Por Daniela Giopato

Comprar um caminhão OK ou trocá-lo por outro mais novo são sonhos antigos de muitos carreteiros. Durante anos, conviveram sem alternativas para realizá-los, porque os modelos de financiamento, com juros altos, não correspondiam à realidade desse profissional. A falta de linhas de crédito do tamanho do bolso do autônomo, principalmente, contribuiu para o envelhecimento da frota, que atualmente conta com uma população em torno de 300 mil caminhões com idade média em torno de 18 anos.

Hoje, há um número maior de opções de financiamento, sendo alguns até mais adequados ao transportador de baixa renda. São aproximadamente 90 agentes financeiros aptos a trabalhar com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O Banco Mercedes-Benz, por exemplo, oferece o Leasing, CDC, Finame e Procaminhoneiro, modalidade criada com o foco no autônomo . “Todas essas operações financeiras possuem características que podem atender às necessidades dos autônomos com flexibilidade. O produto mais indicado é o Procaminhoneiro, lançado pelo BNDES e Governo”, explica Selma Becker, gerente de produtos e relacionamento do Banco Mercedes-Benz. O objetivo desse modelo, segundo Selma, é a renovação da frota, através de recursos subsidiados pelo governo, e atender o transportador com maior dificuldade de crédito, que é o autônomo, já que o seu veículo é a forma de ganho para pagamento do financiamento.

Apesar deste leque de opções, muitos motoristas tem opinião de que as dificuldades de conseguir comprar ou trocar de caminhão ainda existem. O fato de não terem uma renda fixa, mais as exigências constantes no cadastro são os itens que mais contribuem para a não aprovação do crédito. Os bancos normalmente solicitam ficha cadastral, RG, CPF, comprovante de residência, de renda, inscrição no RNTC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas), comprovante a que categoria pertence, autônomo de carga e outras informações, quando necessárias para análise de crédito. Na visão de Selma, os principais fatores são os altos valores de pedágios, péssimas condições das estradas, e baixo valor do frete, que geram a incapacidade de pagamento de um financiamento.

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Para conseguir melhores fretes e ter menos custo com manutenção, João Olímpio acredita que a melhor opção é trocar o caminhão por um modelo mais novo

João Olimpío de Aquino, 54 de idade e 30 de volante, de Caetés/ PE, viaja para o Norte e Nordeste com todos os tipos de carga e está há três anos com um MB 1113 ano 78 e quer trocá-lo por outro veículo mais novo, apesar de nem sempre ter pensado desta maneira. Há um tempo atrás, João fez o caminho inverso, pois começou com um caminhão ano 1997, vendeu e comprou um mais antigo, ano 1988, e depois passou para um 1978. “Os fretes baixos e diesel alto me fizeram regredir. Mas agora vou tentar trocar por um modelo ano 2000 ou então mais novo”, disse. Um dos motivos que o levam a querer trocar de caminhão é a discriminação que as transportadoras fazem com os veículos mais velhos. “Acredito que posso conseguir melhores fretes e ter menos custo com manutenção com um modelo mais novo”, conclui.

Em simulação feita pelo Banco Mercedes-Benz, baseado em um certo modelo de caminhão ano 2000, cujo valor é R$ 105.545,00 (tabela Fipe), conforme é o objetivo de João, ele pagaria 48 prestações de R$ 1.663,00 (mais variação trimestral da TJLP). Isso, caso ele desse uma entrada de R$ 44 mil, que corresponde ao valor de um caminhão do mesmo modelo do que ele tem hoje, mas 11 anos mais novo.

Porém, o faturamento bruto mensal de João é de aproximadamente seis mil reais e tirando as despesas com pneu, diesel e pedágio, a renda líquida dele é de cerca de R$ 2 mil reais. Isto é, um valor baixo para assumir a dívida e comprar o caminhão desejado. “Vou vender o meu caminhão, dar uma entrada e financiar o restante. A decisão eu já tomei, agora só falta conseguir o crédito”, brinca o carreteiro.

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Claudemir Erran afirma que começar o processo de financiamento é fácil, porém sempre acontece alguma coisa que impede a aprovação do crédito

Claudemir Erran, 43 anos, 22 de profissão, de São Paulo/SP, viaja por todo o Brasil carregando todos os tipos de carga. E assim como o colega, há dois anos trocou um MB 1933, ano 89, por um 1513, ano 1986. “Mudei porque gastava mais com a carreta e o frete não compensava. Apenas carregava mais peso. Estou me organizando, pois pretendo fazer negócio com qualquer modelo trucado ano 2000.

