Por  Elizabete Vasconcelos

As montadoras de caminhões não têm do que se queixar em relação aos resultados obtidos em 2011. De acordo com o balanço da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos e Automotores), de janeiro a dezembro, 172.902 caminhões foram licenciados em todo o território nacional (incluindo modelos nacionais e importados). Este resultado representa uma alta de 9,6% em comparação com o ano anterior, quando o número de emplacamentos atingiu a marca de 157.694 unidades. O maior destaque durante o ano passado ficou para os semipesados, com crescimento de 16,9% que representa o emplacamento de 58.430 unidades. Em relação à produção, a indústria atingiu 216.270 unidades fabricadas em 2011, aumento de 13,9% em relação ao ano anterior. As exportações também avançaram, com um total de 26.321 unidades, 24,3% acima do período anterior.

5898t
Comercialização de modelos Euro 3 até março deve reduzir a produção nos primeiros seis meses, diz Ricardo Alouche, da MAN Latin America

Para este ano, os executivos das montadoras mostram certa cautela para fazer projeções, pois há uma tendência de redução nas vendas de caminhões, ao menos no primeiro semestre, devido à entrada em vigor do Proconve P-7, cuja tecnologia para reduzir as emissões levou a um reajuste de preço de até 15%. As estimativas mais pessimistas preveem a comercialização de aproximadamente 150 mil caminhões em 2012, uma baixa considerável em relação ao ano passado, quando 172.902 unidades foram emplacadas no País.

Há, também, opiniões diferentes, como a do diretor de vendas, marketing e pós-venda da MAN Latin America, Ricardo Alouche. Ele acredita em uma produção menor apenas no primeiro semestre, porque até março as empresas podem comercializar os caminhões que estiverem em estoque, com tecnologia de emissões Euro 3. “A produção, nos seis primeiros meses tende a ser um pouco menor do que no segundo semestre. Mas as vendas devem ficar estabilizadas”, opina. Em sua avaliação, as vendas nos primeiros meses de 2012 serão uma mistura de veículos Euro 3 e Euro 5. No entanto, “conforme o estoque da indústria for acabando os novos veículos manterão o ritmo de vendas”. Admite “que pode haver uma oscilação negativa nas vendas, mas será algo pequeno. Nada muito alto, como se especulou”.

Malagrine
Joachim Maier destaca o bom volume de vendas de veículos comerciais em 2011 e o crescimento do número de licenciamento da marca

Em 2011, de acordo com números da Anfavea, foram licenciadas 50.815 unidades de caminhões produzidos pela MAN Latin America, volume 12,2% superior ao resultado do ano anterior. A boa expectativa de Alouche se deve também aos investimentos previstos superiores a R$ 1 bilhão, entre 2012 e 2016, para ampliar as operações e sustentar o crescimento da companhia no País. O principal objetivo é aumentar a oferta de veículos comerciais das marcas Volkswagen e MAN e passar a atuar em nichos de mercado ainda não explorados e aumentar a sua capacidade produtiva.

Outra montadora que – mesmo prevendo uma demanda um pouco menor em relação a 2011 – tem objetivos audaciosos é a Mercedes-Benz – cuja meta para este ano é retomar a liderança do mercado brasileiro. De acordo com Jens Burger, gerente de vendas de caminhões da marca regional São Paulo, o primeiro semestre deverá ser um pouco mais fraco, devido a antecipação de compras ocorrida nos meses de novembro e dezembro, mas depois, o ritmo de vendas deve ser retomado. O executivo garante que a empresa estará preparada para atender as demandas do mercado, já que em breve será iniciada a produção dos modelos Accelo e Actros na planta de Juiz de Fora/MG, além do aumento na capacidade produtiva já realizado na unidade de São Bernardo do Campo/SP. “Estamos muito satisfeitos com a performance comercial obtida pela nossa empresa em 2011. Atingimos volumes inéditos de vendas de veículos comerciais no mercado brasileiro, além de alcançarmos quase 80 mil caminhões e ônibus produzidos no País”, destaca Joachim Maier, vice-presidente de vendas das Mercedes-Benz. De janeiro a dezembro, a montadora alemã produziu aproximadamente 51 mil caminhões, além de 97 mil motores, 58 mil câmbios e 192 mil eixos. Quanto às vendas, o volume de veículos licenciados da marca no País cresceu 4,3%, totalizando 42.623 unidades.

5895t
A mudança de tecnologia de emissões deverá afetar a indústria para uma adequação no primeiro semestre deste ano, diz Oswaldo Jardim

Na Ford, a previsão é de que os próximos meses serão de adaptação. “Com a mudança de tecnologia, a indústria deverá ser afetada para uma adequação no primeiro semestre, mas a expectativa é que na segunda metade do ano o mercado volte ao seu crescimento, impulsionado pelo crescimento da economia, bens de consumo e principalmente construção civil”, destaca Oswaldo Jardim, diretor de operações de caminhões da Ford América do Sul. O executivo acrescenta que “ainda é muito cedo para se entender realmente como será a transição no primeiro semestre, mas a expectativa da companhia é de que a indústria gire em torno de 140 e 160 mil caminhões em 2012”.

