Por Erik Valeriano/Rondonópolis-MT
Fotos: Roger Andrade
Frete baixo, diesel caro, falta de área descanso, rodovias sem conservação, ponto de descarga sem infraestrutura e excesso de trabalho têm sido pontuações relatadas por carreteiros em Rondonópolis/MT, cidade com 220 mil habitantes, localizada a 215 km de Cuiabá ao Sul de Mato Grosso. Cortado pelas BRs 163/364 e as MTs 130/270, o município é considerado a capital do britem, e também é um ponto de parada para motoristas de caminhão de todo o Brasil. A movimentação das grandes composições aumenta de modo significativo em fevereiro, março e abril, meses com maior intensidade de transporte da safra de soja. O período é, também, uma boa oportunidade para conseguir um aumento na renda, com o frete mais valorizado. Porém, este ano os valores não foram nada animadores.
Durante conversa com motoristas que estavam de passagem por Rondonópolis, no final de março, o autônomo Nelson Camacho destacou à reportagem da Revista O Carreteiro que este tipo de frete é um dos mais valorizados no transporte, no entanto em 2015, a remuneração está até 50% menor que o ano anterior. “No ano passado passei dois meses nas fazendas e fiz mais de R$ 30 mil, neste ano se consegui R$ 15 mil foi muito. Os produtores alegam que a falta de chuva prejudicou a produção e os valores para o transporte despencaram”, conta. Camacho tem 42 anos de idade e reside em Medianeira/PR. São 25 anos de volante e parte desse tempo carrega grãos da fazenda até os silos ou indústrias.
Além da decepção com o valor pago, o motorista ainda sofre com as péssimas condições dos 30 km de estrada de chão, trecho que liga a propriedade rural até o silo de uma multinacional. Ele acrescenta que o tempo de espera para o desembarque é outro grave problema. “Quando chego perco o dia inteiro, já esperei 14 e 15 horas para descarregar. É um prejuízo grande, por que estou parado. Com isso, as despesas aumentam, além disso, tenho de pagar a manutenção do caminhão que é maior devido a buraqueira da estrada de terra”, reclama Camacho, afirmando que no final das contas, nesta safra seu lucro será inferior a 30% do que ganhou.
A manutenção cara do caminhão e o valor pago pelo frete também são reclamações constantes de quem trabalha nas rotas entre os silos e os terminais ou portos. O gaúcho Audenir Santin, 48 anos de idade e mais de 15 de volante, disse que as manifestações ocorridas nas estradas no final de fevereiro não surtiram efeito algum para os carreteiros até aquele momento. “Eles não deram um posicionamento sobre um frete mais justo e o preço do diesel não baixou. Assim está difícil de trabalhar”, reclamou. Santin destacou também que se fizer uma viagem de 5 dias e ganhar R$ 10 mil de frete, R$ 6 mil vão para o combustível e R$ 1.500 ele paga pela revisão. “Aí tenho de correr o resto do mês para pagar o financiamento do caminhão e no final de 30 dias fico praticamente sem nada”, explica.
Seu conterrâneo, Léo Francisco Scheneider, 30 anos de idade e nove de profissão, também faz coro a colocações dos companheiros. Ele diz que está cada vez mais difícil rodar pelas estradas do País. “Em Estados como Mato Grosso e Rondônia ainda pagam um frete razoável, mas o litro do diesel chega a custar até R$ 0,30 centavos mais caro que no Sul e Sudeste. Aí quando se consegue um bom valor para transportar a carga, vem o combustível caro demais”, relata. Ele afirma que já fez viagem que o combustível consumiu mais de 70% do valor que recebeu. “Espero que a categoria acorde de novo e pare o Brasil mais uma vez, porque a situação chegou ao limite extremo” desabafa.
