Por Evilazio de Oliveira

Para enfrentar as estradas à noite é preciso tomar alguns cuidados, pois de acordo com os especialistas a visão noturna fica reduzida a apenas um sexto da diurna. E, para evitar a indesejada e perigosa guerra de luz alta, convém que o carreteiro mantenha os faróis sempre regulados e, é claro, utilize a luz baixa para não ofuscar a visão do condutor que trafega em sentido contrário ou nas ultrapassagens. O problema da luz alta ou faróis desregulados se agrava nos dias de chuva com a visibilidade extremamente prejudicada, com riscos de batidas frontais ou saídas da pista.

Muitos carreteiros, que por preferência ou necessidade viajam à noite reclamam, sobretudo, dos motoristas de automóveis que precisam ser alertados com uma “piscada” dos faróis para que baixem a luz. E como a maioria dos carros novos tem faróis muito potentes a situação fica perigosa, alertam os estradeiros.

2289t
Antonio Carlos Correia acredita que os carreteiros utilizam luzes altas apenas em lugares de pouco movimento e que o problema está nos motoristas de automóveis

Na opinião de Antônio Carlos Correa da Cruz, 56 anos, 36 de volante e dirigindo um Mercedes 82 com carreta, os motoristas profissionais sempre utilizam luz baixa e a alta apenas em lugares de pouco movimento. “O problema está nos motoristas de automóveis de passeio, a maioria não respeita ninguém. Imagina se nós jogássemos luz alta na cara deles, também?”, acusa. Natural de Canoas/RS, e transportando para grandes empresas, Cruz sempre cuidou da manutenção do caminhão e costuma vistoriar constantemente a parte elétrica, faróis, sinaleiras e lanternas. Além disso, costuma ter lâmpadas e fusíveis extras para emergência e gosta de utilizar os faróis baixos ligados mesmo durante o dia “porque dá mais segurança”, afirma.

2290t
Na opinião de Emerson Sagrilo tem muita gente sem noção da potência dos faróis dos seus veículos e precisam de receber um sinal de alerta

Émerson Sagrilo, 31 anos de idade e 11 de boléia, dirige um Mercedes 87 no transporte de polietileno do Pólo Petroquímico de Triunfo/RS para Buenos Aires/Argentina e dirige até às 22h por determinação da empresa. Acredita que algumas pessoas não têm noção da potência dos faróis dos seus veículos e precisam de um sinal. Ele lembra também que existe muita gente trafegando com lâmpadas queimadas, faróis desregulados, condição que à noite atrapalha muito quem trafega no sentido contrário. Na ocasião da conversa com Émerson, ele aproveitou para trocar a lâmpada de um dos faróis do caminhão, antes de carregar. “Se não estiver tudo em dia os homens não liberam a carga”, explica e acrescenta que tanto faz dirigir em estradas brasileiras ou argentinas a situação é a mesma em relação aos faróis desregulados e a utilização de luz alta sem necessidade e sem a preocupação com a visão dos outros motoristas.

2291t
A falta de educação de alguns colegas de profissão e também dos motoristas de automóveis de passeio são motivos de reclamações de Geraldo Luiz Nunes

Natural de Tubarão/SC, o carreteiro Geraldo Luiz Nunes tem 44 anos, 18 de profissão e dirige atualmente um Scania ano 94 pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e região Nordeste. Ele também reclama da falta de educação de muitos colegas e dos motoristas de automóveis que trafegam utilizando a luz alta sem necessidade. “Com o farol alto nos olhos e a estrada cheia de buracos, a coisa fica feia, ainda mais quando chove”, diz. Por isso, além da vistoria constante na parte elétrica, Geraldo também cuida para que as palhetas do limpador do pára-brisa estejam sempre em boas condições e também costuma ter lâmpadas e fusíveis extras na caixa de ferramentas.

2292t
Para Jeferson Martins, o que incomoda são os caminhões com excesso de luzes, que por serem fortes praticamente cegam que trafega no sentido oposto

Na opinião do carreteiro Jéferson Martins dos Santos, 28 anos de idade e nove de boléia, são os caminhões que trafegam à noite que incomodam mais, devido ao excesso de luzes muito fortes, que praticamente cegam quem dirige em sentido contrário. “E muitas vezes eles estão com a luz baixa e não adianta dar sinal, porque a luz é forte mesmo”. Jéferson mora em Içara, no Litoral catarinense, e dirige um Scania 2001 que semanalmente passa por uma rigorosa revisão para que tudo funcione direito. Prevenido, ele também leva lâmpadas e fusíveis para as eventualidades. Garante que sempre que possível trafega utilizando luz baixa e acredita que a maioria dos condutores é consciente para o uso correto dos faróis durante à noite nas estradas.

2293t
O eletricista Laurindo Orso garante que o movimento é grande de carreteiros que procuram sua oficina para cuidar dos faróis e circuitos elétricos do caminhão

Uma coisa, porém, é certa: todos reclamam dos perigos que os faróis desregulados ou a guerra dos faróis altos pode significar. “É questão de educação”, sintetiza o eletricista Laurindo Orso, 35 anos e há oito com uma oficina montada junto a um posto de combustíveis no quilômetro 431 da BR-386, em Nova Santa Rita/RS. Ele trabalha com o irmão Alcindo e com a mulher, Maristela. A clientela é formada basicamente por carreteiros que abastecem no posto e aproveitam para resolver pequenos problemas no caminhão. “A maioria se refere aos faróis”, diz. Quando troca uma lâmpada ou faz qualquer serviço, já faz a regulagem completa. Aliás, ele não costuma cobrar pela regulagem dos faróis.

Laurindo Orso mora no local e atende dia e noite, sendo muitas vezes carreteiros que foram parados no posto da Polícia Rodoviária Federal, distante a cerca de 10 quilômetros, e encaminhados para a sua oficina pelos próprios patrulheiros para regularizar os faróis, lanternas ou sinaleiras. A movimentação da oficina é grande, principalmente para cuidar dos circuitos elétricos dos caminhões mais velhos, porque os novos – os eletrônicos – vão direto para as concessionárias. “Mesmo assim vamos quebrando o galho para a rapaziada”, afirma.