Por João Geraldo  Fotos Kjell Olausson

As estradas são boas e seguras, o ganho dá pra viver e a frota é relativamente nova, mas tudo isso não é suficiente para que os carreteiros na Suécia sejam muito diferentes dos brasileiros. Exceto pelas diferenças culturais, de infraestrutura e de equipamento no caminhão, eles têm muitas coisas em comum quando se trata da profissão. Porém, cabe dizer também que a disciplina e a consciência ajudam, e muito, a fazer a diferença nas rodovias.

Salário bom ou ruim depende da conta, mas quando se trata de ficar longe de casa qualquer valor é pouco, diz o finlandês Johan Holen
Salário bom ou ruim depende da conta, mas quando se trata de ficar longe de casa qualquer valor é pouco, diz o finlandês Johan Holen

O controle rígido através de tacógrafo digital do tempo de direção não permite fraudes, restando aos motoristas apenas cumprir as regras e não ultrapassar o tempo de direção determinado por lei, de uma parada de 45 minutos para descanso a cada quatro horas e meia de direção. A apenas 15 minutos além do tempo, é motivo de multa no valor de três mil coroas (cerca de mil reais). Por isso mesmo é comum ver motoristas encostando seus caminhões em postos de serviço nas rodovias para cumprir o tempo de parada determinado pela lei. Em relação à velocidade para caminhões, a máxima permitida é de 83 km/hora.

Com área de 450.295 km² de extensão, 163 mil km de rodovias pavimentadas, a Suécia tem população de 9,2 milhões de pessoas e frota de caminhões pesados estimada em 50 mil unidades. O país conta com boa infraestrutura rodoviária e os veículos de carga ocupam as estradas em grande quantidade. A segurança é um destaque, pois é possível rodar centenas de quilômetros sem ver um acidente sequer, embora eles existam.

Pneus singles são os mais usados pelos veículos de carga na Europa; nas medidas 385/ 55 R22,59 são permitidas até nove toneladas por eixo
Pneus singles são os mais usados pelos veículos de carga na Europa; nas medidas 385/ 55 R22,59 são permitidas até nove toneladas por eixo

Umas das rodovias mais movimentadas, tida como a principal rota de caminhões, é a E 4, que sai de Estocolmo em direção ao Sul fazendo a ligação da Suécia com paises da Europa Ocidental. É, também, o caminho de passagem para as carretas que vem ou seguem para outras regiões da Escandinávia. Por isso, é comum encontrar na E 4 carreteiros de outras nações, que estão apenas de passagem ou que vivem no país.

Um deles, com quem conversamos foi Johan Holen, carreteiro finlandês com piercing na sobrancelha, que transporta papel do seu país para a Suécia. Na condição de funcionário, diz que chega cedo na empresa sem saber para onde vão mandá-lo seguir com a carga. Mesmo assim gosta muito da profissão, na qual está há quase cinco anos. Já dirigiu escavadeira em obra, mas prefere a estrada porque gosta de ser livre. A cabine de seu caminhão é equipada com forno microondas, geladeira e cafeteira. Diz que o salário pode ser bom ou não dependendo de como se faz a conta, mas conclui que longe da família qualquer valor é pouco.

Rudolf Pekornycz, da Tchecoslováquia, roda cerca de 15 mil quilômetros/mês, afirma que gosta da profissão, mas nem tanto do salário que recebe
Rudolf Pekornycz, da Tchecoslováquia, roda cerca de 15 mil quilômetros/mês, afirma que gosta da profissão, mas nem tanto do salário que recebe

Quando se fala das estradas considera ruins as da Noruega, diz que são estreitas e também a polícia não é “legal” com os motoristas de caminhão. “Já na Suécia e na Finlândia os policiais não são tão duros”, afirma. Apesar de o caminhão que dirige não ser de sua propriedade, ele prefere e usa pneus com rodado duplo – configuração pouco comum na Europa – porque considera serem mais seguros em relação a furos e também pode carregar 10 toneladas por eixo (com pneu single são apenas nove toneladas). Em suas viagens não cozinha no caminhão, diz que isso é mais para o pessoal que vem do Leste Europeu.

