Por Daniela Giopato
A indústria de pneus se consolidou como um dos segmentos mais importantes do País nas últimas quatro décadas. Para se ter ideia, entre 2007 e 2009 a média de produção foi de 57 milhões de unidades por ano, e desse total cerca de 10 milhões foram destinados ao setor de cargas. Os dados são da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos &chaves1;Anip&chaves2;, informando ainda que, já na década de 80, a produção nacional atingia a casa dos 29 milhões de unidades.
O produto evoluiu com o transporte no Brasil, tanto em volume de produção quanto em tecnologia. Até o início da década de 70, por exemplo, os pneus de cargas eram diagonais, fabricados com fibras têxteis, e usavam câmara de ar e protetor. Porém, com a evolução do transporte rodoviário de cargas, o mercado exigiu a migração para os radiais como equipamento original dos veículos. Em um primeiro momento, ainda eram têxteis, passando para cordonéis de aço na década de 80.
O principal fator responsável pela migração do pneu diagonal para o radial é a maior quilometragem. Os radiais duram mais do que o dobro dos diagonais, além de oferecerem mais estabilidade ao veículo, com melhor resposta de direção, redução do espaço de frenagem e menor resistência ao rolamento, o que significa também redução do consumo de combustível.
Para Ricardo Drygalla, gerente de marketing da Bridgestone Bandag Tire Solution &chaves1;BBTS&chaves2;, a oferta de pneus radiais cresceu significativamente em relação aos convencionais. Ao mesmo tempo em que ocorria o aumento de pneus radiais, crescia também o número de pneus sem câmara, especialmente os de perfil baixo, conferindo melhor desempenho e segurança a todos que trafegam pelas estradas brasileiras. “O setor do transporte de carga brasileiro evoluiu muito nos últimos 40 anos, em vários aspectos, assim como os seus operadores. Não é surpresa que isso ocorra em um País onde o modal rodoviário é responsável por cerca de 60% da movimentação total de cargas”, afirma.
O setor do transporte rodoviário teve um avanço significativo nos temas veiculares, oferta de pneus, malha rodoviária e gestão, analisa Maria Luiza de Carvalho, gerente de marketing da Michelin. Conforme ela lembra, a empresa introduziu os pneus radiais sem câmara nas estradas brasileiras. Hoje, o mercado das montadoras é exclusivamente radial e utiliza pneus sem câmara.
“Verificamos um crescimento na radialização e também a necessidade de adaptações constantes dos fabricantes de pneus para atender configurações específicas – tais como o pneu justo perfil, para semirreboques – e que ofereçam economia de combustível, e até mesmo os pneus single”, destaca. Em relação à recapagem, Maria Luiza cita a evolução do setor com a participação dos fabricantes de pneus desenvolvendo produtos adequados às suas carcaças e incrementando consideravelmente a performance dos mesmos.
A partir de 2000, a evolução continuou com os pneus supersingle, também conhecidos como extralargos. “Pode-se dizer que a principal evolução no setor está relacionada à concepção e ao projeto dos pneus, que foram se adaptando às necessidades e exigências do mercado, aos novos veículos, às estradas e às questões ambientais”, destaca Eugênio Deliberato, presidente da Anip.
Rogério de Aguiar, diretor de vendas e marketing da divisão de pneus da Continental na América Latina, empresa alemã com pouco mais de 10 anos de Brasil, lembra que o Brasil cresceu e se transformou em uma das economias mais importantes do mundo nesse período. “Hoje, o transporte rodoviário colhe os bons frutos desse cenário positivo”, acentua.
O diretor das Unidades de Negócios Agro e Truck da Pirelli na América Latina, Flávio Bettiol Junior, destaca o momento de grande modernização e investimentos importantes pelo qual passa o Brasil e acrescenta que para acompanhar o crescimento da atividade, a empresa lançou produtos adequados à realidade brasileira. A Pirelli chegou ao Brasil em 1929 ao adquirir uma pequena indústria de condutores elétricos.
