Por Evilazio de Oliveira

A importância dos motoristas de caminhão no desenvolvimento da economia do País nunca foi questionada, ou mesmo admitida abertamente, como se a categoria pudesse suportar indiferente aos constantes aumentos nos preços dos combustíveis, pedágios, má-conservação das rodovias e envelhecimento progressivo da frota, sem uma política adequada de fi nanciamento para a sua renovação. Os carreteiros, aos milhares, cruzam o Brasil e acompanham pelo rádio o noticiário sobre o que acontece em Brasília e, como o resto da população, “absolutamente estarrecidos com a falta de vergonha”, confessa um deles.

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Edi Fontoura lembra que todos têm dificuldades financeiras para sobreviver, mas reconhece que dói ter conhecimento de falcatruas feitas por políticos

E o que mais desagrada é a corrupção e a impunidade, conforme o desabafo do motorista Edi Carrara Fontoura, 49 anos e 29 de volante. Lembra que dificuldades financeiras todos têm e precisam lutar para a sobrevivência, todavia dói ter conhecimento de falcatruas de políticos, que sempre conseguem provar que são inocentes ou que “não sabem de nada”, diz. Fontoura também lamenta a falta de união dos carreteiros, de uma liderança forte e de representantes no Congresso Nacional para atuar em nome da categoria e diz que o movimento dos sem–terra ou os produtores rurais fecham as estradas para fazer as suas reivindicações e nada acontece. “Os carreteiros e demais usuários das estradas que se danem com os atrasos e prejuízos. Agora, se a categoria decide parar ou bloquear estradas “a polícia cai de pau, porque caminhão não pode fazer bloqueio de estrada. São dois pesos e duas medidas”, diz.

Na realidade, a maioria dos carreteiros não vota – apenas justifi ca o voto. É difícil coincidir que no dia da eleição o carreteiro esteja no seu domicílio eleitoral. Isso, segundo opinião geral, explica o desinteresse dos políticos pela categoria que permanece sem liderança ou representatividade.

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Desiludido com a ação dos políticos, Carlos Nei Silveira diz que há anos apenas justifi ca o voto e lamenta a falta de união da categoria

O carreteiro Carlos Nei Silveira, 53 anos e 15 de profi ssão, afi rma que não tem ilusões com o futuro do País ou na ação dos políticos na defesa dos trabalhadores. Ele é dono de um Scania 1988 e já viajou bastante para Argentina e Chile. Atualmente só roda dentro do Brasil e há muitos anos apenas justifi ca o voto. Conta que quando ouve o noticiário e começam as denúncias de falcatruas, roubalheiras e mensalões – desliga o rádio. “Esses políticos não fazem nada e ainda prejudicam quem trabalha, aumentando impostos, pedágios e combustíveis”, desabafa.

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Apesar de ouvir as promessas que na sua opinião nunca serão cumpridas, Flávio Luiz Pappen não deixa de carregar o título de eleitor

Silveira também lamenta a falta de união e de liderança para a categoria dos carreteiros, que tem tanta força e não sabe usar nem para defender os seus direitos, como o de trafegar pelas estradas, afi rma. “Perdemos para os sem–terra, para os produtores rurais, para qualquer um que queira fechar a estrada”.

A desilusão com a atuação dos políticos é geral no trecho. Quando a conversa vai para esse lado, os carreteiros dão de ombros. “Afi nal, o que esse povo faz em Brasília? Se não temos estradas, segurança, os pedágios são caros, os fretes não compensam e uma crise que só Deus sabe”? O queixume entre os carreteiros é constante e não é dirigido a este ou aquele governo, deputado, senador. A decepção é geral.

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Ricardo Lindermann confessa desconhecer político algum interessado nos motoristas de caminhão, nem mesmo na época de eleições

Sem votar há três eleições, Flávio Luiz Pappen, 38 anos e 15 de boléia, é dono de um Volvo 84 para o transporte de carga seca. Ele conta que gosta de ouvir o noticiário no rádio e saber das roubalheiras, das bobagens que dizem e das promessas que nunca vão cumprir. Mesmo assim, não deixa de carregar o Título de Eleitor na carteira, “apenas como um documento a mais”. Se estiver em casa no dia da próxima eleição ele vai anular o voto. Diz não acreditar mais nos políticos e acha que os motoristas estão abandonados, sem lideranças e sem força de reivindicar melhorias para a profi ssão. Entre elas, leis que protejam o motorista, segurança, pedágios mais baratos e estradas boas, entre outras coisas. Papen também reclama dos constantes bloqueios das rodovias pelos movimentos sociais, que acabam atrasando a viagem e dando prejuízo ao carreteiro, sem ninguém se importar com isso.

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Para Jamil de Castro, o desinteresse dos políticos pelos carreteiros acontece porque a maioria do pessoal do trecho não vota nas eleições

Na opinião de Ricardo Lindermann, 57 anos e 39 de volante, não existe união entre os carreteiros. Falta uma liderança capaz de motivar o pessoal. Admite que isso seja muito difícil, pois a maioria trabalha no limite, sem condições de fazer paralisações de protesto ou tomar qualquer atitude mais drástica, além de ser uma categoria muito dividida. “Ninguém respeita os motoristas”, diz. Reclama do excesso de pedágios, combustível caro, falta de segurança e estradas ruins. “Os políticos parecem não ver essas coisas, esquecem que os carreteiros que transportam toda a riqueza do País”, opina. Confessa que não ouviu falar de nenhum político interessado nos motoristas. “Nem mesmo em época de eleição, quando todos saem por aí a pedir votos e a fazer promessas”, afi rma. Incrédulo, pergunta pelos resultados da Operação Tapa-Buracos.

Para o carreteiro Jamil Maria de Castro, 59 anos e 40 de estrada, a maioria do pessoal do trecho não vota nas eleições, por isso o desinteresse dos políticos nessa classe trabalhadora. “Ninguém dá a mínima”, garante. “Nem os sindicatos funcionam direito”, reclama. Castro diz sentir falta de apoio do governo ao setor, como linhas especiais de fi nanciamento para a troca de caminhão. Segundo ele, o autônomo não tem condições de comprar um caminhão novo por causa das altas taxas de juros, garantias bancárias e mesmo a difi culdade em pagar as prestações. “Só as grandes empresas transportadoras podem renovar as frotas com condições especiais de juros”, ressalta.

Lembra que os sem-terra bloqueiam as estradas impunemente e ninguém se preocupa com os carreteiros parados na rodovia, atrasando a viagem e, consequentemente, acumulando prejuízos. Acredita que todos podem fazer as suas reivindicações, mas de forma organizada, sem prejudicar o trabalho dos outros, que também têm obrigações, família, fi lhos na escola e prestações a serem pagas no fi m do mês. Desolado, Jamil Maria de Castro admite: “Somos uma categoria desunida, sem liderança”.