Por Evilazio de Oliveira Fotos Luiz Gonçalves
O aumento nas vendas de caminhões em decorrência da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do crescimento da atividade econômica do País em 2010 acabou se refletindo na oferta de pneus no mercado, além dos reajustes nos preços do produto. Afinal, o pneu se constitui no item que mais pesa da manutenção do caminhão, depois do combustível. Com a escassez e o aumento nos preços, os motoristas redobram os cuidados para manter a calibragem adequada, alinhamento das rodas e, sobretudo, visitas mais frequentes ao borracheiro para impedir danos maiores, e que possam resultar na perda total do pneu. Enquanto o mercado não se normaliza, os recapados continuam na preferência dos estradeiros, sendo que a qualidade do serviço e a diferença de preços entre o novo e o reformado explicam essa opção.
Zulmir Bernardi, 42 anos e 24 de profissão é proprietário da Chilber Transportes Ltda., em sociedade com o cunhado Renato Chilanti. Eles têm oito caminhões no trecho, um deles, – um baú – dirigido pelo próprio Zulmir que, na ocasião em que foi entrevistado, se encontrava preocupado em virar o lado de um pneu. Isso para impedir o desgaste de forma desigual. Dos 18 pneus da carreta, quatro já são recapados. Ele conta que está acostumado a mandar pneus para reforma e procura aproveitar as ofertas, preços baixos e boas condições de pagamentos para comprar pneus de reserva, para emergências. Salienta que as despesas de um caminhão são muito altas e é preciso cuidar de todos os itens para impedir que se estraguem e acabem causando um prejuízo maior. Entre eles, os cuidados com pneus estão em primeiro lugar, afirma.
O carreteiro Eliseu Lima Cruz, 48 anos e 20 de estrada, atua basicamente no transporte internacional. Ele conta que o patrão é dono de oito caminhões e cuida das trocas dos pneus de todos eles. Acredita que em razão do câmbio favorável, a maior parte dos pneus seja comprada no Uruguai. Ao motorista resta observar que tudo esteja “nos conformes”, com a calibragem certa, se não tem cortes, ou qualquer problema que possa estragar a banda de rodagem.
Preocupado com o rigor com que a polícia rodoviária da Província de Entre Rios, na Argentina, costuma fiscalizar os caminhões brasileiros, o carreteiro Marcos Antônio Dias, 51 anos e 18 de direção fazia na ocasião levantamento de preços para a compra de quatro pneus novos para a tração do seu cavalo-mecânico mais a carreta. Ele viaja entre Brasil, Argentina e Chile como agregado de uma transportadora brasileira. A composição tem no total 24 pneus, dos quais apenas seis são novos. Os demais são reformados. Segundo diz, cuida muito para rodar sempre com a pressão de ar adequada e procura corrigir defeitos no rodado. E, como a fiscalização na Argentina é muito grande, não dá pra facilitar. Além da segurança e dos altos custos dos pneus novos, explica.
Ao volante de um bitrem, Samuel Fail, 25 anos e apenas um ano no trecho, viaja entre o Rio Grande do Sul e Mato Grosso, transportando adubos e grãos. Ele garante que apesar de pouco tempo de profissão está consciente da sua responsabilidade. Por isso, em todas as paradas verifica minuciosamente a situação de todos os 26 pneus do conjunto. No total, são 10 pneus novos, 14 recapados e dois usados. Lembra que qualquer descuido pode resultar na perda total do pneu. Considera que é muito importante esse acompanhamento, mesmo porque se o pneu estiver muito danificado não servirá mais nem para recapar. Segundo ele, na rota do Mato Grosso as estradas são muito ruins e o desgaste é muito grande, precisando de cuidados redobrados. E, embora muitos conhecidos seus tenham preferido comprar pneus no Paraguai, por causa da escassez e também pelos preços melhores, é uma operação complicada. Segundo ele, alguns colegas estão com os caminhões parados por falta de pneus, pois há dificuldades até para a compra de usados ou recapados. A alternativa, conforme diz, é evitar os buracos, dirigir dentro de uma velocidade segura e manter a pressão de acordo com a carga e o tipo de estrada.
Diego Modanese, 25 anos e cinco de profissão e dono de um bitrem utilizado no transporte de grãos e adubos, trabalha só na região Sul. E apesar de todos os cuidados com os pneus, lamentava o prejuízo que tinha acabado de sofrer com o estouro de um pneu recapado. Como resultado precisou rodar cerca de 90 quilômetros para a troca pelo estepe. Com isso, além da perda total do pneu, acabou danificando outras partes da estrutura do chassi. Imaginou que gastaria cerca de R$ 400,00 no conserto, além de precisar comprar mais dois pneus novos para a tração.
Disse que tinha pneus de reserva em casa, mas teria de comprar logo outro para repor, para estar preparado para imprevistos. Diego disse que quando o pneu começa a ficar liso manda logo para a reforma, cuidando para que não fiquem muito estragados. “Os recapados são muito bons, duram bastante e são mais baratos”, explica.
NOVO E REFORMADO EM ALTA Renan Francescatto, 19 anos, é sócio do irmão Pablo numa revenda de pneus na BR-386, em Canoas/RS, onde também prestam assistência aos carreteiros no conserto de pneus e encaminhamento para recapagens. Segundo ele, está faltando o produto no mercado em razão do aquecimento desproporcional na venda de caminhões verificada nos últimos meses. Salienta que a além da falta do produto no mercado, as fábricas ainda aumentaram o preço em cerca de 10% nos últimos cinco meses. Acredita, no entanto, que a tendência é de estabilização do setor. O gerente comercial da Renovadora de Pneus Hoff Ltda., unidade de São Sebastião do Caí/RS, Tiago Azevedo, 42 anos e 22 no setor, lembra que desde a virada dde 2009 para 2010 houve um incremento nas atividades e hoje as três unidades da empresa operam quase na capacidade máxima para a reforma de pneus, chegando à produção de 12 mil unidades/mês. Com sede em Portão/RS, a Hoff é considerada uma das mais importantes empresas do setor, no País. “Cerca de 56% dos clientes são carreteiros autônomos”, diz. Na unidade de São Sebastião do Caí, a maior de todas, são recapados 7.500 pneus/mês para um limite máximo de 10 mil pneus. E como a previsão é de um acentuado aumento de serviço durante o Verão, a empresa se prepara para admitir mais 10 funcionários como reforço. Tiago Azevedo salienta que os principais motivos para a perda prematura dos pneus são as altas temperaturas, excesso de peso e pressão inadequada, além das agressões constantes causadas pela má conservação das estradas. O tempo do processo de recapagem de um pneu é de 12 horas, em média, e o índice de pneus rejeitados por defeitos graves é de 10%. Esclarece que todo o trabalho de é feito dentro das mais modernas técnicas, com garantia, e a um custo de aproximadamente R$ 400,00 por pneu, enquanto o novo está ao redor de R$ 1.400,00. Segundo ele, a empresa está confiante no futuro e nas boas perspectivas para o transporte rodoviário de cargas. |