Transportar pelas rodovias dos EUA ao volante de um imponente caminhão com, motor de alta potência e cabine que esbanja espaço, é o sonho de muitos motoristas brasileiros que desejam mudar de vida. Embora já se fale na falta de motoristas, para trabalhar de modo legal no país, é preciso passar por um processo de preparo aqui no Brasil

 

por Redação

Um dos assuntos comentados no momento entre os estradeiros da América do Norte, mais especificamente dos Estados unidos, é a falta de motoristas. Para se ter uma ideia, 40% dos profissionais que trabalham por lá dirigindo caminhões são estrangeiros, sendo 32% da América Central (México), 14% da Ásia e 11% da América do Sul.

De acordo com as estatísticas do governo norte-americano, um motorista recebe em média US$ 42 mil por ano (equivalente a R$ 160  mil em média), ou pouco mais de R$ 13 mil mensais. Comparando com o salário de um motorista brasileiro, o valor é atrativo, mesmo assim, há falta de profissionais e por conta disso já tem empresas aumentando essa média de ganho em até 15%.

De acordo com relatório da ATA – American Trucking Associations (a associação comercial da Indústria de caminhões nos Estados Unidos), a carência é de aproximadamente 51 mil motoristas adicionais para atender à demanda de empresas como Amazon e Walmart, por exemplo, que estão enviando maior volume de mercadorias para todo o país.

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Estima-se que a demanda para atender o envio de mercadorias seja de 51 mil motoristas

No final de 2018, o setor precisava de quase 70 mil profissionais qualificados para atender a demanda. A falta de motoristas nos últimos 15 anos cresceu e diminuiu no país, mas se considera que nunca esteve num nível tão baixo quanto agora. Pelos dados do Departamento de Censo dos Estados Unidos, a estimativa é que a escassez seja de 65 mil motoristas e com previsão de chegar a 180 mil nos próximos 10 anos.

Por outro lado, o relatório da ATA estima que será necessária a contratação de 1,1 milhão de novos motoristas na próxima década para substituir os que se aposentam e também para acompanhar o crescimento da economia local.

Atualmente, a frota local movimenta mais de 700 bilhões em mercadorias. Entre os principais fatores que desestimulam os jovens a ingressarem na profissão são as exigências físicas e o tempo que passam longe de casa. Geralmente os motoristas trabalham 60 horas semanais.

A questão da perda de interesse pela profissão em razão dos longos períodos longe de casa é antiga nos Estados Unidos. Em 2000, a revista O Carreteiro fez uma matéria com os motoristas nas estradas norte-americanas e constatou que, na época, cerca de 10% dos caminhões acima de 24 toneladas estavam parados porque muitos motoristas não queriam mais ficar uma semana fora de casa, e por conta disso estavam migrando para outras áreas.

Um dos motoristas entrevistados na época disse que trabalhava cinco dias por semana rodando 320 quilômetros por dia. Ele admitiu que não tinha medo de perder o emprego, porque era muito fácil conseguir outro para ganhar salário de até 40 mil dólares/ano, cerca de R$ 160 mil reais no dólar de hoje.

Outros estradeiros, como um casal do Estado do Tennessee, afirmou que viajavam transportando cargas para uma companhia de alimentos. Mike e Kim abasteciam o bruto em um parada de caminhão localizada em um anel de ligação à rodovia 65 (Chicago- Miami).  Com os filhos já casados, viajavam com um Kenworth próprio, ano 2000. Disseram que permaneciam até um mês na estrada se revezando ao volante, uma vez que o caminhão já era equipado com transmissão automatizada.

Aliás, um dos propósitos da viagem aos Estados Unidos naquela época foi conhecer a transmissão automatizada Eaton, que além de ser um novo produto trazia com ela a proposta de tornar mais fácil a dirigibilidade dos caminhões pesados. Havia entre os frotistas certa preocupação com a falta de motoristas e por conta disso já compravam caminhões com transmissão automatizada, que não exigia motoristas com certo grau de experiência para operá-las.

O objetivo dessa ação era atrair novos condutores para a profissão, uma vez que era mais fácil para engrenar marchas como era nas caixas de engate rápido, sem anéis sincronizadores (caixa seca) ainda uma preferência dos motoristas da América do Norte na época.  Aqui no Brasil, a primeira montadora a apresentar comercialmente a transmissão automatizada foi a Scania, também no início da década de 2000 e logo foi a vez da Volvo apresentar a I-Shift.

Escalada para ser motorista nos EUA

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Agora que você já teve uma ideia de como estão as expectativas de emprego nos Estados Unidos, e caso tenha alguma aspiração em tentar a vida por lá dirigindo caminhão estradeiro, é importante entender o que é preciso saber e ter.

Antes de se aventurar em outro país é fundamental  se preparar e entender a cultura local. Geralmente o idioma é uma das barreiras, mas é preciso se informar também sobre as possibilidades legais de trabalhar em outro país, leis, regras e direitos civis para não ter nenhum tipo de problema com a justiça.

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Longos períodos longe de casa estão entre os principais fatores que tiram o interesse de candidatos mais jovens a ingressarem na profissão

Também é importante ingressar no país de modo legal, ou seja, conseguir um visto ou o Green Card. Muitas vezes é preciso atuar em outras áreas antes de conseguir a carteira profissional que permite trabalhar com caminhão. Vale lembrar que a CNH brasileira só é válida para turismo, e a de motorista só é fornecida para quem possui visto de permanência para trabalho nos Estados Unidos ou o Green Card.

Além de toda a documentação migratória o profissional que deseja atuar nos Estados Unidos deve se preparar para outros custos. Entre ele o para obtenção da carteira motorista comercial, a CDL License que varia de acordo com o estado. Uma boa sugestão é se informar com algum colega que esteja passando por essa experiência.

Muitos motoristas têm a expectativa de conseguir uma oportunidade enviando currículo, porém, muitas vezes as empresas nem olham. O ideal é ter um contrato de trabalho que reduz o tempo de espera para obtenção de autorização para imigração (DG).