Na última década foram realizadas pesquisas de desenvolvimento para a produção do pneu verde, com a substituição, por exemplo, do negro de fumo &chaves1;derivado do petróleo&chaves2; por sílica, além da aplicação de uma série de novas matérias-primas que, além de otimizar o desempenho dos pneus, contribui com a qualidade do meio ambiente. Outra grande modificação no cenário do setor é a preocupação cada vez mais evidente com a disposição final dos pneus inservíveis. A maioria das pessoas sabe que o pneu tem grande impacto se descartado em local inadequado, ou queimado a céu aberto, quando se torna inservível, porque, nos dois casos, polui o meio ambiente. Porém, nem todos sabem que seu tempo de decomposição é superior a 150 anos.
Há dez anos, a Anip mantém ações para coletar e dar o destino ecologicamente correto aos pneus inservíveis. Desde 1999, quando começou essa ação por parte dos fabricantes, já foram recolhidas mais de 1,3 milhão de toneladas e investidos, até julho de 2010, mais de 114 milhões de dólares.
Em 2007, os fabricantes do setor criaram, em parceria com a Anip, a Reciclanip, com o objetivo de dar continuidade ao trabalho de coleta e disposição final de pneus inservíveis. A ideia consiste em deixar o pneu em pontos de coleta quando ele chega ao fim de sua vida útil, para que seja recolhido por empresas licenciadas por órgãos ambientais homologados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis &chaves1;Ibama&chaves2;.
“Trata-se de um programa focado na sustentabilidade, presente em 23 Estados brasileiros, com 469 pontos de coletas espalhados pelo País e que já coletou e destinou de forma ambientalmente correta 146.515 toneladas de pneus inservíveis, somente no primeiro semestre de 2010. Para este ano estão previstos investimentos na ordem de US$ 30 milhões”, adianta Eugênio Deliberato.
O segmento de reforma de pneus também merece ser destacado como um dos que mais cresceu e evoluiu em quatro décadas. Prova disso é que em pouco tempo as reformadoras se tornaram autossuficientes e a atividade passou a ser classificada como uma das melhores do mundo pela eficiência e segurança do produto. Na década de 60, conforme explica Carlos Thomaz, assessor técnico da Associação Brasileira de Reforma &chaves1;ABR&chaves2;, começaram a surgir as empresas reformadoras, e os equipamentos eram importados dos Estados Unidos. Na época não existia técnico para oferecer treinamento para o reformador.
“A forte demanda provocada pelo aquecimento do transporte rodoviário acelerou a necessidade das reformadoras desenvolverem seus próprios equipamentos, e em pouco tempo essas empresas foram se tornando autossuficientes. Nesse mesmo período, abriu-se espaço também para os fabricantes de artefatos de borracha, e assim aumentou a oferta de matéria-prima, antes fornecida apenas por alguns fabricantes”, esclarece. Em 1975, com o advento da banda pré-curada, que substituiu o sistema camelback, a produção foi otimizada e se tornou mais eficiente, levando o setor a crescer rapidamente. Pelos dados da ABR, atualmente o setor comporta 1.300 empresas reformadoras, 23 fábricas fornecedoras de matéria-prima e realiza anualmente cerca de 8 milhões de reformas. “Podemos dizer que o Brasil tem uma das melhores reformas do mundo, sobretudo quando analisamos as condições das estradas brasileiras, que do total de 1,6 milhão de quilômetros de rodovias, apenas 12% estão pavimentadas. Muito diferente da realidade na Europa e nos Estados Unidos, países onde 100% e 64% de suas estradas, respectivamente, são pavimentadas”, afirma Thomaz.
Em 40 anos, o setor de reforma conquistou credibilidade com os transportadores, e hoje a sua importância é inquestionável, tanto para o meio ambiente quanto para a redução de custos para o País. Dados da ABR mostram que anualmente o setor gera uma economia de R$ 5,6 para o transporte, 500 milhões de litros de petróleo &chaves1;R$ 465 milhões&chaves2; e 205 mil empregos.
Arlindo Paludo, presidente do Grupo Vipal, empresa que está prestes a completar quatro décadas, tem opinião de que a atividade de reforma de pneus é um dos pontos altos da evolução no setor de transportes. “Ao longo dos anos, contribuímos para que transportadores melhorassem seu rendimento quilométrico e que pudessem rodar com segurança, graças à alta tecnologia de nossos produtos e a qualidade de serviço de nossos parceiros reformadores. Pioneiros na vulcanização a frio no Brasil, contribuímos para a criação e evolução do setor de reforma e reparo de pneus”.
