Dirigir os novos caminhões de maneira segura e econômica, tirando o do veículo o máximo em termos de desempenho e economia, é uma ação que exige a combinação de conhecimento e treinamento do profissional do volante

Por Diogo Mendes 

O avanço da tecnologia embarcada nos caminhões, principalmente nas opções ‘premium’, está criando uma nova espécie de caça-talentos aos motoristas experientes e qualificados para lidar com novidades tecnológicas na busca de mais eficiência. As principais referências no setor de treinamento de motoristas concordam que o desafio do carreteiro moderno é ter conhecimento e domínio necessário do veículo para saber como utilizá-lo de maneira segura, econômica e respeitando o meio ambiente.

A tarefa não é das mais simples, já que a cada ano a indústria apresenta novas ferramentas para os caminhões se tornarem mais seguros e inteligentes. Exemplo não faltam, como caixa automatizada, freios auxiliares, piloto automático, telemetria e conectividade. Além disso, nem sempre o treinamento dos profissionais do volante acompanha a velocidade das inovações da indústria automotiva.

Essa defasagem, sem a constante atualização e qualificação dos motoristas, pode prejudicar o completo domínio do caminhão e suas funcionalidades por parte do motorista. Por outro lado, as empresas não podem abrir mão de motoristas tidos como ‘inexperientes’, pois segundo a Fundação Dom Cabral, a falta de deste tipo de profissional no segmento do transporte rodoviário de carga foi um dos gargalos logísticos do Brasil em 2017, com déficit em torno de 100 mil condutores.

ENTREGA TÉCNICA

Após o habitual processo de aprendizado, que inclui a obtenção da CNH, cursos complementares e vivência, um dos primeiros contatos do motorista com as tecnologias embarcadas em um caminhão novo é a conhecida entrega técnica. Nada mais é do que o procedimento de entrega do veículo realizado na concessionária ao comprador por profissionais especializados.

Para entender como é feita uma entrega técnica, sua importância no dia a dia do motorista e os diferenciais de quando ele passa pelo procedimento de entrega, O Carreteiro conversou Júnior Mendes,  gerente de vendas da Araguaia, concessionário da Mercedes-Benz em Campinas (SP).  Ele explicou que tudo começa no acompanhamento da venda e tipo de caminhão a ser comercializado.

Na hora da entrega, que tem duração média de 1h30, podendo alcançar até 2h30, dependendo do grau de dificuldade apresentado, os motoristas são instruídos a lidar com a as particularidades e tecnologias que cada modelo traz.

Mendes acrescentou que a entrega técnica é apenas uma introdução, pois é a prática diária que realmente vai nortear o modo de operação dos motoristas, que são monitorados por um período de até 60 dias após a entrega técnica. “Então, a equipe do concessionário retorna à empresa para verificar como os condutores se adaptaram às tecnologias de bordo e, em caso haja necessidade, sugere correções ou aprimoramentos através de acompanhamento.

O gerente frisa que motoristas experientes e novos não podem e não devem ser instruídos da mesma forma. Enquanto o foco nos novos motoristas se dá na usabilidade das ferramentas, nos experientes o trabalho se concentra em retirar vícios de direção ou hábitos adquiridos na operação de caminhões de outras marcas.

O QUE DIZEM OS MOTORISTAS

Geziel Silva Carvalho, 35 anos de idade, natural de Ariquemes/RO, comenta que já participou da entrega técnica do caminhão Volvo FH 540 da empresa onde trabalha, e diz que o procedimento foi de extrema importância para conhecer o que o modelo oferece em termos de tecnologia embarcada e aprender como melhorar a média de consumo de combustível. Acrescenta que os instrutores da fábrica da Volvo já ministraram diversos cursos na empresa para aprimoramento do modo de condução.

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Para Gesiel Carvalho, o procedimento da entrega técnica foi de extrema importância para ele conhecer as tecnologias e recursos do novo caminhão da empresa

O gaúcho de Santo Ângelo, Ademir Medeiros de Matos, 32 anos de vida e experiência com caminhões de diversas marcas, vê com muita importância os procedimentos de entrega técnica nas concessionárias. Porém, ele acredita não ser o suficiente para que se extraia o melhor dos veículos. “A prática nas estradas ainda é o que vai realmente preparar um motorista”, afirmou. A bordo de um DAF XF-510, Ademir diz que o domínio do câmbio automatizado é o diferencial na obtenção de melhores médias.

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Na opinião de Ademir Medeiros, a entrega técnica é importante, porém não é suficiente para que o motorista consiga tirar o melhor aproveitamento do caminhão

Com 26 anos de idade, Marcelo Rodrigues dos Santos, de Rancharia/SP (SP), diz que as estradas e companheiros de profissão são as ferramentas que o auxiliaram no domínio das tecnologias do Scania R que trabalha. Marcelo reitera a importância da entrega técnica, apesar de ver o procedimento como uma introdução ao que verá nas rodovias. Sem cursos complementares, o motorista diz que o domínio veio na ‘raça’. “O retarder de três estágios, por exemplo, é preciso saber usar para aumentar a vida útil dos componentes, e foi uma experiência que eu aprendi por minha conta, na raça”, finaliza.

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Marcelo Rodrigues dos Santos lembra que o domínio do caminhão com o qual trabalha veio raça e cita como exemplo o uso do retarder de três estágios

A bordo de um Volvo VM, o gaúcho de Guaporé/RS, Ronaldo Adriano Neves, 30, garantiu nunca ter participado de cursos, treinamentos ou qualquer entrega técnica. Reconheceu que qualquer uma das três opções enriqueceriam muito o seu currículo, além de torná-lo mais apto a lidar com as tecnologias, porém, não recebeu qualquer apoio na parte de aprimoramento profissional. “Acredito que seja muito importante para a gente conhecer e saber manusear com exatidão as tecnologias, pois quando apreendemos por conta própria acabamos pulando etapas e não sabendo aproveitar todo o potencial do caminhão”, reconheceu.

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Mesmo sem nunca ter participado de qualquer curso ou entrega técnica, ou treinamento, Ronaldo Adriano considera ser de grande importância, pois quando se aprende por conta própria acaba pulando etapas importantes para aproveitar todo o potencial do veículo

Flávio Adão Shumann, 44 anos de idade, de Santiago/RS, acredita que a experiência de passar por uma entrega técnica seja o primeiro passo para entender e fazer bom uso das tecnologias de bordo. Novo de empresa onde trabalha, afirma não ter participado de nenhum curso ou atividade que o fizesse aproveitar todas as funcionalidades do Volvo FH que dirige. “Piloto automático, transmissão automatizada e freios auxiliares foram alguns dos sistemas que tive de aprender na raça, apesar de a empresa ter dado um apanhado geral nos sistemas antes de me passar a responsabilidade”, relembrou Adão.

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O gaúcho Flávio Adão Shumann lembra que aprendeu por conta própria a usar itens como o piloto automático, freios auxiliares e transmissão automatizada

CURSOS ESPECÍFICOS

A imposição do mercado de aprimoramento dos motoristas de tem servido de combustível para que as transportadoras, escolas e sindicatos, entre outros  locais, passassem a oferecer cursos exclusivamente voltados ao desenvolvimento de motoristas.

São cursos complementares e curta duração que abrangem desde dúvidas pontuais a módulos completos. Fabet, Sest Senat, SAE Brasil, sindicatos de motoristas de ministram esses cursos. Em caso de interesse, o profissional pode contatá-los através dos sites.