Por Daniela Giopato

Se por um lado empresas ligadas ao transporte rodoviário de cargas consideram o sistema de rastreamento e monitoramento um grande aliado para a redução dos custos – uma vez que passam a ter o controle da frota e podem pré-determinar rotas, locais de paradas,  roteger o bem material e ainda intervir a quilômetros de distância -, os carreteiros  creditam que ter o equipamento instalado no caminhão é sinônimo de tranqüilidade. Isso porque ser vigiado durante todo o percurso da viagem passou a ser bem visto por aqueles que antes se sentiam sozinhos na estrada e sem um lugar certo para recorrer em caso de alguma situação de emergência ou até mesmo de perigo.

“Com o rastreador no caminhão me sinto protegido, pois mantenho contato com a central através de mensagens, então sei que se precisar de qualquer coisa, seja em uma situação de perigo ou um problema mecânico, alguém irá me ajudar”, afirma Rogério Marcial Behnck, 41 anos, 18 de estrada, que foi submetido a treinamento para operar o sistema, assim que ingressou na empresa onde trabalha atualmente. Apesar de alguns colegas de profissão ainda torcerem o nariz para a tecnologia, Rogério acredita que o sistema só trás vantagens. “Não consigo enxergar nenhum ponto negativo. Quem critica é porque não sabe usar, e ao invés de aprender prefere dizer que é bobagem”, opina.

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Rogério Marcial pensa que o sistema de rastreamento só traz vantagens e diz que se sente protegido, porque pode manter contato com a central a qualquer momento

Para Rogério, as empresas estão corretas em exigir o equipamento, afinal caminhão não é uma coisa barata e perder uma carga significa ter prejuízo alto. E, no caso dele, além da preocupação com o negócio, a transportadora é zelosa também com o funcionário. “Se eu estiver viajando e alguém da minha família precisar de socorro, a empresa dá todo o auxílio”, explica.

Silvio Vinícios, 33 anos de idade e 10 de profissão, de Monte Negro/RS, tem a opinião de que se a tecnologia existe não adianta fugir dela, o jeito é aceitar e se adaptar. Além disso, para ele o sistema é fácil de operar. “Às vezes me pergunto por que ainda há um grupo de motoristas que relutam para ter o rastreador em um País onde o número de roubos de cargas só aumenta. Com o equipamento não me sinto sozinho e tenho a certeza de que se quebrar o caminhão basta enviar a mensagem que a central entra em contato com a assistência técnica da montadora”, explica.

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Se a tecnologia existe não adianta fugir dela, o jeito é aceitar e se adaptar, defende Silvio Vinícios, que diz não se sentir sozinho na estrada graças ao equipamento

Outro ponto positivo abordado por Silvio é a preservação do bem estar físico do motorista. “Muitos colegas se aventuram em dirigir horas sem parar e acabam submetendo a usar recursos que comprometem a saúde. Com o rastreador somos obrigados a descansar pelo menos sete horas. E, em caso de algum imprevisto temos de explicar a situação e esperar liberação para seguir mais adiante. Se a mensagem não for enviada ocorre o bloqueio e ai dá trabalho para retornar”, explica.

Cláudio dos Santos, 37 anos, 12 de estrada, de Uruguaiana/RS, faz a rota São Paulo e Buenos Aires, também tem opinião de que é importante e confortável ir para a estrada com a rota pré-definida, inclusive o horário de parada. “É muito bom ter um tempo para descansar, pois não nos arriscamos em longas jornadas e, conseqüentemente, evitamos acidentes”, disse. Assim como os outros colegas, ele acredita que devido ao aumento do número de roubos de caminhão e de carga é imprescindível para a segurança dos motoristas ter rastreador no caminhão e ser monitorado durante todo o percurso. “Para qualquer tipo de problema que houver durante a viagem basta mandar uma mensagem para a central que eles providenciam o socorro. Em outros tempos eu teria de desligar o caminhão e ir atrás de socorro, coisa muito arriscada”, afirma. Quando perguntado se achava fácil operar o sistema, Cláudio disse que nem por treinamento passou. “Aprendi com os outros colegas. Quem nunca teve contato com a tecnologia ou tem medo dela pensa que é difícil, mas é muito fácil”, brinca.

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Diante dos roubos de caminhões e cargas, Cláudio dos Santos acha imprescindível para a segurança do carreteiro ter o rastreador no caminhão

Fabio Júnior Baretta, 27 anos e dois de profissão, afirma que também não precisou de treinamento para conseguir operar o rastreador. Aprendeu em conversas com os colegas que já utilizavam o equipamento. “É um sistema fácil e que trás muitas vantagens para nós, como exemplo temos a rota e o horário determinados e também por sermos vigiados 24 horas por dia. Acabou a história do motorista estar sozinho na estrada, agora temos pessoas que nos olham e que estão prontas para nos auxiliar a qualquer hora que precisarmos”, analisa.

