Por Evilazio de Oliveira

As boas relações comerciais do Brasil com os países do Mercosul, com o incremento nas operações de exportação e importação de mercadorias, têm reflexo na quantidade de caminhões que trafegam pela BR-290, no Rio Grande do Sul, rodovia que liga o município de Osório, no Litoral, a Uruguaiana, na Fronteira Oeste e divisa com a Argentina, utilizada também para quem viaja para o Chile. No trecho de Osório a Porto Alegre, a estrada, conhecida como Freeway, é duplicada numa extensão de 90 quilômetros, depois segue com pista simples até Uruguaiana. Continua sendo pedagiada por cerca de 250 quilômetros, porém os carreteiros não notam muita diferença quando passam para o trecho sob a responsabilidade do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre), que permanece no trecho fazendo trabalhos de recuperação, desde o início da Operação Tapa-Buracos, em janeiro de 2006.

O grande fluxo de caminhões na rodovia – principalmente na região metropolitana, quando os pesados do transporte internacional ficam na mesma pista de caminhões que transportam madeira para as indústrias de celulose, carvão das mineradoras locais, graneleiros carregados com a safra de arroz e demais cargueiros, ônibus e automóveis – faz com que o tráfego fique lento em horários de pico. As ultrapassagens são difíceis e perigosas.

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Na opinião de Paulo Roberto Rodrigues, que faz a rota Belo Horizonte/MG – Santiago do Chile, os piores trechos de estrada estão na BR-472, na região da fronteira Oeste do Rio Grande do Sul

O trânsito é igualmente problemático para os carreteiros que trafegam pelas BR-116 ou 386, na região metropolitana de Porto Alegre, com destino ao Porto de Rio Grande, pretendem entrar na Freeway e depois pegar a 101 para o centro do País, ou que seguem para Uruguaiana. O trecho da BR-116, na região do Vale dos Sinos, e principalmente em Canoas, mesmo sendo duplicada está com a capacidade de trânsito superada. Os congestionamentos são constantes e causam atrasos nas viagens.

Apesar disso, as condições de trafegabilidade das rodovias é razoável, como destacam os estradeiros, em razão do trabalho de recuperação emergencial feito pelo governo federal. Na opinião de Paulo Roberto Rodrigues, 47 anos e 22 de boléia, os piores trechos estão na BR-472 , região da Fronteira Oeste e, de um modo geral, todas as estradas que cruzam o Estado de Santa Catarina. Paulo Roberto, que reside em Foz do Iguaçú/PR, faz a rota Belo Horizonte/MG a Santiago do Chile e acredita que as estradas de São Paulo são as melhores. Tanto que a estrada que liga São Paulo ao Paraná não pode mais ser chamada de Rodovia da Morte, segundo diz. Já as de Minas Gerais, apesar de duplicadas, apresentam trechos ruins com falta de conservação.

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José Valério Martins lembra que a Transbrasiliana, num trecho de 200 quilômetros, entre General Osório e Lapa, no Paraná, é um dos piores, apesar das duas praças de pedágio

Ele normalmente viaja a partir de Uruguaiana pela BR-472 e segue pela Transbrasiliana, a BR-153, que liga Marabá/PA a Aceguá/RS, numa extensão de 4.355 quilômetros. Na região de São Borja as estradas sempre são ruins e esburacadas. E na divisa de Santa Catarina com o Paraná, numa extensão de 200 quilômetros, considera terrível. Quando viaja pelo litoral, Paulo Roberto segue pela BR- 290, que melhorou bastante, principalmente no trecho pedagiado.

Na sua opinião, de uma maneira geral as condições das estradas melhoraram bastante, “não é uma perfeição, mas em vista do que existia antes, está muito bom”. Mas a aduana, segundo ele, continua sendo uma vergonha em razão das longas esperas: “onde já se viu chegar lá às 7h00 da manhã e sair somente às 10h00 da noite?”, esbraveja.

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Para o gaúcho Sérgio Ferreira, na BR 290 existem trechos onde o caminhão trepida, mas nada que assuste o carreteiro, e pensa que diante do alto volume de tráfego a estrada está boa

O carreteiro José Valério Martins Pereira, de São Borja/RS, tem 44 anos e 22 de profissão. Ele dirige um Mercedes 94 transportando arroz para os Estados de São Paulo e Minas Gerais pela BR-472 e Transbrasiliana ou a 290, 101 e 116, dependendo da rota. Considera um trecho de aproximadamente 200 quilômetros da Transbrasiliana, entre General Carneiro e Lapa, no Paraná, como um dos piores, mesmo com a existência de dois pedágios numa distância de 40 quilômetros. “É um trecho em péssimas condições, esburacado, falta de sinalização e com as placas escondidas pelo mato e desníveis na pista. Um horror”, define. A situação é tão ruim, segundo José Valério, que os caminhões não precisam parar no posto fiscal de Horizonte, na divisa de Santa Catarina com o Paraná. É que o desnível na pista é tão grande que se o veículo sair corre o risco de entortar a carga, cortar um pneu ou mesmo danificar o caminhão. E apesar da intensa movimentação de veículos que operam no transporte internacional de cargas e ter pista única, a BR-290 – segundo a opinião de José Valério – está em boas condições, no trecho pedagiado ou sob a responsabilidade do Governo. Enfim, sem grandes reclamações, diz ele – a não ser os preços dos pedágios, que continuam muito caros.