Diante dos resultados obtidos, Jardim avalia o ano de 2011 como “muito especial para Ford Caminhões”, pois de acordo com os números da Anfavea, a companhia ocupa o terceiro lugar no ranking de vendas. Entre janeiro e dezembro, caminhões da marca atingiram um total de 30.354 unidades emplacadas, registrando um crescimento de 9,6% nas vendas em relação ao ano anterior. “Quando consideramos especificamente o segundo semestre de 2011, em que a nova linha Cargo, lançada no primeiro trimestre, já estava estabelecida no mercado, registramos um aumento de 18,1%”, destaca o executivo.

5911t
As projeções de vendas de caminhões para este ano são de redução entre 5 e 10% em relação a 2011, destaca Alcides Cavalcanti

Quem comemorou também os resultados obtidos em 2011 é a Iveco, com crescimento de 18,6% em relação a 2010. Segundo os números do balanço da Anfavea (considerando veículos acima de 3,5 toneladas) a marca emplacou 14.246 unidades de janeiro a dezembro, 2.230 unidades a mais que no mesmo período do ano anterior, quando 12.016 caminhões da marca foram licenciados no mercado brasileiro. Se considerados também os veículos menores (de 2,8 e 3,5 toneladas) a marca registrou crescimento de 22% nas vendas, com a comercialização de 20.012 unidades em 2011, contra 16.372 em 2010. “Estamos otimistas de que manteremos essa tendência positiva com a nova geração de caminhões”, sentencia Marco Mazzu, presidente da Iveco Latin America.

Alcides Cavalcanti, diretor de marketing e vendas da montadora, acredita que o “mercado inicialmente sofrerá certa retração, até que as condições de distribuição do novo diesel S-50 e do ARLA32 estejam mais claras para o transportador brasileiro”. Com isso, comenta o executivo, a empresa espera “uma redução nos volumes de vendas no segundo trimestre de 2012, mas aposta na retomada de crescimento da demanda a partir do início do segundo semestre”. Neste cenário, Cavalcanti destaca que as projeções para 2012 “são de redução de 5 a 10% em relação a 2011, o que ainda assim seria um número excepcional para a indústria”. Outra fabricante de caminhões que está comemorando os resultados obtidos em 2011 é a International, que aproveitou o período para “estruturar sua operação no Brasil”, segundo Marcelo Maceira, diretor comercial da companhia. De acordo com os números da Anfavea, a marca emplacou 384 unidades no País. Este resultado, apesar de parecer pequeno, representa um crescimento de 700% nos negócios da companhia, que no ano anterior havia emplacado 48 caminhões. “O segmento de caminhões semipesados teve um expressivo crescimento no mercado, o que reforça a nossa estratégia de trazer o modelo International DuraStar para o Brasil”. De acordo com o executivo, em relação às vendas, a companhia espera chegar a marca de três mil caminhões comercializados até o final de 2012.

5899t
Crescimento das vendas da marca reforça estratégia da empresa de trazer novo modelo para o Brasil, afirma Marcelo Maceira

A Scania, por sua vez, registrou recorde histórico na unidade de São Bernardo do Campo/SP, onde alcançou a produção de 22.300 caminhões entre os meses de janeiro e dezembro. Além disso, no mesmo período, 4.054 unidades foram enviadas ao mercado externo, contra 1.713 veículos embarcados no ano anterior. Porém, a marca registrou baixa de 11,8% no número de licenciamentos, com o emplacamento de 13.484 unidades. Em 2010, a companhia sueca havia licenciado 15.292 caminhões. Roberto Leoncini, diretor-geral da Scania, destaca que esta baixa foi influenciada “pelo posicionamento de mercado da companhia e portfólio”. Ele explica que o fato de a empresa ter registrado um ótimo resultado em 2010 fez com que a concorrência reagisse, oferecendo produtos algumas vezes com menor preço.

“Oferecemos soluções de transporte, não apenas um veículo”, destaca Leoncini. Além disso, ele acrescenta que o fato de ainda não ter tradição no mercado de semipesados – segmento que mais cresceu no ano passado, segundo o balanço da Anfavea – também influenciou no resultado. “Em 2012 vamos fortalecer nossa presença neste mercado. Esperamos ao menos dobrar o número de vendas (424 unidades) do ano passado”, garante.

5912t
Falta de tradição no segmento de caminhões semipesados teve influência no resultado das vendas da marca em 2011, explica Roberto Leoncini

Outro ponto destacado pelo executivo é o fato da força da marca no segmento de mineração, que muitas vezes acaba emplacando o veículo adquirido apenas quando está prestes a revender o caminhão. “Estes clientes fazem operações pesadas em minas, portanto, estes veículos não precisam – necessariamente – estar emplacados. Por isso, não são considerados em balanços de licenciamentos”, justifica.

Para 2012, Leoncini acredita que o potencial de renovação da frota é grande. Por isso, mesmo sem fazer projeções, avalia que o transportador continuará comprando caminhão. “Houve pré-compra no ano passado, mas nada muito grande, porque ninguém vai comprar caminhão para ficar no pátio, por isso acreditamos que os resultados de 2012 devem ser positivos”, finaliza.