Toda essa estrutura preparada para cada viagem, na opinião de Fábio, faz com que o motorista dirija com muito mais responsabilidade e, conseqüentemente, reduza as situações que atrasam e prejudicam uma viagem. As mensagens que ele envia com maior freqüência são de início de viagem, parada para almoço ou descanso, e pernoite. “Confesso que às vezes faço uma parada e esqueço de avisar, ai quando volto para o caminhão já tem uma mensagem me aguardando. Mas, hoje, especificamente, vou carregar para um grande atacadista que não tolera este tipo de coisa. Se esquecer de avisar vão bloquear meu caminhão. Dessa vez vou ter que estar muito mais atento”, acrescenta.

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Na opinião de Fábio Baretta, o rastreamento é um sistema fácil de operar que levou os motoristas a dirigirem com mais responsabilidade

Diferente dos outros colegas, José Carlos Celestino, 53 anos e 27 de estrada, não tem rota definida, pára aonde e no horário que deseja e se o caminhão apresentar problema ele aciona o seguro. O caso dele é que o proprietário do veículo optou em colocar apenas um localizador. “Como o principal medo de todo motorista e empresário é o roubo, esse equipamento também me dá segurança, pois sei que durante o percurso alguém me vigia e sabe aonde estou e para onde vou. Qualquer situação diferente o patrão me liga. Para falar a verdade, sei apenas o que tenho que fazer em alguma situação, mas nem imagino onde fica o localizador”, conta.

Durante os oito anos que trabalhou como autônomo, Rubem Persson, de Ijui/RS, viajou sem rastreador. “Desde que comecei a trabalhar como empregado, há 10 anos, sou monitorado toda vez que vou para a estrada. Quando comparo esses dois períodos percebo o quanto é mais seguro viajar com o equipamento. No começo achei que não ia saber usar, mas, quando fiz o curso, percebi que a operação era bem simples. Sem o sistema o motorista rodava e parava aonde queria e na hora que achava conveniente. Agora todo o roteiro é definido com antecedência. Acho melhor, pois trás segurança para o motorista e para a estrada”, comenta.

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Rubem Persson viajou oito anos sem rastreador e diz que quando compara a maneira como trabalha hoje, percebe o quanto é mais seguro

Para Rubem, a única coisa que poderia melhorar é o sistema de comunicação de alguns equipamentos. “Enviar mensagem via teclado, na minha opinião é muito mais seguro do que ter que fazer uma ligação para a central. Em certos locais o celular não funciona e se o caminhão quebrar a solução será trancar as portas e ir atrás de socorro. Mas seja qual for a tecnologia utilizada é importante tê-la, pois, além de inibir a ação dos ladrões, ajuda o carreteiro a conseguir melhores fretes e a se manter mais competitivo”, reconhece. O carreteiro acredita que o principal motivo que ainda impede alguns motoristas de terem o rastreador é o fato de acreditarem que se consegue tudo com experiência.

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O autônomo Valério Harter não tem rastreador no caminhão, mas reconhece que as empresas estão exigindo cada vez mais o equipamento para contratar o frete

Prova disso é o autônomo Valério Harter, 60 anos e 34 de profissão, de Pelotas/RS, que afirma conseguir frete ainda por conta do tempo de estrada. “O circulo está se fechando e as empresas pressionando e apertando cada vez mais. Já perdi carga por não ter rastreador. Mas, sinceramente, não penso em colocar um agora”, disse. Valério diz saber que é importante ter rastreador no caminhão, afinal fica mais fácil conseguir carga, além de ter os locais certos para carregar. Mas por enquanto não pretende fazer este investimento e segue em frente contando com seus anos de experiência. “Na verdade somos um pouco acomodados, e enquanto a coisa não bate diretamente no bolso vamos seguindo em frente”, justifica.

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Devido a carga que transporta, Juliano da Luz ainda não utiliza monitoramento, mas sabe o quanto esta tecnologia é importante hoje em dia

Quanto a operação do aparelho, Valério afirma que tudo que é novo dá um pouco de trabalho no começo, mas depois todos se acostumam. “O meu filho colocou o equipamento no caminhão e me mostrou como funciona, pelo que percebi é muito simples, bem parecido com o celular, e acho que não teria problemas”, aposta.

Outro que também sabe da importância de ter o rastreador, mas ainda não utiliza é Juliano da Luz, 37 anos e 16 de estrada, de Carazinho/RS. A justificativa é não ter a necessidade por conta do tipo de carga que costuma carregar: leite. “Tenho consciência da importância, tanto na questão de segurança quanto no fato de conseguir fretes melhores, pois existem muitas empresas que não liberam carga se você não tiver o equipamento. É a tendência do futuro, e não vai demorar muito e todos que trabalham com transporte terão que utilizar. Afinal, se tem dois caminhões, um com e outro sem rastreador, é claro que vão achar mais fácil roubar o que não é monitorado”, opina. Juliano disse que está se programando para trocar de caminhão e ai sim vai equipar o novo veículo com o sistema.