Para o carreteiro Sérgio Ferreira Jr., 31 anos e três de volante, as condições das estradas em que trafega estão mais ou menos. “São muitos pedágios para poucas estradas boas”, afirma. Sérgio é natural de Alegrete/RS e viaja pelas principais rodovias do Rio Grande do Sul, além de carregar para a Argentina, com freqüência. Aproveita o pouco tempo em que está em casa para fazer a revisão do caminhão acompanhado da filha Laura, de seis anos, a única maneira de ficar mais tempo com a menina. Ele concorda que apesar do grande tráfego no transporte internacional e mais os caminhões que levam mercadorias até os depósitos das transportadoras, em Uruguaiana, a BR-290 (Porto Alegre – Uruguaiana), está em boas condições. Reconhece que o trecho de São Gabriel provoca algumas trepidações, mas nada “que assuste”, brinca.

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As chuvas e o excesso de peso contribuem para estragar com maior rapidez o asfalto das estradas, diz Rene Weyh. Para ele, faltam balanças e fiscalização nas rodovias

Moradores em Portão/RS os irmãos Rene Weih, 36 anos e 12 de volante e Wilson Weyh, 33 e cinco de profissão viajam juntos sempre que podem. Ainda mais agora, que Wilson acabou de chegar de uma temporada na Alemanha e sempre há assuntos para conversar em postos de combustíveis ou nas esperas para carga e descarga nas empresas. Rene, dono de um Scania 79, atuava há cinco anos no transporte internacional e acabou ficando sem o permiso, por isso tem viajado apenas no Brasil, quase sempre para o Norte e Nordeste. E o irmão, que tem um Scania 76, o acompanha. Nesta viagem Rene leva a mulher, Edivânia, e o filho Neron.

Ele considera que no trecho da BR-290, de Uruguaiana até Osório, a estrada é muito boa. Depois, num trecho de cerca de 300 quilômetros da BR-101 que está em obras para a duplicação, a rodovia é ruim e perigosa. Mas, apesar dos consertos, as rodovias do Norte e Nordeste continuam ruins, afirmam os irmãos Weyh. Rene acredita que as chuvas contribuem para que o asfalto estrague logo a pista de rodagem, enquanto Wilson também culpa o excesso de peso das cargas transportadas pelos caminhões. Eles acreditam que o Governo deveria fiscalizar mais, instalar mais balanças e que efetivamente funcionassem, pois, além de conservar o asfalto sobraria mais carga para ser transportada por outros carreteiros.

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Apesar do trabalho de manutenção nas estradas do Norte e Nordeste, as pistas ainda estão ruins, explica Wilson Weyh, irmão de Rene, que também enfrenta o trecho com um caminhão

O mineiro Gilson Lopes dos Santos, 54 anos e 32 de boléia, dirige um Scania 2005 atrelado a um rodotrem. Ele transporta mercadorias de Belo Horizonte/MG até Uruguaiana/RS de onde são embarcadas em outros caminhões para Argentina ou Chile. Confessa que não gosta do transporte internacional. Na volta leva arroz. Considera que as estradas estão péssimas, independente de serem pedagiadas ou não. Reclama, especialmente, de um trecho da BR-285 entre Vacaria e Panambi, no Rio Grande do Sul, que está esburacada, sem acostamento ou sinalização. “E não adianta ligar para o 0800 para sugestões ou reclamações, porque ninguém atende. É um desrespeito absoluto”.

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O mineiro Gilson Lopes pensa que as estradas brasileiras estão ultrapassadas, não acompanharam o crescimento da frota e pontes anti-gas continuam suportando veículos grandes com excesso de peso
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O mineiro Gilson Lopes pensa que as estradas brasileiras estão ultrapassadas, não acompanharam o crescimento da frota e pontes anti-gas continuam suportando veículos grandes com excesso de peso

Lopes acredita que as estradas brasileiras estão ultrapassadas, não acompanharam o crescimento da frota em termos de qualidade do asfalto ou mesmo na estrutura das pontes e viadutos. “Existem pontes que eu conheço há 30 anos e ainda estão lá, do mesmo jeito; enquanto isso, mais e mais caminhões trafegam com cargas que não obedecem ao limite de peso”. Depois ri, olhando para o rodotrem que dirige e exclama: “eu nem deveria falar nisso, mas estou dentro do limite de 52 toneladas”.