A falta de investimentos é apontada como a principal responsável pela piora na qualidade das estradas brasileiras. Estima-se que seriam necessários mais de 290 bilhões de reais para que o País possa oferecer infraestrutura viária adequada ao tamanho atual da frota de veículos

Por Daniela Giopato

Um dos principais entraves do setor de transporte rodoviário de carga no Brasil é a infraestrutura viária precária. A falta de investimentos na malha rodoviária vem resultando em sinalização ineficiente, pistas simples com mão dupla de direção e má conservação do asfalto e buracos, entre outras anomalias que aumentam diretamente o custo do transporte com manutenção do caminhão e alto consumo de combustível, sem contar a questão da segurança. Estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que cerca de 30% do orçamento disponível pelo governo federal não é aplicado nas estradas brasileiras. Além disso, entre 2004 e 2016, dos R$ 127,07 bilhões autorizados para infraestrutura rodoviária no Brasil, apenas R$ 89,40 bilhões foram efetivamente desembolsados (70,4%). Em 2017, até outubro, dos R$ 9,4 bilhões autorizados, apenas R$ 5,4 bilhões tinham sido pagos pelo governo federal (57,5%).

Toda essa falta de investimento resultou em uma piora na qualidade das estradas brasileiras em 2017. A 21ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias revelou que dos 105.814 km de rodovias analisadas, 61,8% da extensão tiveram o estado geral considerado regular, ruim ou péssimo; no ano passado foram 58,2%. Este ano houve um acréscimo de 2.555 quilômetros (+2,5%) em relação a 2016. Este ano, 38,2% das rodovias foram consideradas em bom ou ótimo estado, enquanto um ano atrás esse percentual era de 41,8%.

Entre os aspectos de maior deterioração, a sinalização ganhou destaque. Em 2017, o percentual da extensão de rodovias com sinalização ótima ou boa caiu para 40,8%, enquanto no ano passado a pesquisa apontou que 48,3% haviam atingido esse patamar. Neste ano, a maior parte da sinalização (59,2%) foi considerada regular, ruim ou péssima. A qualidade do pavimento também piorou. Metade da extensão analisada (50,0%) apresentou qualidade regular, ruim ou péssima. Já no ano passado esse percentual era de 48,3%.

A precariedade das rodovias reflete diretamente no aumento dos custos operacionais do setor, compromete a segurança viária, aumenta o tempo de viagem e resulta em perda de eficiência logística. Na edição desse ano, a pesquisa revelou um acréscimo médio de 27% nos custos de transporte no Brasil devido às más condições das rodovias. Se considerar os trechos em que o pavimento foi avaliado como péssimo, esse acréscimo é superior a 90%.

De acordo com o Plano CNT de Transporte e Logística, para o Brasil oferecer uma infraestrutura rodoviária adequada à demanda nacional seriam necessários investimentos da ordem de R$ 293,8 bilhões. Apenas para manutenção, restauração e reconstrução dos 82.959 km onde a Pesquisa CNT de Rodovias encontrou trechos desgastados, trincas em malha, remendos, afundamentos, ondulações, buracos ou pavimentos totalmente destruídos seriam necessários R$ 51,5 bilhões.

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