Variadas opções de cargas e rotas, rapidez na contratação do frete, garantias e ausência da taxa de agenciadores são características comuns aos aplicativos de frete existentes do mercado. Apesar das vantagens destacadas, ainda tem motorista contratando carga à moda antiga 

Por: Daniela Giopato

Fotos: Alexandre Andrade

Motoristas autônomos reconhecem que os aplicativos de frete são um jeito prático e rápido para conseguir carga, mas muita gente no trecho ainda tem restrições a esse sistema. Apesar das vantagens e garantias destacadas pelas empresas, donas das plataformas, a prática de se prestar serviços de agenciadores encontra-se em curso, tendo como principal ponto de apoio a insegurança de motoristas, sobretudo em relação ao medo de ter o caminhão roubado por bandidos que se cadastram como empresas.  

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Os aplicativos facilitam a vida do motorista e não preciso pagar nada, mas há anúncio de carga que não existe, comentou Paulo Lazarini

O autônomo Paulo Luiz Lazarine, 43 de idade, de São Domingos das Dores/MG, reconhece que existem vantagens no uso de aplicativos, mas admite que ainda não se sente muito seguro. Conta que quando começou na profissão, há 15 anos, para conseguir a carga utilizava apenas os contatos nas transportadoras e os agenciadores. Lembra que por não existirem outras alternativas tinha de pagar pelos serviços do intermediador. “Outro inconveniente era ter de ir pessoalmente a uma agência e ficar aguardando até aparecer um frete que compensasse”.   

Hoje, quando compara aplicativos com agenciadores, Lazarine afirma que a principal vantagem é poder negociar diretamente com a empresa. “No aplicativo eu não preciso pagar nada. Diferente do agenciador que me cobra R$ 300,00. Tenho alternativa de decidir a carga e combinar o valor sem descontos”, explicou. 

Reconhece que a chegada dos aplicativos facilitou seu dia a dia na estrada, agora ele pode ficar em um local seguro e buscar tranquilamente pelas cargas. Porém, afirma que tem certo receio, porque há casos de carga anunciada que não existe. “E quando acontece esse ou qualquer outro tipo de problema, não temos com quem reclamar. O prejuízo é nosso”, concluiu.

Mesmo assim, acredita ser uma boa alternativa e aconselha os colegas a manterem o cadastro em dia para terem sucesso nas buscas. Destaca o grande problema vivido pelo motorista autônomo, principalmente depois da paralisação no ano passado, a falta de frete e o baixo valor. “Tem muito caminhão e a maioria das transportadoras não está respeitando a tabela com valor mínimo de frete”, finalizou. 

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Cícero Manuel contou que um amigo perdeu o caminhão, pois quando chegou no local para carregar foi surpreendido por ladrões

Contratar frete por meio de aplicativo ou pelo agenciador de carga, não importa diante do fato que o autônomo atravessa uma das piores fases na atividade, opinou o pernambucano de Caruaru, Cícero Manuel Florêncio. Aos 50 anos de idade e 28 na profissão, ele disse que nunca trabalhou como motorista empregado.

Disse que quando começou na profissão era mais fácil conseguir carga, já saia para o destino com frete certo de retorno, mas hoje é necessário acionar 10 transportadoras para conseguir carregar em uma. Cícero conta que os agenciadores faziam parte da rotina. Lembra que quando estava em São Paulo ia até Terminal de Carga Fernão Dias e buscava a melhor oportunidade para carregar.

Destacou que o valor do frete era menor antes e acredita que hoje, por conta da falta de carga e do excesso de caminhões à disposição, os agenciadores cobram o valor que julgarem mais conveniente para eles.    “O agenciador oferece a carga e retira do valor entre 10 e 20%. Se eu não aceitar, tem sempre um colega mais necessitado que acaba aceitando. O fato é que a carga não sobra”, lamentou, destacando que está difícil manter o caminhão e pagar as contas.

