Por Evilazio de Oliveira
Em tempos de crise, em que o transporte rodoviário de cargas se ressente das graves dificuldades econômicas e financeiras que assolam o País, com a acentuada redução nas atividades industriais e por consequência no volume dos fretes – além da violenta elevação nos preços dos insumos –, o carreteiro passou a economizar em tudo o que é possível, a começar pelo combustível até o uso do telefone celular. Todos reconhecem que a crise é grave, por isso as despesas passaram a ser mais controladas durante as viagens. A necessidade de economizar atinge também a família, num engajamento total para que se evite o consumo de supérfluos que vai das compras no supermercado à utilização da energia elétrica e ao carro da família nos passeios de final de semana.
O autônomo José Ananias Quevedo, 66 anos de idade e 49 de profissão, natural de Quaraí/RS vive atualmente em Uruguaiana/RS, onde se desdobra para enfrentar as dificuldades no setor de transportes. Ele é dono de dois caminhões que utilizava em viagens para a Argentina, Chile e Brasil, porém, com a gradativa perda de rentabilidade optou por viagens no território nacional. Hoje ele trabalha como agregado no transporte de arroz, dirigindo sozinho seus dois caminhões.
Enquanto leva um para o silo deixa o outro para ser carregado e assim, alternadamente. Diz que a situação continua ruim e ressalta que o governo está acabando com os autônomos, que não têm mais como sobreviver. Ressalta que 2015 foi um ano muito ruim para todos, incluindo o transporte rodoviário de cargas e prevê que a situação continuará feia em 2016. “O resultado será muita gente abandonando a profissão e procurando emprego numa outra atividade, o que também não está fácil”, diz.
O carreteiro Milton Santiago, o Miltão, natural de Ijuí/RS, tem 62 anos de idade e trabalha com caminhão desde os 18. Ele concorda que a situação no transporte de cargas está muito difícil e acrescenta que para sobrar algum dinheiro ao final de cada mês é preciso economizar muito no trecho. Isso inclui despesas pessoais e também manutenção do caminhão.
Miltão explica que dirige de maneira tranquila, respeitando os limites de velocidade e do peso da carga, procurando ao máximo fazer uma boa média no consumo de combustível. Sempre que possível abastece em postos conhecidos para economizar com estacionamento ou uso dos banheiros. Assim como muitos outros colegas, ele também prepara as próprias refeições, pois além de sair mais barato tem certeza de alimento limpo e saudável. A manutenção do caminhão é feita na empresa. Se economizar bastante com o bruto, ganha uma bonificação do patrão. Economiza também nas despesas pessoais para sobrar mais no final do mês, e assim ele vai levando. “Acredito tudo será mais difícil daqui pra frente, portanto, nada de gastos desnecessários”, afirma.
Outro estradeiro que garante fazer de tudo para economizar é Altemir Batista de Oliveira, 48 anos de idade e 25 anos de profissão. Natural de Lages/SC, ele é dono de uma carreta com cavalo-mecânico fabricado em 1990. Acostumado a viajar no trecho entre o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, ele transporta o que for preciso e o que der. Na ocasião que conversou com a reportagem a revista O Carreteiro, Altemir estava acompanhado da esposa, Sandra, e da neta Rayssa, com três anos e meio de idade.
Conta que já terminou de pagar o caminhão, mas assim que se livrou da dívida precisou fazer o motor. Por isso, acredita que o caminhão apenas empresta dinheiro ao dono para logo em seguida cobrar e, muitas vezes, com juros. Salienta que faz economia em tudo que pode para enfrentar a crise e os tempos difíceis. No entanto, procura manter a mecânica em dia e fazer uma média de consumo adequada, entre 2,30 ou 2,35 km/litro e preparar a própria refeição. Outra medida é pagar manutenção ou outras despesas sempre a vista para conseguir descontos e nos locais mais baratos. “Só dessa maneira é possível continuar na estrada e manter a família”, conclui.
Para o carreteiro Aldo Nereu Klein, as alternativas para economizar no trecho são manter a cabeça fria, trafegar com tranquilidade e sempre adiantar a viagem. Natural de Cerro Largo/RS, tem 49 anos de idade e oito anos na estrada. Antes trabalhou em fábricas e na agricultura e atualmente dirige um caminhão fabricado em 1996 como empregado. Ao ser questionado se está gostando da profissão, ele dispara: – “Ah, deixa muito a desejar, principalmente pelos maus colegas e pelo desprezo que as pessoas têm pelos motoristas de caminhão”, responde.
Klein se ressente também da crise econômica e acredita na necessidade de economizar em tudo. Além de preparar as próprias refeições, dirigir de maneira econômica, parar em locais conhecidos para evitar o pagamento do estacionamento, do banho e onde a lavagem do bruto seja “mais em conta”, ele também economiza na utilização do telefone celular. Para isso ele fala estritamente necessário ou enviando mensagens de texto, tudo com moderação. A “situação está braba”, diz.
O motorista Márcio Adriano Álfaro Bibiano tem 39 anos de idade, 15 de estrada, é natural de Uruguaiana/RS e trabalha ao volante de caminhão ano 97, baú, e viaja para os países integrantes do Mercosul. “Nestes tempos bicudos é preciso economizar em tudo, cortando os supérfluos e pensando duas vezes antes de fazer qualquer despesa”, afirma. Bibiano diz ter cuidado especial na qualidade e no consumo de combustível, item que mais pesa na planilha de custos do caminhão. Para isso procura abastecer em locais conhecidos e manter uma média razoável no consumo. Em relação aos locais de parada, prefere os conhecidos e seguros, onde possa estacionar, cozinhar e tomar banho sem pagar. Isso tudo com a vantagem de encontrar amigos e colegas do trecho. Destaca também que antes de cada viagem – que chega a demorar 10 dias – ele abastece a caixa-cozinha, revisa o bruto e em caso de pequenos reparos, como eventual substituição de alguma lâmpada queimada, ele mesmo faz a troca. “É preciso economizar sempre”, finaliza.