Por Daniela Giopato
A safra brasileira de grãos irá bater mais um recorde, com produção estimada em quase 184 milhões de toneladas, conforme levantamento realizado em março, pela Conab – Companhia de Saneamento Básico. Este número supera em mais de 10% os 166,17 milhões de toneladas colhidos no ano passado. Segundo o técnico de avaliação da safra da Conab, Eledon Oliveira, entre os principais fatores que contribuíram para este crescimento estão o aumento da área de plantio em 4%, condições climáticas e a produtividade do milho e da soja, a qual registrava até março crescimento de 23,6%, – 15,68 milhões de toneladas superior à produção da safra de 2012 – que, segundo Oliveira, sentiu os efeitos das chuvas irregulares e estiagens prolongadas, com destaque nos Estados da região Sul do País e parte do Centro- Oeste.
Apesar de todo cenário que se apresenta favorável, a safra deste ano foi pontuada por diversas dificuldades e reclamações por parte de produtores, transportadores e até motoristas de caminhão, por conta de longas filas de espera para carregar e descarregar e o péssimo estado de conservação de grande parte das estradas. Para o gerente da área de avaliação e levantamento da Conab, Francisco Olavo Batista, a falta de infraestrutura, principalmente na hora de escoar a safra, compromete e dificulta uma boa logística durante todo o processo. “A grande questão é que a produção se concentra no Centro-Norte do País, e para contemplar os mercados nacionais e até mesmo as exportações é preciso percorrer longas distâncias por rodovias sem estrutura para receber um grande número de caminhões”, explica.
De Sorriso/MT – onde se concentra um número razoável de produtores – até o porto de Santos/SP, conforme detalha Batista, são 2.300 km realizados por estradas esburacadas e estreitas, entre outros problemas. “O mais adequado para atender essa demanda seriam os modais ferroviário e marítimo, porém ainda são pouco explorados no Brasil”. Assim como em anos anteriores, a principal dificuldade se concentra no momento do escoamento da safra, com filas e longas esperas que resultam em multas e aumento de custos. “Durante a safra, visitei o porto de Santos e na ocasião havia cerca de 80 navios parados esperando para carregar. Este cenário gera multas que podem chegar a R$ 71 mil por dia e quem paga essa conta é o produtor, mas toda a cadeia envolvida sente os reflexos”, explica.
Claudio Adamucho, diretor-presidente do grupo G10 Maringá/PR – formado em fevereiro de 2000 e atualmente com cinco transportadoras ativas e ligadas ao Agronegócio – acredita que as dificuldades enfrentadas durante os transbordos, tanto nos portos quanto nas ferrovias, contribuíram para que o caminhão passasse a atuar como armazéns. “Muito se falou em falta de caminhão, mas não acredito. Na verdade os veículos ficam muitos dias parados nos portos e congestionando as rodovias próximas aos portos. Falta mesmo é agilidade no escoamento da safra e mais infraestrutura nas estradas”, opina o empresário.
As estradas estão subdimensionadas e muitas delas precisando de duplicação, conforme explica Adamucho, e que uma viagem que deveria ser realizada em cinco horas demora entre 15 e 20. “A BR-163, em Cuiabá/MT, sentido Norte, por exemplo, mantém praticamente a mesma estrutura de 20 anos atrás, quando a região produzia no máximo dois milhões de toneladas. Hoje são 40 milhões de toneladas (crescimento de 2000%) e nada foi feito para acompanhar esse progresso”, compara. Em sua opinião, se não fossem os problemas enfrentados no escoamento, o caminhão poderia produzir 50% a mais.
No período de safra a movimentação de carga aumenta entre 30 e 40% em relação à entressafra e o fluxo de horários estabelecidos pelas empresas para sete dias da semana e 24 horas por dia. Um motorista que chega na sexta-feira não precisa esperar até segunda-feira para descarregar. O mesmo acontece com o frete. “Costumo dizer que são três meses para ganhar dinheiro ( 20%), 3 meses para perder (-10%) e 6 meses normal ( 7,8%). Por isso é importante se preparar para aproveitar ao máximo o período de movimentação da safra”, acrescenta. A safra na região Centro-Oeste é colhida entre fevereiro e março e no Paraná, entre março e abril; e no Nordeste em abril e maio. Em junho tem a “safrinha” de inverno (trigo no Sul e milho nas demais regiões). Então pode-se dizer que o escoamento é realizado em 10 meses entre fevereiro e novembro. Para aproveitar os “bons frutos da safra”, Adamucho afirma que treina seus motoristas e faz a manutenção de todos os caminhões durante os meses de natal e ano novo. “Assim, todos ficam preparados, descansados e dispostos a aguentar o ritmo pesado da safra. Porém, o Brasil tem que focar em infraestrutura dos portos e rodovias para tornar os resultados ainda mais positivos”, afirma.
Na opinião de Francisco Olavo Batista, da Conab, o governo brasileiro está empenhado em mudar a situação, já que o agronegócio se tornou um setor de relevante importância para o País. “São necessárias mais alternativas para escoamento, principalmente no porto de Paranaguá”, explica. Já Adamucho, acredita que o País será forçado a melhorar para poder crescer o PIB, e não poderá continuar defasado em relação à infraestrutura. “O governo está se mexendo, mas os resultados devem começar a aparecer só nos próximos três anos. O Brasil tem bastante hectares de terra para crescer, e em 2014 a estimativa é de novos recordes. É necessário mudanças para que todos possam se beneficiar”, destacou o empresário.