente são vistos nas estradas brasileiras – com motores desregulados e fazendo muito barulho. Além disso, a falta de conservação e limpeza das margens das rodovias contribui para o fortalecimento dessa imagem, que nada tem de ecológica ou de preservação ao meio ambiente.
Aos poucos, os carreteiros fazem a sua parte nessa tarefa, cuidando de manter os caminhões limpos e com os motores funcionando direito, regulados, evitando o excesso de fumaça e, consequentemente, economizando combustível e obtendo um melhor desempenho do bruto. Dessa maneira, contribuem com a ecologia e certamente são melhores recebidos nas transportadoras e locais por onde trafegam.
Nas atividades de Volnei Jair Schreiber, 34 anos e 12 de estrada, os cuidados com o meio ambiente são permanentes e nunca podem ser esquecidos, porque ele dirige uma carreta bitrem com 47 mil litros de combustíveis. É uma carga perigosa e todas as regras para esse tipo de transporte são duras, desde a manutenção do bruto aos cuidados para entrar ou sair das empresas, para o enchimento dos tanques ou a transferência para outros locais. Tudo isso é ensinado nos cursos obrigatórios para o transporte de cargas perigosas e lembrado, periodicamente, em treinamentos e cursos de reciclagens que as empresas oferecem aos carreteiros.
Schreiber transporta combustíveis da Petrosul, em Triunfo/RS, e além do rigor profi ssional necessário ao motorista, o caminhão também precisa estar rigorosamente dentro das normas de segurança exigidas pela empresa e autoridades de controle ambiental. Tudo é verifi cado no check-list: equipamentos de segurança e sinalização e limpeza geral do caminhão e dos tanques, onde um mínimo sinal de ferrugem serve como alerta para uma situação de risco. Até agora – graças a Deus, diz ele – nunca sofreu acidentes ou precisou utilizar as coisas que aprendeu e aprende no sentido de evitar a contaminação do meio ambiente com os produtos que transporta. Reconhece que o pessoal do trecho trabalha muito e o cansaço quase sempre é o maior responsável pelos acidentes que acontecem, apesar da perícia dos motoristas.
O carreteiro Élder de Oliveira Souza, 51 anos e 30 de volante, trabalha na rota entre São Paulo e Buenos Aires e segundo ele, os cuidados com a ecologia começam em casa, com a família. Com isso, mantém o caminhão limpo e bem regulado para evitar fumaça no escapamento e desperdício de combustível. “A cabine é a minha segunda casa, onde passo a maior parte do tempo, e nada melhor do que mantê-la limpa e cheirosa”, diz. Esse zelo também é seguido nas estradas ou nos postos de abastecimento, onde sempre procura deixar tudo em ordem. “Lugar do lixo é no lixo, embora muitos motoristas não estão preocupados com a ecologia”, finaliza.
Na opinião do carreteiro Roque Mezzomo, 45 anos e 20 de estrada, existe todo o tipo de motoristas na estrada, mas a maioria é caprichosa, cuida do caminhão e mantém limpos os locais por onde passa. “Mas tem de tudo”, ressalta. Para ele, se o motorista não der atenção ao seu caminhão, da limpeza da bomba injetora, regulagem de faróis, pressão dos pneus e da boa apresentação geral, certamente vai ter problemas até
para conseguir cargas. “As empresas querem ver o caminhão bem-cuidado e os motoristas apresentáveis, ou não deixam nem carregar”. Mezzomo mora em Iraceminha, no Oeste de Santa Catarina e viaja com uma carreta pelos Estados do Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo, transportando polietileno, arroz e “o que for preciso”. Afirma que os pátios de estacionamento e os banheiros disponíveis nas estradas poderiam ser mais limpos, atribuindo a culpa também aos motoristas. “Todos precisam fazer a sua parte, colaborar, mas tem gente que rouba até os chuveiros dos banheiros. Mesmo assim, as coisas estão mudando”, diz. Lembra que já não existe mais tanto lixo jogado nas margens da estrada, ou pneus velhos, como acontecia até pouco tempo. O pessoal vai se conscientizando, mas isso leva tempo”.
Sidnei da Rosa Corrêa, 34 anos e quatro de boléia, dirige um graneleiro e sabe a importância de manter o bruto limpo. Após cada descarregamento é preciso varrer muito bem toda a carroceria antes da lavagem. Esse trabalho geralmente é feito nos estacionamentos dos postos de abastecimento, que acabam ficando com toda a sujeira. E, mesmo admitindo isso, ele não pensa em apanhar um saco e recolher o lixo, quase sempre composto de casca de arroz e causador de muita poeira. Lembra que é preciso manter o caminhão limpo, para evitar reclamações na hora de carregar outras mercadorias nas transportadoras.
Ele acredita que os motoristas cuidam bem da regulagem dos motores dos brutos e mantêm as estradas e os postos de combustíveis em boas condições de higiene. Na sua opinião, o pessoal mais antigo é mais cuidadoso, não joga lixo nas estradas ou pontas de cigarros. “Mesmo assim falta muita conscientização para a proteção da natureza, principalmente nas margens das estradas”, diz. Também sugere mais limpeza nos banheiros da estrada, mesmo que se tenha de pagar por isso.
O certo é que, se hoje os caminhões são mais silenciosos e menos poluentes em termos de fumaça dos escapamentos e se já não se jogam pneus velhos nas margens das estradas, como antigamente, ainda falta o interesse dos motoristas na conservação e limpeza do bruto, nas estradas e nos postos de abastecimento, conforme opinião de Sidnei Corrêa.