Ainda de acordo com o executivo, a Vipal oferece bandas que economizam combustível, para acompanhar a constante evolução do setor, que conta com caminhões de alto desempenho e tecnologia, além de motoristas e transportadoras cada vez mais exigentes e cientes da importância da reforma para o seu negócio e o meio ambiente.
A Tipler, por sua vez, conforme diz Sérgio de Faria Bica Júnior, diretor comercial da empresa, tem acompanhado a evolução do setor e proposto sempre inovações atreladas ao contínuo ato de ouvir seus clientes. “Fomos a primeira a lançar uma banda de rodagem anti-arraste e uma das primeiras a desenvolver bandas de baixo peso e alto desempenho quilométrico, que preservam a carcaça e geram economia no transporte; e também a primeira empresa a lançar uma série de bandas dedicadas à redução do consumo de combustível”, afirma.
As técnicas de reforma também evoluíram nessas quatro décadas, conforme lembra Ricardo Drygalla, da BBTS. Ele compara que antes as reformas de pneus lançavam mão de elevadas temperaturas, agressões ao meio ambiente e sem controle rígido em seu processo, mas com o passar dos anos passaram a ser realizadas, por meio da rede Bandag, em um processo mais frio, limpo e com total controle e uniformidade de processo. “Este importante avanço contribuiu tanto para maior geração de economia quanto para a preservação ambiental”, afirma.
Renato Paolillo, gerente de Marketing Marangoni Tread Latino América, empresa que atua no Brasil desde 2000, com o sistema exclusivo de reforma Ringtread &chaves1;onde a banda aplicada na carcaça depois de raspada não é plana e vem de fábrica no formato de anel, sem emendas&chaves2;, destaca a força que as questões ambientais ganharam dentro da atividade de reforma. “É um momento de reflexão, quando o reconhecimento do passado ilumina o futuro. Vivemos em um mundo globalizado e este é o nosso tempo, em que a responsabilidade e o exercício da cidadania nos chamam para a proteção ambiental, a conservação e uso racional de recursos como forma de prevenir impactos ao meio ambiente que nos cerca. A atividade de recapagem de pneus é um dos melhores exemplos de uso racional de recursos e de minimização de rejeitos sólidos praticados pela sociedade”, finaliza.
Thomaz concorda que no início os transportadores se mostravam inseguros quanto à eficácia dos pneus reformados. Entretanto, com os trabalhos de conscientização junto ao consumidor final, somado às comprovações dos benefícios da reforma, realizada pelos próprios frotistas, tanto para redução de custo quanto para preservação ambiental, mais o aval dos fabricantes de pneus, que também fornecem a matéria-prima, o setor passou a ser reconhecido no mundo inteiro.
Para os próximos anos, as expectativas são promissoras, principalmente pelo aquecimento do mercado de veículos pesados. Sérgio Levorin, gerente de unidade comercial da Levorin Pneus, também acentua que a evolução no transporte acompanhou as mudanças econômicas nestes 40 anos. Prova disso, são os recordes das vendas de caminhões, principalmente os pesados. “Outras evoluções ficam voltadas à potência, velocidade e aos sistemas de controles e auxílio ao motorista, que facilitam seu uso gerando economia e maior segurança. Ganhamos mais qualidade e capacidade de transporte, só precisamos agora é melhorar nossas estradas”, afirma.
Na opinião de Adriz de Oliveira, gerente de comunicação e marketing da Drebor, empresa há 20 anos no mercado, é surpreendente a evolução ocorrida no transporte rodoviário, desde 1970, época em que o País era totalmente carente de infraestrutura. “De lá pra cá, muitos pneus foram consumidos nos pavimentos das novas rodovias construídas no País e a evolução no transporte rodoviário tornou-se o marco da conquista e desenvolvimento de todas as regiões brasileiras, especialmente do Centro Oeste”, explica.
O otimismo também está relacionado à certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial &chaves1;Inmetro&chaves2;, prevista para o próximo ano, que pretende melhorar e garantir a qualidade dos pneus reformados. “Acredito que o frotista é o melhor inspetor de qualidade e de segurança de um pneu reformado, porém, a certificação ajudará a regulamentar o setor”, explica Thomaz.