Para conseguir uma remuneração acima da média, muitos motoristas se arriscam a subir para regiões do território brasileiro por uma das rotas mais perigosas do País. Este é o caso do catarinense Ivanir Antônio Nova, de 35 anos de idade. Ele percorre o trajeto entre Rondonópolis/MT – Santarém/PA, em trecho de 2.000 quilômetros, dos quais 400 km são estradas de chão, quase intransitáveis neste período da safra. “É perigoso, arriscado, mas precisamos sobreviver. O frete até o Pará é bom, o pagamento para hoje, por exemplo, é de R$ 240,00 a tonelada”, relata. Porém, ele frisa, se o caminhão retornar vazio o prejuízo é certo. “Quando aparece carga, o frete para descer do Norte até o Centro-Oeste é bem menor. Não temos muitas escolhas, ou trabalhamos ou ficamos endividados”, admite.
Além de conviverem com realidade financeira adversa, os carreteiros que rodam pelas estradas do Estado do Mato Grosso são submetidos ao estresse provocado pelos gargalos rodoviários. A rota da soja – como é conhecida a BR 163 entre Rondonópolis e Sorriso – tem 560 km de extensão, percurso que pode ser percorrido em 11 ou 12 horas, no máximo, em condições normais de tráfego. Mas a realidade é bem diferente. “De Sorriso até perto de Cuiabá não há muito problema, mas quando chego à capital o fluxo fica muito lento demoro mais de uma hora para percorrer cerca de 30 quilômetros”, reclama o autônomo José Bressan. Ainda de acordo com ele, depois que passa pela cidade ele tem ainda de enfrentar mais 215 quilômetros de rodovia até chegar a Rondonópolis, num percurso em que a velocidade média do caminhão é entre 60, 70km/hora.
“Não tem como rodar. Já cheguei a permanecer 8 horas neste trecho e ainda tenho de respeitar a parada para descanso e no Estado do Mato Grosso não tem ponto de parada”, adiciona. Ainda de acordo com Bressan, ou motorista acha um posto e estaciona para dormir ou segue viagem – mesmo estando cansado, com sono e muito estressado – até encontrar um local na rodovia onde ele possa parar. “Mesmo levando o País no volante, esse é o tratamento que recebemos de nossas autoridades”, conclui indignado José Bressan.
Duplicação da BR-163
A empresa Rota Oeste, concessionária que ganhou a licitação para exploração da BR-163, já conclui os primeiros 23 de km de duplicação, trecho entre Rondonópolis e o Terminal Intermodal de Cargas da América Latina Logística (ALL).
De acordo com a concessionária, a meta é duplicar mais 50 quilômetros seguindo em direção à divisa com o Mato Grosso do Sul, no km 0. A empresa tem prazo de cinco anos para concluir os 453 km que foram licitados dentro do Estado do Mato Grosso.
Considerada uma das mais importantes do País, além de Mato Grosso a rodovia ainda corta cinco Estados, com extensão total de 3.700 quilômetros (EV).
TABELA DE FRETE PARA GRÃOS EM MATO GROSSO Frete carreteiro (sem taxa da transportadora e sem ICMS) VALORES DO DIA 23 DE MARÇO |
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ORIGEM
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DESTINO
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PREÇO R$ TON
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Rondonópolis | Alto Taquari |
85,00
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Paranaguá |
200,00
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Santos |
215,00
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Maringá |
155,00
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Campo Verde |
Rondonópolis |
70,00
|
Rio Verde |
120,00
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Alto Taquari |
80,00
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|
Paranaguá |
195,00
|
|
Santos |
215,00
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Diamantino | Rondonópolis |
105,00
|
Alto Taquari |
140,00
|
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Santos |
275,00
|
|
Paranaguá |
255,00
|
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Sorriso | Rondonópolis |
115,00
|
Cuiabá |
95,00
|
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Alto Taquari |
135,00
|
|
Paranaguá |
285,00
|
|
Santos |
295,00
|
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Campo Novo do Parecis |
Porto Velho |
155,00
|
Rondonópolis |
120,00
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Paranaguá |
270,00
|
|
Santos |
285,00
|
|
Canarana | Santos |
225,00
|
Uberlândia |
155,00
|
|
Alto Araguaia |
155,00
|
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Sapezal | Porto Velho |
155,00
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