Sérgio Caldeira

O aquecimento de alguns segmentos da economia como o setor sucro-alcooleiro – motivado principalmente pela grande produção de automóveis bicombustíveis – e o ramo de extrativismo mineral, contribuíram bastante para aumentar a produção da indústria de veículos pesados. Porém, não houve apenas o simples aumento da produção de caminhões, mas também o desenvolvimento de novos produtos específicos para estes setores. No caso da mineração, recentemente a Mercedes lançou a versão Axor modelo 4144 com tração 8X4, atendendo uma antiga solicitação das empresas de mineração.

Assim, a Scania (que foi pioneira na tração 8X4, lançada no P124C 360, em 1999 no Brasil) prepara um caminhão com tração 10X4 (atualmente em teste na Vale do Rio Doce e que deverá ser lançado em breve) específico para concorrer com os pequenos fora-de-estrada, os quais tem custo operacional bem mais elevado, entre outras desvantagens. No entanto, os suecos atacam dos dois lados. É que a conterrânea Volvo finaliza os testes de seu FM versão 10X4 R (R de chassi rígido).

O trabalho de apurar informações de caminhões-protótipo que operam em lugares de acesso restrito e rigidamente controlado, como é o caso das minas de hematita, por exemplo, nem sempre permite o levantamento de dados extremamente precisos com relação à ficha técnica do novo produto, mas, certamente, as informações são bastante próximas das quais irão estrear.

A disposição dos eixos no Volvo FM fica na seguinte ordem: dois eixos direcionais na dianteira, dois eixos de tração (com redução nos cubos) na parte posterior e na posição central do chassi, e um eixo de rodado simples direcional, apoiado por bolsas pneumáticas. Com este eixo central adicional, o veículo tem como principal atributo a capacidade de transportar 45 toneladas líquidas, algo inimaginável até uns dez anos em um veículo rígido.

Para segurar tanta voracidade por carga ladeira abaixo, contará com o auxílio do freio VEB de 510cv. O valente motor deste FM obrigatoriamente será um D13A, capaz de render 480cv entre 1400 e 1800 giros e 2400 Nm de torque máximo, alcançado entre 1050 e 1400 rpm. Será uma característica muito útil, visto que o equipamento terá como tarefa transportar minério e sedimentos por caminhos com rampas bastante inclinadas, alcançando um PBT superior a 60 toneladas em cada viagem. Como não sobrou espaço no chassi (um pouquinho mais longo que o dos FM 8X4) o tanque de combustível foi reposicionado. Nesta configuração 10X4, ele será montado atrás da cabine.

A caçamba tem capacidade para 22m³ de material, mas esta medida poderá mudar de acordo com o fabricante escolhido. De qualquer modo, para as versões 8X4 é muito comum a instalação de caçambas basculantes para 20 m³. No caso do 10X4 projetado pela Volvo, a novidade é que este eixo (o central) é acionado por comando eletrônico, e não apenas hidráulico, como ocorre em outros modelos.

Com relação aos concorrentes, o alvo da Volvo, além dos novos Scania 10X4 (provavelmente 470 cv), serão os fora-de-estrada como o Caterpillar 770, o Terex TR 45 e os Randon RK 628. Em relação a estes últimos, os estreantes da Scania e Volvo contam com vantagens como custo de aquisição reduzido, disponibilidade de peças, manutenção barata, reversibilidade (possibilidade de alteração da configuração dos eixos com a remoção de um ou mais eixos para ser usado em outra aplicação) e facilidade de revenda (os 10X4 podem, dada suas dimensões, transitar em rodovias e ruas como qualquer outro) pois são praticamente os mesmos caminhões encontrados em outras aplicações, porém com suas adaptações e especificidade.