Por João Geraldo

Localizado nas margens da BR 163, a cerca de 350 quilômetros distante de Cuiabá/MT, Lucas do Rio Verde é responsável por 1% de toda a produção brasileira de grãos. O município é considerado o quinto maior produtor de soja do Estado do Mato Grosso e se desponta também como um grande produtor de milho e algodão, além de outras culturas em menor escala como feijão, arroz e sorgo.

O desenvolvimento agropecuário também se incorporou à economia local, com a suinocultura e bovinocultura, além do desenvolvimento da avicultura, principalmente pela instalação de uma unidade da Sadia no município. Empresas esmagadoras de grãos e produtoras de biodiesel também montaram suas estruturas na cidade. Da Fiagril Agromercantil, por exemplo, empresa que produz biodiesel a partir do óleo de soja, algodão e de sebo, saem diariamente de nove a 10 bitrens e outros caminhões menores carregados do produto, num total de 400 mil metros cúbicos/dia, sendo 99% de óleo de soja. Isso tudo tem ajudado a alavancar a economia local e transformou Lucas do Rio Verde – em apenas 20 anos de emancipação – em um grande gerador de cargas rodoviárias e, por consequência, local de grande concentração de bitrens graneleiros.

A abertura de novas casas Scania faz parte de investimento da montadora em expansão e melhorias para prestar melhor atendimento aos clientes, diz Roberto Leoncini
A abertura de novas casas Scania faz parte de investimento da montadora em expansão e melhorias para prestar melhor atendimento aos clientes, diz Roberto Leoncini

É na cidade onde tudo tem prosperado que os empresários do setor de caminhões também procuram expandir seus negócios. Caso da Rota Oeste, concessionária Scania com matriz em Cuiabá, que inaugurou uma casa às margens da BR 163, no inicio de junho. O grupo, que já tinha filiais em Rondonópolis e Sinop, já prepara também a inauguração de outra unidade, em Barra do Garça, para o próximo ano. A concessionária de Lucas do Rio Verde é a 101ª da Rede Scania, das quais 51 já estão certificadas com o “Padrão Mundial de Atendimento”, inclusive as do Grupo Rota Oeste. Roberto Leoncini, diretor de vendas de veículos da Scania no Brasil, acrescenta que a expansão faz parte de um investimento de 50 milhões de reais, nos últimos cinco anos, em melhorias para estar mais próximo do cliente e também em expansão da rede.

Nova concessionária Scania na cidade de Lucas do Rio Verde mostra potencial da região para o mercado de caminhões pesados
Nova concessionária Scania na cidade de Lucas do Rio Verde mostra potencial da região para o mercado de caminhões pesados

A nova unidade conta com uma área total de cinco mil metros quadrados, sendo 1.500 de área construída, e como nas demais casas do grupo Rota Oeste, o motorista pode acompanhar o serviço de motor e câmbio que é feito em seu caminhão. Tem capacidade para atender 20 caminhões por dia e seu estoque de peças conta com 1.200 diferentes itens.

Janilson dos Santos de Almeida, gerente geral de vendas e serviços, explica que a meta da nova concessionária é atender os pequenos frotistas da região e destaca que 90% das composições na região são bitrens e com idade média de oito anos. Conta que os bitrens estão desaparecendo, por conta da legislação que restringe a circulação. Garante que a marca Scania tem mais de 27% de participação na região, e que o modelo G 4X2, 420cv é, no momento, o carro-chefe de vendas no grupo.

Vilson é um dos imigrantes que veio do Sul do País e se estabeleceu no comércio e transporte de combustíveis para fazendas
Vilson é um dos imigrantes que veio do Sul do País e se estabeleceu no comércio e transporte de combustíveis para fazendas

Em relação aos caminhões mais completos, como a versão High Line, Wilson da Cunha Graça de Araújo, gerente geral de vendas da unidade, adianta que tem saída na região de Lucas, mas o comprador é o cliente de menor porte, que muitas vezes quer um “carro” de luxo. Destaca que na região tem muito pouco autônomo, porque acima de três caminhões já se monta uma empresa de transportes e boa parte continua dirigir um dos veículos.

Araújo cita também que a caixa automatizada ainda não tem grande saída na região e lembra que durante o ano de 2008 o grupo vendeu apenas seis unidades. “É um ciclo, assim como o motor eletrônico e o freio a disco, depois os transportadores vão assimilando as novas tecnologias. Também tem isso, se o motorista é bom o câmbio automatizado não faz média melhor que ele”, justifica. Em relação às vendas gerais de novos, a expectativa do grupo para este ano é de comercializar 390 unidades, mais do que as 371 do ano passado.

