Por Daniela Giopato

O período da safra, que geralmente acontece entre os meses de janeiro e maio, é um dos mais esperados para os profissionais ligados ao setor do transporte rodoviário. Os agricultores sonham sempre com uma boa colheita, os transportadores atender com eficiência, os clientes e os motoristas de caminhão realizar várias viagens para incrementar o faturamento. Afinal, a movimentação de carga chega a aumentar até 50% em relação ao período de entressafra, e o frete – por sua vez – em até 30%, conforme estimativa de transportadores que participam deste tipo de transporte. As expectativas para este ano são boas e não falta quem fale em super safra.

Levantamento da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento- realizado em março, sinalizou para um novo recorde apesar dos imprevistos naturais terem sido constantemente noticiados como um dos fatores que poderia interferir negativamente no sucesso da colheita deste ano. A produção de grãos estava estimada em 154,2 milhões de toneladas, 3,4% superior à anterior ou cinco milhões de toneladas produzidas a mais do que na safra passada.

Durante a safra, a transportadora Bergamaschi concentra cem por cento da sua frota no transporte de grãos
Durante a safra, a transportadora Bergamaschi concentra cem por cento da sua frota no transporte de grãos

“As perdas maiores aconteceram na qualidade do produto, no momento da colheita (devido ao excesso de umidade); no transporte (pelo aumento do preço do frete) e na secagem (pelo número maior de horas no secador) e nas despesas de carga e descarga, em razão do aumento de uma ou duas operações a mais. Quanto à influência no número da safra recorde, deve ser pequena ou neutra, porque ao mesmo tempo que perde produtividade em um Estado, se ganha em outro, mantendo a média”, explica Carlos Bestetti, gerente de levantamento e avaliação de safra, da Conab.

Os problemas mais recentes ocasionados pelas adversidades climáticas estão localizados no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Bahia, e são bastante pontuais com intensidade diferente, e poderão afetar a produtividade prevista para estes Estados. Porém, em níveis que estão dentro da variação possível de acontecer, conforme explicação de Bestetti.

Cláudio Adamucho explica que entre os meses de fevereiro e maio a movimentação de carga aumenta cerca de 20% e o frete cresce 30%
Cláudio Adamucho explica que entre os meses de fevereiro e maio a movimentação de carga aumenta cerca de 20% e o frete cresce 30%

Entre os produtos colhidos, o destaque no crescimento percentual ficou por conta do algodão, com previsão que estejam semeadas com a cultura cerca de 1,3 milhões de hectares, incremento de 56,1% em relação à safra anterior e com expectativa de produzir 1,95 milhão de toneladas de pluma. Em aumento de área física, a soja ficou em primeiro lugar com aumento de 566 mil hectares. Este incremento na área, mais o uso de tecnologia, de insumos em quantidade maiores e algumas variáveis de mercado, espera-se que o desempenho desses produtos (em toneladas) seja a soja em 70,3% milhão; milho 55 milhões; arroz 13,1 milhões; feijão 3,7 milhões e algodão em pluma, 1,95 milhão.

Ainda de acordo com Bestetti, o resultado positivo é uma soma de fatores que ano a ano vem influenciando a produção. “A variável com maior dificuldade de controle é o clima, porque o produtor está cada vez mais profissional aderindo ao uso de novas tecnologias e conseguindo gradativamente o acesso à aquisição de maquinário moderno que lhes proporciona o estabelecimento de lavoura com stand adequado”, explica. Ele conclui dizendo que nos últimos 10 anos, enquanto a áreas cultivadas cresceram 10,2 milhões de hectares, a produção aumentou 53,9 milhões de toneladas.

Transportadores acreditam que carreteiros ficam mais competitivos na safra se investirem na manutenção do caminhão e em cursos
Transportadores acreditam que carreteiros ficam mais competitivos na safra se investirem na manutenção do caminhão e em cursos

Cláudio Adamucho, diretor presidente da Transpanorama e do Grupo G10, de Maringá/PR, também acredita em um novo recorde apesar das chuvas terem dificultado o acesso das colheitadeiras às plantações. Como consequência prejudicou e atrasou o transporte da safra durante os meses de fevereiro e março. “Este ano a safra deve crescer cerca de 1,5% em relação ao ano anterior”, estima. Adamucho explica que nestes quatro meses a movimentação de carga aumenta em torno de 20% e o frete cresce 30%.