Quanto aos aplicativos, reconhece que facilitam a rotina dos motoristas, porém, adverte que existem pontos negativos que exigem cuidados por parte de quem opta em negociar o frete através da Internet. Contou que tem um amigo que perdeu o caminhão após acertar uma carga pelo aplicativo. “Quando ele chegou no local combinado para pegar a carga foi surpreendido por um grupo bandidos”, relatou. 

Para não cair nesse tipo de golpe ele aconselha a desconfiar toda vez que a oferta estiver muito fora do que é praticado pelo mercado. “Uma carga hoje para Recife é R$ 13 mil, se aparecer por R$ 16 mil eu não vou”, garantiu. De acordo com Cícero, os bandidos conseguem se cadastrar como se fossem uma empresa séria e passam a ter acesso a todas as informações do caminhão. “Então, eu uso o aplicativo com muita cautela, mas prefiro o agenciador mesmo recebendo menos”, finalizou.

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Manuel Rildo disse que estelionatários estão se passando por empresas para aplicar golpes nos motoristas, por isso ele tem evitado os aplicativos

Assim como Cícero, seu conterrâneo Manuel Rildo, de Surubim, 49 anos de idade e 28 de profissão, viaja pelo Brasil inteiro e transporta todo tipo de carga. Lembrou que quando iniciou na profissão dependia 100% do trabalho do agenciador e sua comissão vinha da negociação e do tipo de frete. Para ele, essa prática continua existindo e a categoria ainda depende desse profissional para conseguir carga.

Ele reconhece que os aplicativos facilitam a vida de quem vive na estrada, principalmente do autônomo, mas admite que se sente inseguro para usá-los com frequência. “Há pouco mais de um mês, um colega acertou uma carga para o Ceará, mas o adiantamento no valor de R$ 10 mil nunca foi depositado na conta dele.

Manuel disse que a empresa mandou até o comprovante e quando o dono da transportadora soube do fato entrou no circuito e ficou esclarecido que um estelionatário deu o golpe nos dois. “Isso acontece direto, por isso estou evitando usar aplicativos”, contou.  Sendo assim, resta ao carreteiro os agenciadores ou tratar direto com as transportadoras que conhece e também grupos de amigos. 

“A ferramenta é boa e facilita a busca por cargas, mas precisa de ajustes para garantir maior segurança para os usuários”, acentuou, acrescentando que hoje o desafio maior é conseguir uma carga com um valor razoável e concluiu dizendo que depois da greve, quando as empresas passaram a pagar o valor de tabela, muitos motoristas pensaram que seria mais lucrativo ser autônomo e compraram caminhão. Mas agora, sem a fiscalização, o frete caiu e com o excesso de caminhão a situação da categoria piorou. 

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O carreteiro Passival Guabiraba reconhece os aplicativos de frete ajudam o motorista, mas não sente segurança em usá-los com frequência

Aos 64 anos de idade, o veterano Passival Guabiraba, de Tabuleiro do Norte/CE, está há mais de 40 anos de profissão; conhece todo o País e atualmente dirige apenas na rota São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. “Estou pescando qualquer tipo de carga”, brincou ao comentar a difícil situação vivida pela categoria. “Nunca passei por nada parecido com isso”, enfatizou.

Na avaliação de Passival, conseguir carga hoje é uma missão quase impossível. Disse que antes era muito mais fácil com os agenciadores, havia mais opções e variedades e menos caminhões na disputa acima de tudo. “O agenciador cobra taxa, mas é o que gira e funciona” sintetiza. 

Passival disse que também utiliza os aplicativos apenas como alternativa a mais para conseguir frete. Disse que são bons e ajudam, porém, assim como os demais colegas, não se sente seguro para utilizar com frequência. Acha que para melhorar é necessário aumentar a garantia e segurança dessas ferramentas”.

No seu caso, conforme disse, a maioria das cargas que transporta são negociadas com empresas com as quais mantém relacionamento profissional construído ao longo dos anos. “Mas é assim, tenho de esperar. Já estou parado nesse posto há uma semana”, conformou-se. 