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Apesar de saber que é um passo grande, Wilson José vai trocar o seu caminhão modelo 82 por um ano 93 ou 94

A idéia inicial de Claudemir é financiar 100% para deixar o antigo bruto para o seu filho, porém acredita que essa opção é muito difícil de conseguir. “Dependendo da parcela fica muito acima do que posso pagar. O meu faturamento bruto varia, mas a média é de cerca de R$ 6 mil, porém, com os descontos – que somam 60% – não sobra quase nada. Consigo até começar o processo, mas acontece alguma coisa no meio do caminho e o crédito não é aprovado. E olha que meu nome está limpo na praça”, finaliza. Caso Claudemir fosse comprar um modelo 2004 no valor de R$ 120.500,00 e pudesse dar de entrada aproximadamente R$ 73 mil, pelo Procaminhoneiro ele assumiria 48 parcelas de R$ 1.277,00 (mais variação trimestral da TJLP).

Há seis anos com um Scania 112, ano 82, Wilson José dos Santos, 50 anos de idade, 28 de profissão, de Barra Mansa/ RJ, pensa em trocar o caminhão até o final de 2006. “Vou dar o meu de entrada e tentar pegar o mesmo modelo um pouco mais novo, talvez ano 93 ou 94. O objetivo principal é reduzir custos com a manutenção e conseguir mais fretes. Sei que é um passo grande, porque o autônomo nunca sabe ao certo quando vai conseguir faturar realmente no final do mês. Como eu digo, só Deus para saber. Mas, vou arriscar”, planeja.

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O financiamento do MB 1941, ano 91, saiu rápido para Márcio Oliveira que deu de entrada o valor da casa que construiu na época em que trabalhava como empregado

Alguns carreteiros contam que por terem um bom valor para dar de entrada ou bens que pudessem ser classificados como garantia caso não conseguissem pagar as parcelas, não tiveram dificuldades em conseguir o financiamento. É o caso de Márcio Oliveira Nunes, 32 anos, 14 de profissão, do Rio de Janeiro, que transporta carga geral por todo o Brasil. Durante 13 anos, ele trabalhou como empregado e construiu uma casa, que vendeu para dar de entrada no caminhão MB 1941, ano 91, e realizar o sonho de trabalhar como autônomo. Parcelou o saldo em 24 parcelas. “O processo foi rápido. Mas também dei uma boa quantia de entrada e financiei apenas dois anos em parcelas de R$ 2.200”, conta.

Procaminhoneiro (número de operações e
valor contratado) – em R$ mil

Mês Procaminhoneiro
caminhão novo
Procaminhoneiro
caminhão usado
Nº de
Operações
Valor
contratado
Nº de
Operações
Valor
contratado
Julho 5 736,6 0 0,0
Agosto 10 1.277,9 3 252,6
Setembro 17 1.732,2 2 187,7
Outubro* 37 4.495,4 10 880,4
Total Geral 69 8.240,1 15 1.320,7

* preliminar (até 26/10) Bancos que operam: comerciais (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Santander etc), bancos de leasing e bancos criados pelas próprias montadoras

Para conseguir honrar a dívida ele tem de trabalhar muito, pois 35% do faturamento bruto vão para os gastos como manutenção do caminhão, pneus e etc. “Apesar de não ter seguro instalei um rastreador, que além de inibir o ladrão atende a exigência das transportadoras”, diz o autônomo, que mora de aluguel mas já pensa em trocar seu caminhão por outro mais novo dentro de dois anos, quando terminar o financiamento. “Deste jeito vou ficar sempre com um caminhão novo”, planeja.

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José Eduardo conta que deu uma boa entrada e conseguiu rápido a aprovação do banco. Na opinião dele quem não tem nada enfrenta muita burocracia.

Com 25 anos de idade e cinco de profissão, José Eduardo de Queiroz, de Camburiu/MG, afirma que não teve dificuldades em comprar o caminhão, afinal os pais moram em casa própria, já tem um caminhão e a mãe um terreno. Com todas essas vantagens não foi problema conseguir a aprovação de um banco para financiar um modelo ano 1996. “Demos uma boa entrada e financiamos apenas R$ 20 mil. Assim qualquer banco aprova. Se eu não tivesse todos esses benefícios com certeza não estaria com o caminhão. Quem não tem nada para dar em troca enfrenta muita burocracia”, conclui.