Diariamente saem da Fiagril de nove a 10 bitrens e outros caminhões menores carregados de biodiesel, num total de 400 mil metros cúbicos/dia
Diariamente saem da Fiagril de nove a 10 bitrens e outros caminhões menores carregados de biodiesel, num total de 400 mil metros cúbicos/dia

Um dos clientes da casa é Vilson G. Kirst, catarinense de Pinheirinho do Vale (divisa de Santa Catarina com Rio Grande do Sul), que chegou à região junto de outros quatro irmãos e três caminhões para trabalhar na safra de soja de 1986. Lembra que quando não havia carga de grãos puxava calcário para as fazendas e madeira para Cuiabá. Em 1993 montou a VK Transportes e três anos depois arrendou um posto de serviço, o qual comprou agora em 2005, quando a rede resolveu vender.

Hoje, Vilson tem 12 bitrens tanque que carregam em Paulínia/SP e armazena o combustível em tanques aéreos – ao lado do posto – enquanto os caminhões médios fazem entregas de combustível em 350 fazendas da região. Está neste tipo de atividade desde o ano 2000, e sua empresa detém a maior fatia da distribuição de diesel em rurais, atingindo a marca de dois milhões de litros/mês, na época da safra. Seu posto de serviço, Ciriema, com bandeira BR, vende um milhão de litros de diesel em períodos da safra.

Para João Mendonça, da cooperativa de transportadores, o alto valor do diesel e o baixo valor do frete têm desgastado os motoristas
Para João Mendonça, da cooperativa de transportadores, o alto valor do diesel e o baixo valor do frete têm desgastado os motoristas

Uma de suas queixas é em relação ao ICMS de 17% que incide sobre o diesel no Estado do Mato Grosso e diz que vale mais a pena abastecer em Goiás, onde a alíquota é de 12%. Acrescenta que as rodovias “estão um caos”, caso da BR 163 que corta Lucas do Rio Verde, uma estrada de pista simples, sem acostamento e com o asfalto apresentando deficiências. Chora ao lembrar de um filho que sofreu acidente fatal na rodovia.

Tem boas expectativas em relação aos negócios e garante que sua empresa vai crescer, pois vai abrir mais um posto de serviço e expandir o transporte de combustível. Diz que atualmente o município de Lucas do Rio Verde tem 600 fazendas de algodão, milho e soja e que a cidade está em crescimento. Vilson explica que em 2008 houve um aumento entre 18 e 20% na população, devido à produção local e às oportunidades de negócio. Seus motoristas recebem cerca de R$ 3 mil por mês.

Safrinha do milho, no início de junho, movimenta colheitadeiras e bitrens 24 horas por dia para colher e transportar rapidamente os grãos
Safrinha do milho, no início de junho, movimenta colheitadeiras e bitrens 24 horas por dia para colher e transportar rapidamente os grãos

Ainda em relação ao valor do diesel, outra pessoa que também faz uma observação é o gerente geral da Cootransverde – Cooperativa de Transporte de Lucas do Rio Verde, João Mendonça de Souza. Ele diz que a região gera muita carga, mas o baixo preço do frete contra o alto preço do diesel desgastam o motorista. A cooperativa tem atualmente 65 associados e aproximadamente 130 caminhões caçambas e carretas graneleiras.

A cooperativa negocia o frete direto com os embarcadores, sendo o grão a melhor carga, principalmente para o transporte para fora do Estado. “A grande vantagem da cooperativa é a negociação do frete, pois o valor sai em torno de 15 a 18% a acima de um valor que o motorista poderia negociar por conta própria”, explica. A maior parte dos grãos segue direto para o porto de Paranaguá/PR. Porém, Mendonça destaca que as empresas embarcadoras não estão aceitando mais carregar caminhões velhos e que a idade media da frota dos associados é elevada, embora o agregado tenha respaldo da cooperativa para financiamento.

Quase toda a safra de Lucas do Rio Verde é transportada por caminhões de empresas, mesmo com a chegada de muitos caminhões de outras regiões como do Paraná, São Paulo e de Estados do Nordeste, para a colheita. Mendonça acrescenta que a frota na cidade está em crescimento rápido, mas destaca que são de fora, porque o município tem apenas dois mil caminhões emplacados. A Fazenda Vanguarda do Brasil, por exemplo, no município vizinho de Nova Mutum, é uma das grandes produtoras de grãos da região, com 141 mil hectares de soja, 45 mil de milho e 20,5 mil hectares de plantação de algodão. A frota da empresa, de186 caminhões de quatro marcas, sendo a maioria veículos pesados, consegue transportar apenas 20% da produção total. O restante é contratado, mas o gerente do departamento de produção, Getúlio Ferreira, adianta que não contrata caminhões fabricados antes de 1996. E garante que não há perda de grãos na estrada porque veda as caixas de carga. Um dos motoristas que está há anos no transporte de grãos é José Rodrigues Batista, o Zé Mutuca, natural de Alto do Garça. Ele não é dono do caminhão, mas admite que gosta muito do que faz e na ocasião que o encontramos estava carregando pronto para transportar a primeira carga de milho da safrinha.