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Os irmãos Robervando e Rosivando reconhecem a facilidade dos aplicativos de frete, mas não utiliza porque carregam sempre na mesma empresa

Os irmãos de Limoeiro do Norte/CE, Rosivando Roberto Godin, 37 anos de estrada e 15 de profissão, e Robervando Silva Godin, 32 anos e quatro de estrada, são autônomos e preferem negociar a carga diretamente com a transportadora que conhecem. “O meu primeiro trabalho como caminhoneiro foi em uma empresa, como empregado, era o patrão quem decidia as cargas e me falava para onde eu tinha de levar”, lembra Rosivaldo. 

Quando decidiu comprar seu caminhão e teve de correr atrás das cargas, Rosivando disse que o jeito mais prático que encontrou foi pegar indicação de transportadoras com os colegas e ligar diretamente para elas para verificar se tinham carga disponível. “Até hoje é assim, não utilizo os agenciadores e também não uso aplicativos de frete. Carrego sempre na mesma empresa. Na minha opinião é bem mais seguro”, explicou.

Os irmãos reconhecem que os aplicativos funcionam bem, que facilitam a vida do motorista e têm problemas, mas no caso deles há sempre um lugar certo para carregar e descarregar. “Mas hoje em dia o frete está escasso e temos que ficar mais tempo parados nos postos. Mesmo assim preferimos esperar ao invés de usar outros meios para obter carga”, justificou. “Quando a gente vê lugares com sobra de carga dá para desconfiar e outra insegurança é em relação ao recebimento do saldo do frete”. 

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Tanto os aplicativos quantos os agenciadores têm seus defeitos, disse Gássio Campos, usuário de ambos os meios para conseguir carga

Gássio Campos da Silva, de Surubim/PE, 28 anos de idade e cinco na profissão, trabalha com maior frequência na região Nordeste. Ele disse à reportagem da revista O Carreteiro que utiliza tanto o agenciador tradicional quanto os aplicativos para conseguir carga. Em sua opinião, os dois têm seus defeitos. 

“O lado bom do agenciamento é que a maioria já me conhece e me liga para oferecer frete. Mas não estou livre de vez ou outra tomar um chá de cadeira esperando carga carregar o caminhão. No caso dos aplicativos, a parte positiva está nos valores do frete que, na minha opinião, são melhores”, disse. Porém, Gássio destaca que o problema dos aplicativos está nas “coletas”, situações em que mesmo após ter negociado o frete e a rota, quando chega na empresa acaba descobrindo que antes do destino final da carga terá de passar em outro local. “E aí você percebe que o valor pago não compensou”, explicou. 

Em sua opinião, os aplicativos de frete oferecem segurança e no seu caso,  usa mais os agenciadores por ser mais fácil e ter bons contatos. “A situação não está fácil, mas através dos meus contatos consigo carga mais rápido”, afirmou.  

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Posso pesquisar várias oportunidades de carga, mas já fiquei sem receber o saldo do frete. Insegurança sempre existe, comentou Otávio da Silva Pinto

Há mais de 30 anos de profissão, o autônomo Otávio da Silva Pinto, de Tabuleiro do Norte/CE, 57 de idade, relatou que quando começou sua carreira na profissão a concorrência não era tão alta como acontece hoje. Lembrou que conseguia carga com mais facilidade por meio do contato direto com as empresas que conhecia, mas  que também utilizava os agenciadores de carga para agilizar o trabalho. “Mas hoje, a concorrência aumentou muito e o  motorista autônomo tem de aceitar a carga que aparecer. Do seu ponto de vista, a insegurança sempre existe, pois garante que já ficou sem receber o saldo de frete. 

Sobre os aplicativos de frete, Otávio diz ser um usuário e que considera uma ferramenta bastante útil. “Acho bom, pois posso pesquisar várias oportunidades e escolher a que mais me agrada. Eu já carreguei pelo aplicativo e deu tudo certo, mas também não me sinto seguro, justamente por conta do pagamento do saldo de frete. Sempre tem essa taxa de risco”, concluiu.