Gilmar Martins, responsável técnico da transportadora Bergamaschi e Cia. Ltda, de Rondonópolis/MT (empresa filiada à Associação dos Transportadores de Carga do Mato Grosso – ATC ), também concorda que o momento é favorável para todos os profissionais envolvidos no transporte rodoviário de cargas, principalmente pelo fato de existir um aumento de 50% na movimentação de carga. Porém, acredita que não existe ainda equiparação no valor do frete em relação aos custos ocorridos, o que gera uma comissão baixa. “Para as viagens até 500 km (curta) será cobrado R$ 5,50 por km rodado, de 500 a 1000 km (viagem média) R$ 4,80 e para as acima de 1000km (viagem longa) será cobrado R$ 4,00”, exemplifica. De acordo com Martins, no período da safra – que para a empresa começou na segunda quinzena de janeiro e deve se estender até o final de abril – é necessário concentrar cem por cento da frota (350 caminhões) no transporte de grãos.

Diumar Bueno alerta para filas nos portos e fala da importância do carreteiro saber o valor das diárias e do frete
Diumar Bueno alerta para filas nos portos e fala da importância do carreteiro saber o valor das diárias e do frete

“O remanejamento é necessário para poder aproveitar o valor diferenciado de frete”. A partir de maio, quando o frete tende a voltar ao preço normal, 60% da frota é direcionada para o Interior do Estado de São Paulo, para a safra da cana-de-açúcar.

Apesar do cenário e dos números positivos da safra é importante que todos os profissionais, principalmente os motoristas de caminhão, estejam preparados e competitivos para evitar prejuízos. Para Adamucho, no período da entresafra, o carreteiro deve aproveitar para fazer as revisões necessárias no caminhão, verificar os pneus, freio, e se atualizar sobre as novidades que envolvem o setor. Em 1995, o Grupo G10 decidiu montar seu próprio Centro de Treinamento e Qualificação no Transporte (CTQT), em Maringá/PR, para preparar motoristas das transportadoras associadas ao Grupo e também de outras empresas.

Nos meses de pico de safra, a questão da falta de mão de obra qualificada no setor de transporte se agrava, conforme opina Martins, acaba prejudicando o carreteiro que não consegue se destacar neste período de grande demanda. “Profissional competitivo é aquele com conhecimento em direção econômica, direção defensiva, primeiros socorros, relacionamento interpessoal, legislação de trânsito, logística, manutenção básica e cuidados rotineiros com o veículo ou composição de veículos que opera, computador de bordo, rastreamento e documentação do veículo e da carga transportada”, explica.

Diumar Bueno, presidente do Sindicam – Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado do Paraná – e da Fenacam – Federação dos Caminhoneiros Autônomos, também aposta em uma boa safra em 2011 e alerta os motoristas de caminhão quanto a problemas na hora de descarregar. Ele explica que as pontes de acesso ao Porto de Paranaguá, na BR-277, descendo a Serra do Mar, entre Curitiba e Paranaguá, estão em obras e o prazo para a conclusão deve ultrapassar o período da safra.

“Com certeza o carreteiro enfrentará filas e longos períodos de espera para descarregar. Para evitar prejuízos em um momento tão positivo, é essencial que o profissional se informe sobre os locais que irá descarregar e saiba negociar o frete, principalmente o valor da diária, para estar protegido neste tipo de situação”. Os motoristas, conforme explicação de Bueno, estão resguardados pela lei 11.442 de 2007, que regulamenta a profissão e estipula um valor médio para diárias, porém, é importante que os autônomos tenham consciência que são os donos do seu próprio negócio e, portanto, devem se resguardar para aproveitar o momento de maneira positiva e satisfatória.