Foto: Pedro Nicoli
Revista O Carreteiro – O mercado de caminhões fechou os quatro primeiros meses com volume de 25.090 unidades contra 41.345 emplacadas no mesmo período do ano passado. Que cenário você imagina para o setor este ano?
Ricardo Barion – Apesar de estarmos atravessando um momento difícil, estou otimista e acredito que vamos encerrar este ano com 90 mil caminhões emplacados, o que é ainda um bom número.
Revista O Carreteiro – Em sua opinião, estamos em que estágio da crise? Você acredita que o pior já passou?
Ricardo Barion – O primeiro trimestre foi o pior dos últimos 15 anos para a indústria, causado também pela falta de regras claras do Finame para um País que depende de financiamento. Mas acredito que daqui pra frente comece uma ligeira recuperação para chegar aos 90 mil no final do ano.
Revista O Carreteiro – Os caminhões pesados têm sido fortemente mais impactados pela redução nas vendas. Qual sua perspectiva para esse segmento que também é o mais lucrativo para os fabricantes?
Ricardo Barion – A sinalização do mercado é que o segmento de pesados se recupere antes dos demais. Sempre quando se tem uma crise, a tendência de que o setor está começando a melhorar vem dos caminhões pesados. Em abril, por exemplo, a média de diária de emplacamento de veículos deste segmento já melhorou em relação a março.
Revista O Carreteiro – Então você espera uma queda menor no número de emplacamento no segundo trimestre?
Ricardo Barion – Sim, o cenário aponta que o mercado começou a ter uma recuperação. Nossa estimativa é de uma queda em torno de 28% no segundo trimestre, contra 35% em relação a janeiro, fevereiro e março.
Revista O Carreteiro – E como a Iveco está posicionada nesta fase difícil para o mercado de caminhões?
Ricardo Barion – Em nosso caso, a segmentação de caminhões é um pouco diferente porque ela inclui a Daily, que atende o varejo, um segmento que cai menos que os demais. Já os pesados, acima de 31 toneladas, caíram 61%.
Revista O Carreteiro – Tem se falado muito em uma nova fase do mercado, na qual os juros serão maiores que os praticados até o final de 2014. Em sua opinião, o mercado vai demorar para se adequar às novas regras de financiamento?
Ricardo Barion – O governo tinha dado uma série de subsídios, mas hoje não tem mais dinheiro para investir como antes e puxou o freio. Agora, vivemos o compasso de ajuste e acredito que o mercado vai entender que essa é uma nova realidade e se adequar à ela.
Revista O Carreteiro – Certamente essa nova realidade vai impactar na renovação da frota de caminhões, cuja idade média está em torno de 17 anos?
Ricardo Barion – Sem dúvida. Hoje, a idade média da frota é muito alta, mas penso que sempre haverá potencial para renovação.
Revista O Carreteiro – E o motorista autônomo, dono dos caminhões mais antigos, como ele vai sobreviver na nova realidade?
Ricardo Barion – Sempre procuramos alguma maneira de trabalhar com o motorista autônomo, mas a dificuldade dele é conseguir crédito. As instituições financeiras também puxaram o freio e estão esperando para ver como o mercado vai reagir.
Revista O Carreteiro – De que forma a Iveco tenta atender esse transportador?
Ricardo Barion – Mesmo diante de todas essas dificuldades, temos uma taxa de 0,80% ao mês, a mais atrativa do mercado. Parte dessa taxa, assim como outras empresas fazem, é subsidiada pelo Grupo Iveco.
Revista O Carreteiro – Você acredita que haverá uma renovação de frota no Brasil?
Ricardo Barion – Talvez um programa de renovação fosse a maior intervenção que o governo pudesse fazer para essa roda girar. Um autônomo que tem um caminhão de 20 anos, por exemplo, trocaria por outro de 15, e quem tem um modelo com essa idade faria a troca por outro mais novo e assim, passo a passo, iria melhorando a idade média da frota.
Revista O Carreteiro – Você está levando para Iveco uma grande experiência em relação ao mercado de caminhões. A marca tem um portifólio que vai do semileve ao extrapesado e atende a todos os segmentos do transporte. Você vê nichos de mercado que podem ser mais bem explorados pela marca?
Ricardo Barion – Vejo sim. Em termos de portifólio de produtos estamos realmente bem cobertos e atendemos a todos os segmentos. Porém, é necessário trabalhar nichos de mercado mais específicos, como de lixo e construção, entre outros.
Revista O Carreteiro – Você pretende ampliar o trabalho da marca oferecendo mais produtos sob medida?
Ricardo Barion – A minha escola na indústria é de trabalhar com linha de produtos sob medida e precisamos estar mais próximos do cliente para atender suas necessidades em relação a aplicações específicas. Vejo que temos muitas oportunidades de negócio na Iveco, desde os produtos leves até os pesados.
Revista O Carreteiro – De um modo geral, como você vê a atuação da Iveco hoje?
Ricardo Barion – Em termos de produto, a Iveco está pronta e preparada, assim também como em relação à rede de concessionários. A empresa deu foco em completar a linha de produtos e agora é hora de dar o passo seguinte, de montar uma estratégia comercial para crescer no mercado. Porém, esse crescimento tem de ser com sustentabilidade e rentabilidade, um pouquinho por mês.
Revista O Carreteiro – Essa é a hora de começar a mudar?
Ricardo Barion – O momento difícil faz repensar algumas coisas e mesmo nesta fase a Iveco resolveu tomar algumas medidas e arrumar a casa. Hoje, por exemplo, toda a diretoria é nova, assim como infraestrutura e produtos. Tudo isso é parte do aporte que a matriz fez no Brasil para quando passar esse momento voltar a crescer. Esse é o grande objetivo da empresa hoje.
Revista O Carreteiro – Qual a sua expectativa para o próximo ano?
Ricardo Barion – Tenho certeza de que 2016 será melhor, pois algumas das medidas tomadas pelo governo deverão dar mais resultados. Em 2016 volta o crescimento, mas não digo uma retomada, mas será melhor que 2015 e com crescimento do mercado entre 5 e 10% em relação a este ano.