Todo final de ano o clima natalino chega tomando conta de todos. São pinheirinhos de natal com enfeites multicoloridos, lâmpadas piscantes, pacotes de presente, e o sorriso que ilumina o rosto de qualquer criança ou adulto de todas as idades. A família reunida, o presépio, a ceia, o jantar e um clima de união fazem parte de um período do ano em que muita gente, em todas as partes do mundo, comemora o Natal no dia 25 de dezembro, data que simboliza o nascimento de Jesus Cristo para algumas religiões e que tradicionalmente se comemora com a família reunida.
Porém, algumas profissões não permitem que essa noite de celebração seja um momento familiar. É o caso de muitos dos profissionais que passam a vida sobre rodas, os carreteiros que andam por todo Brasil e muitas vezes precisam cumprir o horário do frete, mesmo que seja na noite de Natal, ou estão a muitos quilômetros de casa, sem possibilidades de chegar até a hora da ceia.
Estar longe da mulher, dos filhos, e dos pais no dia 25 de dezembro não é uma tarefa fácil, porém, trata-se de uma situação que demonstra a força do carreteiro brasileiro para seguir em frente. Caso de Gilberto Levandoski dos Santos, 29 anos, que este ano estará na estrada enquanto o filho de sete anos e a familia vão comemorar o Natal em Porto União/SC.
“No ano passado eu fiquei em casa, mas esse eu vou passar na estrada. Não é muito bom, mas eu sou um aventureiro, me sinto em casa mesmo fora de casa. A gente encontra os colegas de profissão, os amigos, e passamos juntos. Mas é complicado”, conta Gilberto, que de tanto ficar longe vê o Natal apenas como a virada do dia 24 para o dia 25 de dezembro. “Uma noite de alegria, mas que nem sempre é assim”.
Já o carreteiro Clésio José Duz, 44 anos, tem o privilégio de nos 11 anos de estrada, nunca ter passado o Natal longe da familia, que mora em Veranópolis/RS, na região das Serras Gaúchas. Para ele o Natal é um momento de renovação e alegria. “Conheço muitos que ficam longe, mas eu não, graças a Deus”, afirma.
Assim como Clésio, tem mais carreteiro que vai festejar o Natal em casa esse ano ao pé do pinheirinho. É o caso do Erminio Zonta, 51 anos de idade e 27 na estrada. “Sou casado, tenho dois filhos e é muito bom ter a família do lado, mas tem horas que não tem jeito. Já trabalhei muito e sofri nessa vida. Mas lá em casa sempre tem festa de Natal, que fazemos na minha sogra. Todo mundo se reúne lá”, comenta.
Mas seja com os amigos carreteiros, com a familia ou sozinho no caminhão, os carreteiros seguem a vida sem reclamações. Na tentativa de conciliar a vida social com a familiar e o trabalho, os profissionais do volante sempre acabam buscando o lado bom de cada situação. Claro que a melhor opção seria o aconchego da casa, mas quando não dá, eles aproveitam o Natal do jeito que podem.
“Para mim o Natal significa um dia feliz, um dia de festa. Bom para ficar junto da familia ou com os amigos”, diz o carreteiro Jair Baú, 32 anos, de Sananduva/RS. Ele já passou alguns Natais na estrada com outros carreteiros e mesmo estando longe dos familiares confirma: “Quando se está junto dos colegas e amigos é a melhor festa que tem”. Sem ter outra escolha, essa é uma boa maneira de enfrentar a distância.
E como boa parte dos carreteiros é cristã, o Natal não é só uma data comemorativa, mas sim uma festa religiosa, na qual é indispensável a missa natalina e o respeito ao nascimento de Jesus. Assim, para os mais tradicionais, ficar longe da familia nessa data é deixar de participar de todo um ritual importante na cultura dos católicos.
Leonir Bertoldi, 43 anos, já passou o dia 25 de dezembro longe de casa e dos dois filhos. Ele conta que já houve ocasião dele estar longe e não ter como ir à igreja na noite de Natal. “Eu sou católico, dai tu sabe o que significa, além da festa, é o nascimento de Jesus”. Leonir já tem 12 anos de estrada, e diz que se precisar ficar fora outra vez no Natal ele fica, afinal, não tem escolha, tem de trabalhar, mas reconhece que não há nada como estar em casa nesta data.
Certos carreteiros já não têm mais esse problema. Depois de trabalhar como empregado por anos, hoje Almir Zanin, 40 anos, é dono do seu próprio caminhão. É ele que decide estar em sua casa, em Flores da Cunha/RS, na noite de Natal. Para ele, essa é a época de se reunir com os parentes e de renovação. Almir tem uma filha de 11 anos e quando teve de ficar longe a menina era ainda pequena. “É sempre difícil ficar distante da família. Quando aconteceu comigo passei a noite toda viajando”, disse.
Inseridos em uma cultura religiosa que valoriza a união do lar, a maioria dos brasileiros deseja passar a noite de Natal, assim como todas as datas importantes do calendário católico, em casa, junto da família. Quando isso não é possível, caso de muitos carreteiros que fazem viagens longas, é inevitável que haja um sentimento de tristeza e solidão. O que leva estes profissionais a enfrentarem as adversidades da estrada e passar a noite do dia 25 de dezembro longe de casa é a consciência de que é do trabalho deles que sai o sustento dos familiares.
No Natal, muitos carreteiros estarão longe, reunidos em algum posto de combustível, à margem de alguma rodovia junto dos conhecidos e amigos na mesma situação. Ou até mesmo sozinhos na boléia do caminhão. Mas o que realmente faz a diferença não é aonde cada um estará, mas sim o sentimento de amor que une cada carreteiro às pessoas queridas que vão estar em casa. (com informações de Denise Pacassa)