Outro estrangeiro que encontramos na rota E-4 foi o Rudolf Pekornycz, da Tchecoslováquia, que está há 10 anos na profissão e dirige um dos quatro caminhões da empresa onde trabalha. Faz a rota Estocolmo (Suécia) – Zurique (Suíça) percorrendo a média de três mil quilômetros por semana. Já dirigiu no trecho entre Suécia e Espanha, país que ele considera com a temperatura quente. “Gosto muito da profissão, mas nem tanto do salário que recebo”, disse, sem revelar o quanto ganha pelo seu trabalho.

Para o autônomo sueco Paul Nilsson, as piores coisas na profissão são a concorrência, os baixos valores do frete e os horários rígidos
Para o autônomo sueco Paul Nilsson, as piores coisas na profissão são a concorrência, os baixos valores do frete e os horários rígidos

Sem importar se o salário pago ao motorista da Tchecoslováquia é alto ou não, o sueco Paul Nilsson, 36 anos de idade e motorista de caminhão há 18, dispara que a pior coisa para o carreteiro na Suécia é a difícil concorrência, porque existem muitos caminhões em operação. Ele dirige um Scania de 500cv V8 (um dos quatro caminhões da sua família) e roda em média três mil e quinhentos quilômetros por semana, com rota fixa dentro do seu país transportando conservas e outros produtos comestíveis. Comenta que gosta muito de ser carreteiro, mas não deixa de criticar pontos que considera negativos na profissão, como os horários rígidos e os baixos valores dos fretes. “Às vezes trabalhamos mais do que devemos, mas está tudo bem, porque faço o que gosto e tenho a liberdade de estar sempre na estrada”, considera.

O autônomo sueco Lars Hansen, 38 anos de idade, filho de motorista e proprietário de um Scania 500, ano 2009, modelo de uma série limitada de apenas seis caminhões personalizados pela Svempas AB, empresa especializada em transformar caminhões da marca Scania. Atrelado a um semirreboque de quatro eixos (que forma com o cavalo-mecânico um conjunto de 18 metros e PBTC de 60 toneladas) ele transporta metais e recebe mensalmente 24 mil coroas suecas (cerca de oito mil reais) já pagos os impostos.

Dono de um caminhão exclusivo, ano 2008, pelo qual pagou mais caro, Lars Hansen diz que vai trocá-lo em 2011, porque veículo novo dá menos despesas
Dono de um caminhão exclusivo, ano 2008, pelo qual pagou mais caro, Lars Hansen diz que vai trocá-lo em 2011, porque veículo novo dá menos despesas

Explica que pagou 1,5 milhão de coroas pelo caminhão, cerca de 300 mil a mais, porque queria ter um veículo pessoal e exclusivo, mas teve de financiá-lo em quatro anos. Hansen troca de caminhão a cada 3,5 anos e lembra que apesar da exclusividade do modelo vai substituí-lo por um zero quilômetro porque não dá despesa como um modelo mais velho. Ele roda 10 mil quilômetros por mês, com o consumo médio de 44 litros de diesel a cada 100 quilômetros (2,27 km/litro) carregado. A cada dois dias na estrada dorme uma noite em casa e diz que tudo está muito bem, exceto por um uma coisa: reclama que um grande problema para o carreteiro na Suécia é a invasão de motoristas de países do Leste Europeu, onde os profissionais ganham menos.

FROTA E VENDAS

A frota circulante de Caminhões Pesados na Suécia é de cerca de 50.000 unidades, sendo aproximadamente a metade, e principalmente os mais antigos, formada por veículos da marca Scania. No ano de 2009, o volume total de caminhões pesados novos vendidos foi de pouco mais de 4.700 unidades, tendo a Scania participação de 43,4% (2.075 unidades). Antes da crise, em 2007, o número de caminhões pesados vendidos foi superior a 5.800 unidades, ficando a Scania, novamente, com 43,4% de participação (2.546 unidades).

O jornalista viajou à Suécia a convite da Scania do Brasil